XXIII

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A porta se abriu e eu a encarava. Por ela, passou quem eu penso ser o doutor e a mesma enfermeira de antes.

Meus olhos focalizaram nos olhos pequenos da enfermeira e tudo a minha volta pareceu parar. Vi seu rosto rejuvelhecer, sua fisionomia de criança. Senti o gosto de bolo de laranja, vi o joelho ralado enquanto voltava correndo para a casa da avó em sua bicicleta, vi seu sorriso com uma janela na frente.

Meus olhos se focaram novamente em seu rosto, agora adulta e em minha frente.

O tempo voltou a correr e o doutor veio em minha direção, com um sorriso grande. Eu, estou assustada.

O que havia acabado de acontecer? O doutor falava a minha frente mais parecia estar longe o suficiente para não entende-lo. Vi seu sorriso esmorecer, os bips que há muito tempo não tinham se desestabilizado, agora acelerava. Eu a olhava e via seu rosto preocupado.

O que havia acabado de acontecer? Eu havia visto parte de sua infância, ainda sentia o gosto delicioso de laranja em minha boca.

A bolha que havia se formado em minha volta, se rompeu e os barulhos externos me atingiram.

- Você esta bem? Consegue me ouvir?- Disse o doutor preocupado, apontando uma luz irritante em meus olhos. Incomodada, tirei meu rosto que estava seguro em suas mãos. - Ivone, por favor, pegue o calmante, ela esta muito nervosa...

Voltei a mim, meus olhos o encarava. Eu não quero tomar remédio. - Não.

A palavra voou de minha boca, interrompendo Ivone de sair do lugar, que me olhou.

Os dois me encaravam agora. - Não quero remédios - Voltei a dizer.

Os bips agora voltavam ao normal e eu sorri, mais para tranquiliza-lo do que por vontade.

...

Dylan andava de um lado ao outro, James e Débora havia passado toda a tarde, sumidos.

Poderiam eles também ter sido capturado?

Não, não... Não poderia ser.

Sua cabeça fervilhava enquanto andava de um lado ao outro, dentro da cabana. Sentiu um alivio imenso quando, ao ver uma sombra pela entrada, reconheceu os cheiros: Débora e James acabavam de chegar.

Os dois caminhavam calmamente, sem conseguir se manterem afastados. Estavam abraçados quando pararam finalmente em frente ao Alfa. Os sorrisos que trocavam antes, pela felicidade da descoberta, os olhos brilhantes e apaixonados, o abraço caloroso e tudo o mais que sentiam, como um balde de água fria, tudo a sua volta pareceu congelar assim que encontraram os olhos do Alfa.

-Onde estavam? - perguntou, mas sem esperar respostas continuou. - Ela esta desaparecida, e já tenho suspeitas de quem é. - soltou como bomba, deixando os três que estavam presentes, tensos.

Débora procurou os olhos de seu mais novo amor e encontrou apoio. Mariana era sua responsabilidade, ela deveria cuidar como a própria vida e se seria culpada por não estar por perto quando ouve o sequestro. James a apertou em seus braços, transmitindo segurança e o apoio que ela tanto precisava.

- Onde? - a única palavra que saiu de sua boca.

- a 2h e meia daqui ha outra matilha, se formos de carro, talvez nós consigamos fazê-lo em menos tempo se acelerarmos.

- Você tem certeza? - perguntou Débora dando um passo a frente e se desvencilhando dos braços de seu amado, esperançosa.

Dylan suspirou, passou a mão na cabeça. Os olhos encararam o teto e lembrou-se do rosto perfeitamente, o rosto de alguém que cresceu junto dele, o rosto que apareceu ali 16 anos atrás a procura da mesma que agora esta desaparecida. Não havia duvidas. - Absoluta. - disse.

...

O quarto onde estou tem em uma das paredes uma pequena janela por onde eu vejo hipnotizada, o céu laranja. Não ha relógios perto e por tanto não sei dizer exatamente que horas são.

