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Marília:

12 ANOS ANTES 

Nove horas em um ônibus fedendo a urina. 

Feliz aniversário para mim! 

A última vez que viajei da Berkeley à Universidade da Califórnia em Los Angeles, foi um horror. O ar-condicionado não estava funcionando durante uma das piores ondas de calor que atingiram o sul da Califórnia naquela década. 

Um mês depois, o calor do verão se amenizara com a chegada do outono, então pelo menos a temperatura não estava piorando aquele cheiro forte de mijo quente. 

Ainda assim, da próxima vez eu iria para o terminal mais cedo, para conseguir um lugar melhor e não ter que sentar ao lado do banheiro fedido. 

A única coisa boa da viagem era que o lugar ao meu lado estava vazio. E eu aproveitei totalmente, espalhando os meus lápis-carvão e cadernos de desenho por todo lado. 

Eu estava fazendo o sombreado de um desenho que tinha que entregar na segunda-feira, para a disciplina de projetos estruturais, quando meu celular tocou no bolso. Sorri antes de atender, sabendo que era ela. 

A estação podia até estar mais fresca, mas as coisas entre nós estavam começando a esquentar. Afinal, ela era o meu summer – o meu verão – particular. 

Depois de passar horas na fonte, juntas, naquela tarde em que nos conhecemos, ela teve que ir embora – os pais dela foram buscá-la para passar um fim de semana em San Diego, onde eles moravam. 

Nós trocamos telefones e acabei mandando uma mensagem para ela naquela noite, depois de beber cerveja demais com o meu irmão e os amigos dele. Mesmo a minha mensagem de bêbada, dizendo umas merdas sobre como ela era linda e tal, não a assustaram. Nas seis semanas seguintes, trocávamos mensagem algumas vezes por dia, falando umas coisas sobre as quais eu não costumava falar. Mais recentemente, quando o dia da minha visita foi chegando, as nossas mensagens ficaram mais quentes, mas também mais pesadas. 

Falamos sobre o quanto o padrasto dela era um babaca, sobre a morte da minha mãe e sobre os planos para o futuro, sobre o que queríamos fazer uma com a outra quando nos encontrássemos de novo. 

Digitei a minha senha e a mensagem dela apareceu. 

Lauana Summer P: Verdade ou desafio? 

Sorri. Considerando que eu estava sentada em um ônibus, não tive muita escolha. Além disso, aquele era o nosso jogo. Eu sempre escolhia "verdade". E a Summer sempre escolhia "desafio". 

Eu: Verdade. 

Lauana Summer: Hmm... Ok. Vou pensar em algo bom. 

Alguns minutos depois a mensagem chegou. 

Summer: Qual foi a coisa mais nojenta que você já fez com uma menina? 

Eu sabia a resposta sem ter de pensar, embora duvidasse se ela ia mesmo querer saber aquilo. 

Eu respondi. 

Eu: Tem certeza de que você quer saber essa verdade? E se te der nojo? 

Summer: Agora é que fiquei curiosa e preciso saber... 

Eu ri. Ok, foi você quem pediu. 

Eu: Chupei os dedos do pé de uma menina uma vez. É bom eu dizer que ela tinha acabado de tomar banho, então estavam limpinhos. 

Summer: Isso te dá tesão? 

Eu: Nem um pouquinho. 

Summer: Você só queria experimentar? 

Eu: Não, ela é que pediu. 

Summer: Hmmm... 

O que ela quis dizer com aquilo? Hmmm... 

Eu: Você ficou com nojo? 

Summer: Nadinha. Pelo contrário. Acho sexy que você esteja disposta a fazer algo só para dar prazer à sua parceira. 

Eu queria demonstrar a minha dedicação e dar prazer a ela. 

Eu: Sua vez. Verdade ou desafio? 

Ela respondeu na mesma hora. 

Summer: Desafio. 

Eu sabia o que queria. Estava ficando dura dentro da calça só de pensar no que queria que ela fizesse como desafio. Mas não queria ser babaca de escrever "me mande uma foto pelada". Então peguei leve e passei a bola para ela. 

Eu: Me mande uma foto sexy. 

O meu celular ficou quieto por uns dez minutos. Eu tinha começado a me preocupar de tê-la aborrecido quando vibrou. 

Summer: Use as mãos para esconder a tela dos pervertidos do ônibus sentados atrás de você. 

Deixa comigo. 

Alguns segundos depois, uma foto apareceu na tela. Lauana estava completamente nua, mesmo que eu não conseguisse ver tudo em detalhes. 

Ela estava ajoelhada de lado, com um braço cruzado sobre os seios, mas deixando um espaço entre o dedo indicador e o do meio para que o mamilo esquerdo aparecesse por completo. Como se essa já não fosse a coisa mais sexy que eu já tinha visto, a cara que ela estava fazendo era a cereja do bolo. 

A cabeça dela estava ligeiramente inclinada para baixo, de um jeito tímido, mas os lábios estavam entreabertos, fazendo bico, como se estivesse olhando para a câmera por sob os cílios volumosos. 

Que foda. Ela era o sonho de qualquer um. Aberta, extrovertida, com um rosto de santa e um corpo de pecado. Fiquei olhando para a foto e não percebi que o tempo passou, até que ela me escreveu de novo. 

Summer: Diga algo. Fui longe demais? O que você está pensando aí? 

Eu: Quer a verdade? 

Summer: Claro. 

Eu: Que você é linda pra caralho. Estou me perguntando se devo entrar no banheiro com cheiro de mijo pra bater uma ou tentar aguentar até chegar ao apartamento do meu irmão. 

Summer: Hahaha. Feliz aniversário, Marília. Mal posso esperar para dizer pessoalmente. 

Ela deve ter achado que eu estava brincando. Respirei fundo. O ônibus fedia. Vai ter que ser no apartamento do João Gustavo, então. Desculpa aí, irmão. 

O que me lembrou de que... Lauana e eu tínhamos falado sobre passarmos um tempo juntas no fim de semana, mas não tínhamos planejado nada específico e meu irmão queria que eu fosse a uma festa conhecer uma menina pela qual ele estava apaixonadão. 

Eu: O que vai fazer hoje à noite? Meu irmão quer me levar para uma festa em uma república. Quer vir com a gente? 

Summer: Hmmm. Prometi a uma amiga que passaria em uma festa também. Fora do campus. E se fôssemos às nossas festas separadas e nos encontrássemos depois, no dormitório? 

Livrar-nos de duas festas separadamente para depois ficarmos sozinhas me pareceu um ótimo plano. 

Eu: Eu te escrevo quando conseguir escapar. 

Summer: Quero muito te ver. 

Passei a última hora da viagem memorizando cada detalhe do corpo dela na foto. Tinha algo de especial naquela menina – e não era só o fato dela ser muito sexy. Eu até queria que o João Gustavo a conhecesse, coisa que nunca tinha me passado pela cabeça com outras meninas. 

Nenhum de nós tinha levado uma garota para casa para conhecer a nossa mãe. Esse pensamento deixou meu coração pesado, sabendo que agora isso jamais aconteceria. 

Mas, por alguma razão, Summer era diferente. 

Tínhamos passado apenas algumas horas juntas pessoalmente, embora viéssemos trocando mensagens havia mais de um mês. Mas queria que ela conhecesse a família que eu tinha. O Gustavo ia gostar dela – bom, nós tínhamos um gosto parecido em se tratando de mulher.

Amigas com benefícios - Malila | GpOnde histórias criam vida. Descubra agora