XXII

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Meus olhos encararam os seus e eu senti o tremor de seu pulso em minha mão. Sentia o sangue preso em suas veias, sem poder correr, seguir o seu caminho. Sentia os ossos do seu pulso se arranhando em cada pedacinho quebrado que eu havia feito. Mexia minhas mãos, apertando ainda mais.

Fraco.

Sua boca formava um O, seus lábios brancos e tremendo. Sua feição assustada olhando para minha.

Meus olhos não se desviavam dos seus, queria descobrir todos os seus segredos, tudo o que ele escondia. O olhava com o rosto mais impassível possível, sem deixar transparecer qual quer tipo de emoção e sentimento.

Seu metabolismo de lobo fazia com que tivesse uma regeneração rápida em comparação com a de um humano qualquer, assim sentia seus ossos lutando para se colocarem no lugar e rangendo quando mexia e apertava minha mão ainda mais envolta de seu pulso que já tinha uma coloração arroxeada em volta dos meus dedos.

Seu rosto contorcido em dor logo saiu de sua fisionomia assustada e me deu um sorriso grande e cheio de dentes. O pulso já havia se restaurado como se nada havia acontecido e minhas forças já não eram suficientes para machuca-lo. Não que eu tenha colocado toda a minha força em minha mão para isso.

- Esperta, mas precisa mais do que isso para estar acima de mim. - Seus olhos dourados ganharam mais cor por cima da lente e podia vê-los brilhantes. - Você não pode ganhar de mim! - Afirmou com a voz grave, olhando fixamente para mim.

Não disse nada. Seu pulso foi puxado de minhas mão rudemente e nada mais foi dito.

A sala estava silenciosa, nem os bips da maquina que marcava o compasso do meu coração parecia querer interromper a tensão que já era palpável no pequeno quarto.

...

Os lábios ainda permaneciam juntos, em uma caricia confortante que tirou Débora de sua prisão de culpa.

James ainda não acreditava que havia encontrado sua companheira, nem imaginava que esteve ao lado dela por tanto tempo e não percebeu. Não entrava em sua cabeça que precisou apenas de um beijo, um único encostar de lábios para ter seu destino, sua vida toda completamente ligada com a de uma outra pessoa que ele aprendeu a admirar, a escutar e a seguir ordens.

Ela era uma mulher, mas isso não a impedia de ser intimidante quando queria, ser provocante quando desejava e ter o que queria no momento que quisesse. Desde criança Débora aprendeu a ser confiante e fazer suas próprias escolhas, ser dona de si.

Seu coração se apertava no peito ao lembrar-se de sua mãe, que já não veria mais em sua vida. Aprendeu com ela a esconder os sentimentos e confiar apenas em si mesma. Doía saber que ela era excluída de toda a comunidade por sua mãe e sentia uma raiva sem tamanho de uma única pessoa.

Naquele momento, nada chegava aos pensamentos de Débora além das sensações do singelo beijo. Ela estava sendo fraca, mas não importava.

Seu sonho de ter alguém ao seu lado se concretizou, mas ainda havia dúvidas em seu interior.

E se ele a rejeitasse? Ele não sabia que ela era filha de uma ômega¹.

E se ele descobrisse? Com certeza a rejeitaria.

Sua loba pulou e sentia seu estomago abrigar centenas e centenas de borboletas.

Uma única lágrima rolou de seus olhos antes de selar o beijo com um selinho, sentindo o gosto salgado de sua lágrima solitária que havia acabado de rolar.

James interrompeu o momento desgrudando finalmente seus lábios dos lábios mais macios que já beijou em toda sua curta vida ao sentir braços circular seu pescoço em um abraço forte e surpresa. Ele jamais imaginou como seria tal momento, como seria descobrir sua companheira.

A loba [ REVISANDO ]Onde histórias criam vida. Descubra agora