NOVA IORQUE É uma ótima cidade. Quer dizer, ao menos era. Quando Genevieve ainda morava na grande metrópole, mesmo com toda a poluição e tumulto, era um lugar incrível. Agora, não tem como ela saber. Nunca mais voltou.
Fugir é quase seu nome do meio.
O maior problema daquela cidade tinha nome e sobrenome, mas ninguém sabia. Os jornais chamavam de Sombra, uma mulher misteriosa que percorria as ruas de Nova Iorque debaixo do sol e da lua sem ser vista. As vestimentas roxo escuro ajudavam no disfarce entre os prédios, máscara e capuz de mesmo tom. A única parte visível era cabelos quase avermelhados por debaixo do capuz, mas os jornalistas afirmavam ser uma peruca, como maneira de os desviar da verdadeira identidade da mulher por trás da Sombra.
Era verdade, mas não descobrirão nunca. Apenas se, por algum motivo, Ginny Thompson deseje revelar sua identidade.
Quando disse que a mulher estava acostumada com situações irracionais, foi por isso.
Starling City tem um vigilante que perambula as ruas, cujo alvos são homens ricos e inconsequentes. A cidade o chama de Capuz, por motivos óbvios. Ele usa arco e flecha e vestimentas verde escuro, Ginny assume que o motivo para esses tons seja a facilidade para se disfarçar. Todos acreditam ser o primeiro vigilante que durou mais de dois dias, que, mesmo infringindo a lei, é o que mais tem efeito sobre a cidade.
É mentira. Os telejornais não contam, mas em Nova Iorque teve alguém que resistiu quase tanto tempo quanto ele. A Sombra era, por mais irônico que seja, a luz daquela cidade. Ajudava quem podia, prendeu criminosos e desmembrou algumas organizações, tudo sozinha. A maior ajuda que teve foi de um policial, Richard Grayson, mas o mesmo não durou nem um ano na metrópole antes de voltar para Detroit. A época de ouro de Genevieve foi aquela, mesmo que, também nesse tempo, estivesse se prendendo e sofrendo com as consequências de ser uma vigilante.
A questão aqui é: Genevieve sabe bem como enfrentar o crime. E esse conhecimento será necessário.
De repente, acordando totalmente a mulher de sua transe, o telefone começa a tocar.
━━ Alô? ━ Ginny murmura, apoiando o celular no ombro enquanto escreve os arquivos.
Ninguém responde. O silêncio reina na chamada como se não houvesse nenhuma ligação em primeiro lugar. Ela solta sua caneta, ajeitando o celular no ouvido.
━━ Alô? Alguém aí?
Mais uma vez, ninguém diz nada. Ginny está começando a perder a paciência, ainda consegue ouvir um som fraco de respiração, como se alguém propositalmente segurasse o ar para diminuir o som.
Antes que ela desligasse o celular, uma das enfermeiras aparece em sua porta, papeis em mãos.
━━ Senhorita Thompson? A doutora Lyla pediu para te entregar.
Um apito soa em seu ouvido, sinalizando que a chamada foi desligada. Ela suspira, largando o telefone e caminhando até a porta, agradecendo a enfermeira. Ginny não odeia seu trabalho, mas as vezes ela queria não ter que ficar aqui. Até mesmo um cubículo qualquer na Merlyn Global é mais confortável do que um hospital, mesmo que ela fique em uma ala um pouco mais reservada. Ter que lidar com doentes não é nem a pior parte, mas estar em um lugar como esse a traz memórias indesejadas.
━━ Que saco. ━ Ela reclama para si, sentando novamente na cadeira giratória.
Ela rodopia no assento, arrastando as rodinhas pelo chão. Sua mente viaja para todos os lugares ao mesmo tempo. Ultimamente a vida tem sido um grande redemoinho.
Um "plim" chama a atenção da ruiva de volta para o celular que praticamente já havia esquecido. Com certo cansaço, ela decide checar a notificação. Suas sobrancelhas cerram ao notar o número desconhecido, e o mesmo que havia ligado à alguns minutos. Estranho.
"Saia do Glades."
