44 - O batizado

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Marília Mendonça:

ATUALIDADE – DUAS SEMANAS DEPOIS 

Essa porra estava sendo muito mais difícil do que pensei. 

Sentada em uma cadeira de madeira no jardim da casa do Hugo, olhei para Maraisa conversando com um grupo de mulheres e me perguntei se alguém mais via o mesmo que eu. 

Talvez eles estivessem cegos graças à beleza dela – o sorriso que iluminava um cômodo inteiro, as pernas alongadas e torneadas na medida certa, muito femininas e um vestido justo marcando suas curvas, que cobria tudo de um jeito ainda mais sexy do que se deixasse a pele à mostra. Mas, quando ela me cumprimentou mais cedo, os nossos olhares se encontraram por um segundo e vi antes dela escapar rapidamente. Ela estava sofrendo por baixo daquelas camadas todas de beleza. E eu odiava saber que era eu quem tinha feito isso com ela. 

Bebi a minha segunda água com gás, querendo que fosse outra coisa. Mas, depois de semanas bebendo sem parar – uma merda que eu não fazia desde a morte do Gustavo –, Hugo me fez prometer que ficaria sóbria para o batizado. Era o mínimo que eu podia fazer. 

Meu amigo se sentou na cadeira ao meu lado, com a bebê nos braços usando um vestididinho branco e lindo. 

– A minha mulher vai se divorciar de mim se ela descobrir, sabe. 

– Do que está falando? 

Ele me olhou de um jeito que dizia "não seja babaca". 

– E ela vai descobrir. Ela podia ter continuado achando que você era uma galinha que não queria se amarrar em ninguém. Mas não. Você fodeu com tudo. Desde que ficou bêbada e falou do Gustavo, ela acha que você é uma mulher traumatizada. E você conhece a Maiara. Não há nada de que ela goste mais do que um projeto para curar alguém. Ela não vai parar de cavar até descobrir tudo sobre a sua vida. Eu não vou dar detalhes, mas também não vou mentir para ela. No fim, ela vai perguntar especificidades sobre a doença e vai juntar dois e dois. 

– Não use essa linguagem na frente da minha afilhada, por favor. 

Hugo balançou a cabeça. Ele ficou calado por um momento enquanto olhava para a mulher dele e a melhor amiga dela. A voz dele ficou séria. 

– A Isa merece saber. 

– Não. O que ela merece é muito mais do que posso dar a ela. 

– E você? Você não merece um pouco de felicidade? 

Bebi a água, querendo um drinque para me acalmar da pior forma. 

– Deixe os projetos de cura para a sua mulher.         

•••

Não conseguiríamos nos evitar na igreja. Os padrinhos se sentavam juntos. Maraisa estava com a Caroline no colo. Ela ficava linda com um bebê nos braços – tinha jeito para a coisa. E não tinha nada a ver com o quanto ela era linda. 

Tentei não olhar para ela, lutando contra a minha vontade, porque, por um breve segundo, esqueci que ela não era mais minha. Quando lembrei, ficou difícil respirar. 

Um dos cobertorezinhos da Caroline caiu no chão e me abaixei para pegar, abanando para limpá-lo, embora o chão de mármore estivesse limpíssimo. A igreja estava quente, então coloquei o cobertor no banco, entre nós, em vez de cobrir a bebê. 

Finalmente tive coragem de olhar para Maraisa e, quando os nossos olhos se encontraram, ela me esperou dizer algo, ou fazer algo. Como não fiz nada, ela quebrou o gelo: 

Amigas com benefícios - Malila | GpOnde histórias criam vida. Descubra agora