𝐒𝐎 𝐈𝐓 𝐆𝐎𝐄𝐒, oliver queen.

one: big city, wrong choices.

a l g u m a s s e m a n a s
a n t e s . . .

QUANDO CHEGOU À Starling City, Genevieve Thompson teve consciência do que os jornais queriam dizer ao chamar a cidade de "dividida". Mesmo não sendo tão territorialmente grande quanto Nova Iorque — onde ela morava antes — Starling tem uma segregação óbvia. Os ricos, famosos e corruptos vivem no lado bom, feliz e bem cuidado. Já os pobres, ignorados e necessitados vivem no lado ruim e sujo, também conhecido como Glades.

A mulher de longos cabelos ruivos e olhos observadores já descobriu bastante sobre sua nova realidade desde que se mudou, seis meses atrás. Conheceu novas pessoas e novos lugares, e, definitivamente, se deixou afetar pela nova vida. Ginny sempre foi assim, absorvendo novas experiências e se moldando a partir delas. Ela não é a mesma pessoa que era em Nova Iorque, ou na cidade antes dessa.

━━ Qual é? Nem foi tão ruim assim! ━ Thomas Merlyn sorri, trombando os ombros com os da mulher. ━━ Eu não diria que foi vergonhoso.

━━ Definitivamente foi, Tommy.

Os dois riem juntos, o cheiro de álcool ainda presente em ambas bocas. Estão em um encontro, mas apenas tecnicamente falando. Não houve um convite formal, mas os dois finalizaram a noite em um bar local e com muitas risadas, o que — para Ginny — caracteriza-se como um encontro.

━━ Bom, teria sido melhor se você não tivesse chamado meu pai de maluco, mas poderia ter sido pior! ━ Ele defende, o sorriso aumentando.

As lembranças da primeira vez que se encontram tornam as bochechas da Thompson vermelhas, quase tanto quanto os cabelos.

Estava saindo do hospital em direção à casa, ainda com o uniforme da Grupo Global Merlyn quando conheceu Tommy, apenas alguns meses atrás. O moreno esbarrou nela acidentalmente e usou da oportunidade para flertar — afinal, é o que ele sempre faz — mas, durante a tentativa, notou o brasão da família e mencionou a empresa, o que fez uma exausta Ginny comentar sobre como estava farta de Malcolm Merlyn e suas maluquices e como isso exigia muito dela. Apenas então o garoto se apresentou, dizendo em alto e bom-tom o seu sobrenome: Merlyn. Foi constrangedor, mas Thomas parabenizou a coragem e decidiu a levar para um bar próximo. Os bares de Starling estavam cada vez mais familiarizados com a presença da dupla. Todas as noites, conversavam sobre tudo e mais um pouco, Tommy contava sobre o pai e Ginny sobre a vida em Nova Iorque. Foi bom, ótimo — Merlyn quase acreditou que ela era quem ele tanto procurou, e a Thompson que Starling City não era tão ruim assim.

Dois tolos.

Hoje, o homem apareceu no apartamento dela com os olhos brilhando em lágrimas e um desânimo evidente, mesmo após terem cortado relações algumas semanas antes. Ginny foi rápida em o acolher, oferecendo todo o seu conforto ao ouvir que Tommy e Laurel Lance — a garota pela qual foi deixada — terminaram. A ruiva não guarda rancor, o que teve com Merlyn foi momentâneo e sexual, mas no tempo juntos, ela nutriu uma amizade e não o deixaria de lado em um momento como esse. Então ela abriu os braços e a casa para ele, deixando-o desabafar e fingindo não notar as lágrimas que escorriam suas bochechas. Foi ela também que sugeriu que saíssem, e Thomas escolheu um dos bares que costumavam frequentar, o que os levou ao momento atual.

A vida de Ginny sempre foi confusa, mas desde que mudou para Starling? Pode-se dizer que piorou.

━━ Me rendeu bebidas, então não foi horrível. ━ Brinca, o som da bota batendo no chão diminui quando a ruiva alcança seu prédio. ━━ E fui escoltada até em casa! Acho que tenho que reclamar do seu pai mais vezes.

━━ Só se for me deixar te acompanhar mais vezes.

Os dois se encaram por longos segundos, como se esperassem um evento alheio interromper a conversa. Tommy, em uma tentativa fútil de afogar seus problemas, aproxima o corpo com a mulher, erguendo sua mão para segurar o rosto de Ginny. Ele a tem em seus braços, tão perto que é capaz de sentir o perfume doce exalando do corpo. Apenas um movimento simples e sutil e as vidas de ambos voltariam a ser o que costumava, a oportunidade de deixar tudo esvair entre os dedos está aí, e Thomas está pronto para tomá-la.

━━ Tommy, não. ━ A ruiva nega, empurrando o homem para longe.

━━ Você não quer? ━ Ele questiona, confuso e constrangido por entender os sinais errados. ━━ Achei que...

━━ Eu quero. ━ Interrompe, mordendo os lábios de nervoso. ━━ Você não quer. Isso não vai trazer Laurel de volta, Tommy.

O nome arde em sua boca, como um lembrete cruel de que tudo é uma ilusão. Merlyn não a deseja do mesmo jeito que ela o quer, isso é tudo por carência. Por saudades da garota da vida dele, e essa garota não é Ginny.

━━ Eu não quero a Laurel. Ela e Oliver foram feitos um para o outro.

━━ Nem você acredita nisso!

A conversa é como um remédio para a embriaguez, rapidamente curando ambos da tontura do álcool. Deveria ser o suficiente para trazê-lo de volta, mas Thomas continua com um desejo inegável de beijar a mulher. Dessa vez, entretanto, ele sabe que não se passa de um desejo bobo de recolocar a vida nos trilhos. Ginny fez parte de sua vida, mesmo que somente por uns meses, e mudou ela completamente.

Se ele não tivesse ido atrás de Laurel, talvez...

━━ Me desculpa. ━ Merlyn sussurra, escondendo o rosto em mãos. ━━ Me desculpa, Ginny. Eu nunca deveria ter vindo.

━━ Eu nunca teria negado.

Thompson sabe que não está se ajudando muito, mas é a mais pura verdade. Não teria recusado nem mesmo uma ligação, ela se importa demais para o deixar ir.

Não é amor, ou pelo menos ela acha que não, mas é alguma coisa e isso é o suficiente para fazê-la ficar.

━━ Você é um raio de sol, Ginny. Queria que tivesse dado certo entre nós. ━ Tommy confessa, aproximando em um passo assustado a ex-amada. Os dedos trêmulos correm por uma mecha de cabelo ruivo e ele sente o arrependimento arder no peito.

Deveria ter aproveitado mais quando ainda tinha a doce garota em mãos, quando ela ainda não sabia que ele nutria uma paixão por outra mulher, quando ele mesmo não sabia que Laurel Lance havia o conquistado. Queria voltar no tempo, como nos filmes de ficção científica, para garantir que não deixaria Ginny Thompson escapar por entre os dedos.

Thomas Merlyn deveria parar de tomar as decisões erradas ou acabará morto.