49 - Seu prêmio

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Maraisa:

Vomitei.

Tinha dito à Marília que precisava ir ao banheiro porque senti aquela queimação no esôfago que a gente sente logo antes de passar mal.

A minha vista ainda estava embaçada com as lágrimas enquanto segurava a cabeça sobre o vaso sanitário, olhando para a água.

A porta do banheiro abriu, mas eu não conseguia levantar a cabeça.

Marília sentou no chão e me abraçou. O calor do peito dela me aqueceu como um cobertor quentinho.

Recostei a minha cabeça contra o ombro dela e chorei. Ela me abraçou firme por um bom tempo, embalando-me e fazendo carinho no meu cabelo, sem dizer nada. Quando nos olhamos, ela falou baixinho:

– Sinto muito. Não queria te contar até ter o resultado do exame.

– Você ao menos estava planejando me contar se desse positivo?

Ela não precisou falar para eu saber a resposta. O olhar dela dizia tudo. Assoei o nariz.

– Bom, estou feliz que o Wendell finalmente tenha tido serventia pra alguma coisa. Como você sabia que eu estava na casa da minha mãe? Nem contei para a Maiara ainda.

– A Izzy me contou quando fui à sua casa.

Recuei.

– Você viu o Wendell?

– Sim.

– Como foi?

– Ele tentou me fazer pensar que você estava lá com ele, que vocês estavam juntos.

Dei um suspiro.

– Ele é tão babaca. Odeio deixar a Izzy lá com ele, mas eu sabia que ela queria passar um tempo com o pai, mesmo que ela não admitisse. Ela o ama e eles precisam se entender para melhorar a relação.

Marília assentiu. Ficou em silêncio durante o momento que se seguiu.

– No que você está pensando? – perguntei.

Ela balançou a cabeça.

– Não sei se fiz a coisa certa ao contar para você. Foi muito egoísta da minha parte. Não poderemos ficar juntas se o resultado for positivo.

– O que você quer dizer com "não poderemos ficar juntas"?

– Não vou fazer você passar por isso, virar minha enfermeira. Vim a Nova York porque sou uma ciumenta idiota. E te contei porque você precisava saber a verdade. Os homens da sua vida desrespeitaram você com mentiras e eu não queria fazer isso. Mas não faria você passar pelo que passei com o meu irmão.

– Mas não é você quem decide isso.

Marília fechou os olhos. Quando os abriu, anunciou:

– Não vamos discutir sobre esse assunto agora. O resultado sai daqui dois dias.

– Tá. – Eu precisava mesmo daqueles dias para digerir tudo e formular respostas para todos os argumentos que ela defenderia para que não ficássemos juntas, caso o resultado fosse, infelizmente, positivo.

Ficamos sentadas no chão do banheiro por mais uma hora enquanto Marília respondia às minhas perguntas sobre a doença.

Ela claramente tinha se informado bastante sobre genética e estatística, além de ter tido a real experiência com a mãe e o irmão. O único lado bom de tudo aquilo é que Marília já tinha passado da idade de ser considerada um quadro juvenil da doença, isto é, quando os sintomas aparecem antes dos vinte anos. A versão adulta da doença em geral se desenvolvia entre os vinte e os cinquenta anos, mas podia chegar até aos oitenta anos e a progressão ficava muito mais lenta, levando entre dez e trinta anos para causar a morte.

Amigas com benefícios - Malila | GpOnde histórias criam vida. Descubra agora