51 - Ligação

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Maraisa:

Estava me sentindo confusa quando acordei com o som do telefone tocando.

As persianas estavam fechadas e eu não tinha noção de que horas eram, nem de onde eu estava em um primeiro momento.

Mas o abdome malhado sobre o qual eu estava deitada me lembrou. Marília estava desmaiada – nem se mexeu ao som do telefone, então peguei o celular dela de cima da mesa de cabeceira.

Parou de tocar assim que peguei, mas a chamada perdida era do tio Abicieli. Vi o horário antes de colocar lá de volta: nove horas. Tínhamos dormido demais.

Com delicadeza, dei uma chacoalhadinha na minha gigante dorminhoca:

– Marília.

– Hmm? – Ela apertou ainda mais os olhos.

– O seu celular tocou. E já está tarde, são nove horas.

Ela abriu um olho.

– Senta na minha cara.

– É essa a sua resposta quando acordo você para dizer que te ligaram? – Ri e dei um tapinha no ombro dela.

– E daí? Gosto de comer assim que acordo.

– Foi o seu tio quem ligou.

Os olhos se abriram e a expressão dela ficou séria de repente.

– O quê?

Ela se ergueu apoiado nos dois cotovelos.

– São seis da manhã na Califórnia. Deve ter algum motivo para me ligar tão cedo.

– Não pensei nisso... Mas então retorne a ligação já.

Marília sentou na beirada da cama. Não pegou imediatamente o telefone. Primeiro, achei que ela estava dando um tempo para acordar direito, mas depois vi a cara dela.

– O que foi?

– Foi o tio Abicieli quem fez os exames. Ele disse que me ligaria assim que tivesse o resultado.

– Mas hoje é quinta-feira. Você disse que o resultado só sairia na sexta.

– Ele disse provavelmente na sexta. Não sei. Ele pode ter ligado por outro motivo... mas...

O celular dela começou a tocar de novo. Nós nos entreolhamos por alguns toques antes dela atender.

– Oi, tio Abicieli. Pode me dar um minutinho?

Marília tapou o telefone e disse:

– Tem certeza de que é isso que você quer? Você não quer saber? É uma decisão importante, Maraisa.

Eu não tinha total certeza, mas estava certa de uma coisa.

– Se for positivo, você vai me deixar. A sua vida não será a mesma. Vou deixar você decidir. Mas não quero correr esse risco. Eu não preciso e não quero saber.

Ela me olhou nos olhos por um bom tempo antes de assentir com a cabeça. Depois, levou de novo o celular ao ouvido.

– Oi, tio Abicieli. Antes de que você diga qualquer coisa, quero avisar que não quero saber o resultado. Então, se for por isso que está ligando, esteja ciente de que não quero saber.

Ouvi a voz masculina do outro lado, mas não consegui distinguir as palavras. Marília olhou para o outro lado, ouvindo com atenção.

– Aham. Sim.

Amigas com benefícios - Malila | GpOnde histórias criam vida. Descubra agora