Durante toda a tarde e o começo da noite, estive em salas e mais salas, com diversos aparelhos, fazendo vários e vários exames, o que só apontaram o óbvio: estava completamente saudável. Aliás, eu estava me sentindo ótima e não via qualquer motivo para estar -ainda - no hospital.

Durante os exames fui impossibilitada de receber visitas, o que eu agradecia. Não vi Érico desde que tentou me matar, e isso ja faz algumas horas. O outro homem, não vi nem a sombra.

Logo o dia ira amanhecer e eu não posso ficar aqui por mais tempo. Não sei quem são e o porquê de estarem atrás de mim, alem e claro de saber que sou diferente e estou sendo procurada desde que nasci. Eu preciso fugir! se vim parar aqui sem conhecer quem me trás, com certeza não é boa coisa.

Débora, James, alfa, qualquer um poderia ter vindo aqui se eles soubessem e a cada vez que penso fico ainda mais nervosa com o que esta acontecendo.

Pulo da cama hospitalar, deixando a roupa de hospital azul cair ate meus joelhos. O chão frio contrasta com meus pés desnudos e quentes e um arrepio passa pela minha coluna.

Não tenho tempo e logo alguém ira aparecer e isso não será bom.

Caminhei pelo quarto parcialmente claro, indo em direção a porta entreaberta por onde se pode ver o banheiro. Eu quero gritar mil palavrões, não ha roupas alem desse estranho vestido ridículo para que eu possa usar! Como eu iria fugir?

Finalmente, quando fechei a porta atrás de mim e me olhei ao espelho, vi uma outra menina. Não, eu vi uma outra mulher, uma garota decidida e...

Passos ecoou pelos meus ouvidos, audíveis como se fosse ao meu lado. Fechei meus olhos e deixei o pensamento me guiar. As sandálias com um salto, brancas. Pernas longas e um uniforme branco também. Abri meus olhos: a enfermeira esta vindo.

Eu precisava fugir e ninguém poderia desconfiar. Meus olhos me encararam novamente e meus cabelos estavam amarrados em um rabo de cavalo baixo, minha pele de tão branca, deixava visível algumas veias finas que apareciam em minha bochecha. Minhas bochechas, as únicas que continuaram depois de toda mudança em mim.

Sai do banheiro e em uma velocidade impressionantes, já estava na cama como se nada houvesse acontecido e eu não estivesse agora mesmo no banheiro.

Meus olhos encararam a porta e a maçaneta girou cuidadosamente para não fazer barulho. O rosto de pele cor de oliva de Ivone apareceu pela fenda da porta e logo todo o seu corpo. Ela se assustou quando me encontrou, encarado-a.

- Acordada agora tão cedo? - e novamente vinha ela com a prancheta.

- sem sono. - foi minha única resposta.

Agora que eu não estou mais ligada a aparelhos nenhum, não tem tanto o que verificar. Em uma breve conversa, me confidenciou que meu estado de supervisão já estava acabando e logo terei alto, hoje mesmo se possível. Meu tempo esta acabando e tenho que sair daqui logo.

Minhas roupas chegaram ao quarto, as mesmas que usava quando cheguei: uma leggin preta e uma regata estilo nadador também preto, minhas botas estilo militar estava aos pés da cama. Ivone disse que eu já poderia colocar minha roupa e ofereceu ajuda, que eu logo neguei. Pareço estar de luto vestida toda de preto, e eu realmente estou, pela morte da minha vida, de tudo que eu pensava ser real antes de tudo isso começar.

O céu já esta quase totalmente branco e os segundos se arrastam. Meu tempo esta se esgotando. Tenho vontades de tirar meus cabelos um a um de tão nervoso. Por que as coisas não podem ser mais fáceis?

Assim que Ivone sai do quarto, espero alguns minutos para se afastar. Quando já quase não ouço seus passos, decido que e hora de agir e já não ha mais tempo para se gastar.


IêIê gentee... Espero que gostem e não se esquecam de votar e deixar sua opinião!!!

>-< Nem acredito!!! capitulo 23 jááá!

Desculpem os erros!

A loba [ REVISANDO ]Onde histórias criam vida. Descubra agora