Capítulo 12

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Fazia 2 dias que a senhora Bande não aparecia na escola.

Alane não queria dizer que estava preocupada, mas estava. Fernanda nunca havia faltado desde que começou a dar aulas para sua turma, mas o restante da escola não parecia preocupada. A diretora Yasmin se limitou a um pequeno recado, de modo muito frio, de que a senhora Bande não comparecia na escola. Nem Alane e nem ninguém sabiam quando iria voltar. Ao ser questionada, a senhora Yasmin simplesmente deu as costas e saiu.

— Por que você está tão preocupada?

Alane ergueu seus olhos para Vanessa, que reclamava enquanto desfrutava de um pedaço de frango. Beatriz estava dormindo na mesa do refeitório, escutando música nos fones tão alto que todos podiam ouvir junto com ela.

— Eu não estou preocupada, é só que-

— Lane, temos paz! Não é maravilhoso?

Alane mordeu os lábios. Ela não sabia porque, mas não sentia que estava tudo bem por a senhora Bande ter faltado ao trabalho. E algo no jeito que a senhora Yasmin evitava tocar no assunto lhe dizia que era sério.

— Vocês realmente não acham estranho? É só que... Ah, não sei! Mas é estranho, por favor, tentem entender.

— O que nós entendemos é que agora temos paz e não temos que nos preocupar com tanto abuso de poder de uma única parte da escola. Qual é, aproveite um pouco isso.

Alane se afundou na cadeira e ficou em silêncio. Ela não queria e não podia julgar suas amigas e seus outros colegas de classe. Fernanda não era uma boa pessoa para eles e nem para sua reputação na escola, mas sua cabeça estava um caos.

Ela ainda pensava no toque da mão dela sob o seu braço, no jeito carinhoso que a professora lhe encarava. Mas não! Era loucura! Estava falando de uma educadora, não podia estar com a mente tão acelerada por isso. Pensava que poderia ser mais feliz se Fernanda sumisse e lhe deixasse ter uma boa vida acadêmica em paz, mas agora que, indiretamente havia conseguido, se sentia desnorteada.

A verdade é que Alane não sabia se poderia odiar a senhora Bande com tanto fervor por ter, em partes, destruído sua vida. Ela não tinha culpa de tanto favoritismo, e culpava a senhora Brunet por não ter tomado medidas cabíveis em relação a sua melhor amiga quando Alane denunciou o comportamento de Fernanda em sala de aula. Aquilo só pareceu aumentar o ódio sob si. Os alunos a culpavam por não ter conseguido que a diretora da escola agisse como adulta e tomasse decisões corretas, ao invés de proteger sua amiga. E como sempre, Alane foi quem pagou por isso.

Ela suspirou. Tudo seria diferente se Fernanda agisse como um ser humano. A turma poderia fazer atividades de cunho acadêmico fora dos muros da escola. Era decepcionante ver os passeios que outras turmas faziam enquanto a sua ficava presa com Fernanda em sala de aula durante todo o tempo. Seria pura hipócrita pedir compreensão.

Mas Alane também não sabia o que sentia. Ela só tinha 17 anos e faria 18 em alguns meses. Tinha toda uma pressa com notas escolares e para seguir uma carreira que lhe desse dinheiro, os pais esperavam isso dela, a irmã esperava isso dela. Com toda essa situação de Fernanda, sua cabeça só parecia mais vulnerável e passível de outra crise nervosa.

Ela não queria chegar lá por ter perdido aquilo que a fez conhecer o inferno.

No dia seguinte, Alane pediu licença ao professor substituto de física e saiu da sala para ir ao banheiro. Vanessa e Beatriz já haviam notado o comportamento estranho da amiga, mas queriam dar um tempo para que ela falasse, mesmo estando preocupadas.

