O último testemunho: teatro em chamas

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A cena agora em nossa mente, mais um flashback. Ele cortava o momento presente, nos mostrando novamente o cenário passado. Um homem. Ele está vestido com roupas de cores vivas, aquilo é uma roupa de circo. Ele arrasta algo dentro de um saco, parece pesado. Ele continua arrastando por um longo caminho. Ele parece suspirar de cansaço pelo peso que carregava, mas ele continuava. O flashback era encerrado em nossa visão, retornando agora para aquilo que estava em nossa frente. Estava previsto para ser um grande espetáculo. Chocho, de seu camarim, se levantava. Ele que acabou seus preparativos, agora se direcionava para aquele palco. Passando pelo curto corredor em frente ao seu camarim, ele se posicionava atrás daquelas cortinas. As pessoas do lado de fora falavam seu nome com alegria. Eram como uma torcida, uma torcida por Chocho, que os responderia de volta naquele momento. Puxando a corda que prendia aquelas cortinas, as cortinas levemente se abriam. Chocho era agora observado pelo olhar de todos, desde crianças até os mais velhos que ali estavam. Ele acabava de começar o que para ele seria o seu melhor show. Começando por seus malabarismos que impressionavam aquela multidão. Ele fazia trapézios. Mesmo que não falasse, ele chamava com gestos, voluntários de sua plateia para fazer jogos perigosos. Tal como aquele jogo das facas, que Chocho até hoje, nunca errou. As pessoas se impressionavam com as habilidades artísticas de Chocho. Como sempre, algumas atrações repetidas não os colocava no tédio. Pois eles sentiam amor por ver aquilo. Eles sentiam amor por ver a habilidade notável do símbolo que para eles era alegria naquelas noites de domingo. Após um belíssimo show, Chocho agora se preparava para demonstrar sua última e tão planejada atração. A plateia aplaudia antes mesmo que tal cena começasse. Enquanto o domador, que ainda estava sentado, nem sequer expressava nada. Apenas observava o que estava para acontecer. Chocho agora abria um pequeno baú, de onde ele tirava duas pequenas tochas. O público estava ansioso. Queriam ver aquele show de fogo. Chocho, com uma destreza e habilidade impressionantes, fazia malabarismos com aquelas tochas. Que para ele não pareciam oferecer perigo algum. Ele as arremessava de um lado para outro, sem errar os abraços que suas mãos davam naquelas tochas ao cair. Nesse momento, os olheiros daquela plateia iam à loucura:

"Grande Chocho!"

"Como sempre o melhor!"

"Como isso é possível?"

essas eram algumas das frases ouvidas naquela plateia, enquanto Chocho, com seus últimos movimentos, completava aquela sua hipnotizante coreografia com as tochas. Terminando sua apresentação, Chocho saudava a plateia se curvando perante todos ali presentes. Ao recuperar sua postura, todos olhavam para Chocho. Ninguém sabia qual seria seu próximo truque ou apresentação. Chocho levantava seus dois braços, segurando aquelas tochas. Todos estavam vidrados, aguardando o momento que o palhaço faria algo surpreendente para que o aplaudissem. Infelizmente, aquilo não seria digno de aplausos. Com um movimento de suas mãos, Chocho jogava uma tocha para cada lado. Que ao cair no pano daquela tenda, incendiavam automaticamente. O fogo se alastrava. Chocho havia cercado o local com pólvora e inflamáveis por debaixo dos tecidos daquela tenda. Cercados, um fogo infernal subia. Pessoas começavam a se desesperar. Gritos profundos de medo, correrias, as pessoas da plateia tentavam apagar as chamas. Um ato inútil. Aquela triste cena, que seria um terrível ato, era assistida do palco por Chocho. Que imóvel, observava tudo que ali acontecia. Coberto como sempre por sua máscara, que escondia suas emoções e sua verdadeira face, em uma máscara que refletia apenas uma face sem expressão, ou emoção. Naquele mesmo momento, uma figura se levantava de sua cadeira. Calmo e em toda sua serenidade, apenas agora ele se levantava, ele caminhava para a frente, indo na direção do palco. Ele lentamente chegava, passando por todos que desesperados ali estavam, tristemente perdendo suas vidas em algo que deveria ser a sua noite de alegria. O palhaço via a aproximação do homem. Ele não fazia nada, nem fugia. Ele estava certo, aquele homem em sua plateia era um telespectador diferente. Cercados em volta daquelas chamas, Chocho, que logo teria o mesmo destino das pessoas que vitimou, era confrontado com uma fala do domador. O domador estava a uma curta distância daquele palco:

"Eu não sei o que se passa no seu coração nesse exato momento, mas mesmo que eu não sinta nada sobre isso, espero que isto alivie sua dor, Chocho."

A cena em nossa vista se distanciava rapidamente. Víamos a cena de muito longe, as chamas altas, e os corvos que voavam após um alto grasnido. Aquilo era o cumprimento do pacto.

Quando a cena brevemente retornava para perto daquele lugar devastado, o domador era visto indo embora com passos tranquilos. Vários corvos pareciam o seguir. Pousados sobre ele estavam aqueles corvos, que representavam as almas de cada um dos que ali foram injustiçados. Era nessa visão pelas costas do domador, que deixando um vilarejo devastado as ruínas para trás, nós o perdíamos de vista. Em nosso último testemunho, de suas ações que com certeza, não acabariam ali, deixando em nossas mentes algumas perguntas não respondidas, mas, isso importaria afinal de contas?

The crows who cryOnde histórias criam vida. Descubra agora