Mais estranho ainda. Quem era o número desconhecido? Por que estava a mandando esse tipo de mensagem? O que isso sequer significa? O Hospital de Starling se localiza na quase divisa entre Glades e o 'lado bom' da cidade, mais puxado para o Glades. Afinal, mesmo sendo maltratado, é uma grande parte de Starling City. Até mesmo a casa de Ginny era próximo ao que os cidadãos denominavam de lado ruim, por ser um apartamento pequeno. Ela não tem necessariamente um lugar para ir.
Pensa em mandar uma mensagem de volta, questionar quem quer que seja, mas seria perigoso demais. Isso facilmente poderia ser uma armadilha.
━━ Você mexeu com a pessoa errada. ━ Ginny murmura, abrindo o computador.
Seus dedos digitam rapidamente, olhos colados na tela como uma criança assistindo animações. Não estava em um lugar apropriado, mas faria o melhor que podia para encontrar o dono daquele número. Ginny trabalhou muito tempo sozinha, o que significa que ela precisava saber de tudo. Não é a mais inteligente do mundo, mas ela sabe se virar. Encontrar um celular não é nada difícil.
Quer dizer, esse celular em específico tá sendo difícil. Sua localização fica alternando, um momento está no centro do Glades, no outro, dentro de algum prédio comercial e, em outro, aparece diretamente no hospital. A mulher já entendeu o que está acontecendo, seja quem for, não quer ser encontrado.
━━ Merda! ━ Thompson suspira, desistindo de vez.
Ela pode até ser boa, mas quem está do outro lado da tela é melhor.
O olhar dela caí sobre a mensagem mais uma vez. Saia do Glades. Por que? O que poderia ser tão ruim que ela tem de fugir? Ginny nunca se imaginou negando a fuga, mas ela não pode só sumir. Não de novo. Construiu uma vida em Starling City, vai deixá-la escapar sem mais nem menos?
━━ Meu Deus! ━ Alguém grita no corredor, despertando Thompson de sua mente. ━━ Vão embora! Evacuem o hospital!
Em um segundo, a ruiva já está na porta, alternando o olhar entre as pessoas que via. Todos aterrorizados. Frio surge na barriga, como se a adrenalina começasse a percorrer o sangue. Algo está muito errado. Ginny precisa saber o quê.
━━ O que aconteceu? ━ Ela questiona, agarrando o braço de um homem desconhecido.
━━ O Glades! ━ Responde o moreno, sem mais nem menos. ━━ Veja a TV.
Ela o larga, aproximando da pequena televisão no final do corredor branco que, aos poucos, é preenchido de pessoas desesperadas correndo a toda velocidade. Os olhos esverdeados arregalam em um susto ao notar a pessoa na tela: Moira Queen. Mãe de Oliver. Os noticiários apenas dizem "Glades está sobre ataque!", o que não explica muito coisa. Pelo menos, não o suficiente.
━━ Quem está por trás desse plano maligno é Malcolm Merlyn. ━ Moira revela, voz falhando como se engolisse choro.
Ginny precisa respirar fundo para certificar de que ouviu aquilo certo. O Glades está sobre o ataque e Malcolm Merlyn é o responsável. Pessoas estão em perigo e quem está por trás e ninguém menos que o chefe dela.
Como foi tão tola? Como se deixou enganar pelo sorriso ridículo de Malcolm, com todas suas ofertas sobre melhorar o mundo?
A garganta da jovem se fecha ao pensar que Thomas talvez também estivesse por trás disso. Não só caiu no canto da sereia e dormiu com o inimigo, mas também o amou. Malditas emoções, cegaram tanto sua visão que acabou enganada até demais.
"Preciso ir embora." Pensa, correndo de volta ao escritório e pegando os pertences importantes. Como uma águia, Ginny deixa o local sem explicações, tremendo ao subir na moto e dirigir para casa. Ela não entende bem o que vai acontecer, mas tem certeza que não vai deixar essas pessoas na mão de uma divindade. Vai lutar e resgatar quem puder — vai trazer a Sombra de volta.
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𝐒𝐎 𝐈𝐓 𝐆𝐎𝐄𝐒, oliver queen.
Fiksi PenggemarGinny Thompson se mudou para Starling City a procura de uma vida melhor, mas, para isso, teve de prometer deixar de lado suas fantasias. Entre elas, o uniforme roxo que utilizava durante as noites obscuras de Nova Iorque. Oliver Queen está de volta...