Andando pelos corredores, Alane ainda pensava na situação que levou Fernanda a se ausentar por, agora, três dias. Era impossível não pensar. Toda a escola comentava sobre isso, fofocas sobre o "Diabo de Niterói" ter se metido em problemas com o governo ou ter sido deportada para o Rio de Janeiro. As más línguas até mesmo diziam que ela havia pedido demissão.

Alane não acreditava em nenhuma delas. Achava impossível que qualquer coisa do tipo acontecesse com Fernanda, mas ela não era ninguém para julgar os pensamentos de seus colegas. Fernanda tinha mais inimigos lá dentro do que fora.

Ela ouviu passos no corredor e levantou a cabeça, dando de cara com a senhora Yasmin vindo na direção contrária. Como sempre, estava muito bem arrumada e elegante. Carregava pastas na mão e sua bolsa Chanel na outra. Os olhos castanhos dela encontraram os de Alane e ela parou por um momento, a encarando de forma intimidadora.

Alane respirou fundo. Suas mãos formigavam e suas pernas eram gelatina. Ela nunca tinha recebido um olhar tão frio em sua vida, mas estava decidida a tirar a história do que acontecia a limpo. Não era uma pessoa de confrontos, então, quando viu Yasmin desviar o olhar e voltar a caminhar para seu escritório, ela fechou os olhos e contou até três.

— Senhora Brunet?

Yasmin parou perto da porta de sua sala e virou a cabeça para a menina caminhando em direção a ela. Ergueu as sobrancelhas, se virando e a encarando de frente. Alane mordeu os lábios.

— Sim, senhorita Dias?

Alane mordeu os lábios, estremecendo com a voz fria da diretora, mas respirou fundo e a encarou.

— Pode me dizer se há algo errado com a senhora Bande?

Diferente de Alane, Yasmin se manteve muito neutra e sua feição não se alterou.

— Não.

A mais nova segurou o braço da diretora quando ela colocou a mão na fechadura. Os olhos de Yasmin passearam desde a mão em seu pulso até os olhos de Alane e a menina gaguejou momentaneamente.

— Pode me dizer o que significa isso, senhorita?

— A senhora precisa me dar uma explicação. Por favor!

— Não preciso fazer nada, senhorita Dias. A figura de autoridade desta escola ainda sou eu.

— Então que tivesse agido assim quando precisei de ajuda na primeira vez, se era tão importante assim para a senhora.

Yasmin ficou em silêncio, olhando profundamente para Alane. Por fim, cruzou os braços.

— Fernanda simplesmente não está disponível.

— Isso não é algo que a senhora Bande faria e nós duas sabemos disso, senhora Yasmin.

— Eu sei o que Fernanda faria, você não sabe.

— Então me explique!

Yasmin passou a mão pelo cabelo e bufou. Era por isso que ninguém suportava adolescentes.

— Olhe Alane, Fernanda está passando por alguns processos lentos em sua vida e desistências fazem parte dela. Sua turma ou sua performance acadêmica não serão prejudicadas de forma alguma. Em algum momento, Fernanda retornará. Por enquanto, ela mesma selecionou substitutos que confia para que o aprendizado continue no ritmo que ela estabeleceu. Está bom para senhorita ou deseja ver os arquivos de nascimento dela também?

Aquilo deixou Alane em alerta e ela arregalou os olhos, sua boca formando um 'O' perfeito. Yasmin observou sua reação e se virou para abrir sua porta, mas foi parada pela mão da menina em seu pulso novamente. Contou até três mentalmente.

— Ela não pode fazer isso! A senhora Bande não é de desistir!

Vendo o desespero da garota, um leve pensamento passou pela mente de Yasmin e ela resolveu baixar a guarda um pouco. Olhou fundo nos olhos abalados de Alane.

— As vezes, desistir é continuar lutando, senhorita Dias. Mas lutar por si e não pelos outros. Em algum momento, você vai entender.

E dizendo isso, soltou seu pulso da mão fina de Alane e entrou em seu escritório.

teacher's pet ୨ ִ ۫ ⋆ . ferlane.Onde histórias criam vida. Descubra agora