Quando o palhaço perde a graça

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Abrindo seus olhos naquela manhã de domingo, percebeu que tinha adormecido no porto. Não parecia haver um lugar onde o domador não pudesse adormecer. Encostado no chão, levantou-se e ajeitou os cabelos bagunçados em sua cabeça, percebendo que o sol já estava forte. Ele havia dormido por um bom tempo, ainda era manhã, mas a tarde logo chegaria.

Ele se virou novamente para aquele morro, olhando para o alto, faria o mesmo trajeto que fez da última vez. Subindo aquele lugar, agora de forma casual, com seus próprios pés. Chegou logo ali em cima, andando mais um pouco, caminhou por aquele vilarejo pacato. Ao passar ao lado de uma pequena casa, uma mulher que estendia suas roupas nos varais de sua casa, observava ele passar ao seu lado, enquanto suas duas filhas, escondidas atrás dela, diziam para sua mãe:

- Foi aquele homem, mamãe. Ele saiu daquelas árvores, eu juro.

A mãe apenas dizia:

- Está bem, queridas.

não prestando muita atenção em suas filhas, enquanto observava o caminhar daquele homem, dizendo em sua própria mente que ele era realmente atraente.

Um corvo em seu ombro, um lugar para chegar. Imagens que iam ficando para trás em nossas mentes, pois nossa atenção é desviada para um lugar diferente. O cenário mudava completamente, podíamos ver dentro daquelas tendas. Dentro do circo, um homem mascarado, é literalmente um palhaço. Ele parece estar em um estranho momento, tem uma boneca em suas mãos. Mas que boneca exótica. A boneca tem um rosto idêntico ao de uma mulher, seus cabelos longos e ruivos destacam sua bem moldada face. Ele parecia olhar fixamente para aquela boneca, por algum motivo, significava algo bem importante para ele. Nesse momento, somos transportados para o passado. Há uma mulher na imagem projetada.

Esta mulher, ela é idêntica àquela boneca. mas por quê? Sem resposta, apenas vozes:

"Não, eu não gosto de você, você não entende? Até quando vai me perseguir? Não estou apaixonada por você, entendeu sua aberração.

A cena do passado desvanece e voltamos ao presente, com uma lágrima caindo sobre o rosto daquela boneca.

Mas de onde tínhamos essa visão? Pelos olhos de mais um dos corvos, que ali estava. O campo de visão escurecendo, conforme a imagem sumia, perdíamos mais e mais nossa nitidez, porém antes de tudo se apagar, o nome daquela boneca era perceptível por alguns segundos em seu vestido, "Helena". A cena totalmente escura acabou. Retornando somente durante a noite deste mesmo dia. Os poucos habitantes daquele vilarejo, que não devia passar de seus 50 habitantes, iam em direção àquilo que para eles era uma cultura, em todos os domingos. Eles iam até as tendas de um homem que entretia totalmente toda aquela pequena população, crianças, idosos, que assistiam a Chocho, ninguém sabia quem realmente era, ninguém sabia por que Chocho fazia aqueles shows, mas foi no passado, que em um dia qualquer, Chocho que ensaiando, atraía a atenção das pessoas, que riam de suas atuações, sempre coberto por sua máscara de palhaço. As pessoas ali presentes, não sabiam, porém teriam hoje, um show especial. As pessoas entravam na tenda que agora estava bem iluminada, e movimentada, praticamente todos os moradores estavam ali dentro, para se entreter com Chocho. Exceto, aquela senhora que no dia anterior, o jovem domador conheceu. Chocho se aprontava em seu camarim pessoal, ele passava sua maquiagem, ele era alguém bem silencioso, Devido ao acidente de infância, Chocho não conseguia falar, mas sim reproduzir sons, ele se maquiava e se preparava para aquele show que em sua mente, iria dar o seu melhor para o público, como sempre, ao seu modo. Enquanto ele se ajeitava, aquele flashback, mais uma memória vinha à mente do palhaço, nossa mente começava a viajar pelas memórias. Não temos visão de nada, está muito escuro, mas uma voz feminina pede perdão constantemente. Tudo que ouvimos, ela parece sofrer, e ela parece sentir a dor, a dor da morte. Uma esquisita memória, que foi interrompida, pois estamos novamente no mesmo camarim onde Chocho se ajeita. Do lado de fora daquele camarim as pessoas continuam a chegar, dentre elas, tem um homem sombrio, ele emana uma aura diferente das outras pessoas. Chocho tinha uma certa visão da ala externa, e de todas as pessoas, aquele homem era o mais exótico de todos que já tinha visto, ele mesmo curioso, ignorava, e voltava a se arrumar, enquanto o homem com seu corvo no ombro sentava em um dos bancos ali fornecidos, chamando a atenção de algumas pessoas, mas ignorando seus olhares. Ele olhava bem para aquele palco, e ele esperava como todos os outros, por um show que tardava em ser apresentado. Nossa visão era como uma visão em primeira pessoa, víamos pelos olhos do domador aquele palco, onde o palhaço se apresentaria, com suas cortinas ainda fechadas, enquanto observando aquelas cortinas, nossa visão era levemente transportada para um outro plano, Dentro de uma casa peculiar, uma idosa se deitava sobre sua cama, murmurando preces. Em sua mão, um pingente com a imagem de uma jovem mulher de cabelos ruivos, sua filha, a mesma que estava nas memórias de Chocho. A garota que Chocho havia 'matado'.

"Proteja todas as pobres almas. E não permita que os inocentes paguem pelos realmente culpados."

ela dizia em suas preces, não se dispondo para ir, aquele show, um show de horrores...

The crows who cryOnde histórias criam vida. Descubra agora