25 - One if by Land, Two if by Sea.

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Maraisa:

"Marília Mendonça"

Esse era o nome no remetente de um pacote para o qual eu estava olhando desde que o carteiro o havia entregado. Só de ver o nome dela, escrito a caneta com uma letra desleixada, fiquei mais feliz do que estivera na última semana e meia.

Marília manteve a sua palavra e não entrou em contato, deixando a responsabilidade para mim. E, apesar de ter pensado nela pelo menos algumas vezes por dia, eu ainda não tinha tido a iniciativa de ligar.

Eu estava no escritório do meu apartamento, digitando anotações sobre a minha paciente Minnie Falk, que sofria de aritmomania – necessidade de contar objetos ou pessoas compulsivamente.

Diferentemente de muitos pacientes, ela não apresentava um medo específico do que poderia acontecer caso ela não cumprisse os seus rituais de contagem. Ainda assim, sofria de um profundo sentimento de incompletude quando não conseguia organizar as suas tarefas em grupos de quatro elementos.

Eu me recostei na cadeira ainda com o pacote nas mãos e respirei fundo. Os meus medos com relação a Marília não eram diferentes dos medos da Minnie. Eu pensava obsessivamente nela, sentia uma compulsão de conversar com ela todos os dias e sentia uma profunda incompletude quando não o fazia.

Qual tinha sido o meu conselho para Minnie naquela semana?

Estávamos trabalhando no sentido de interromper aquele padrão. Ela tinha parado de fumar havia alguns anos e, nos últimos tempos, teve uma recaída ao perder a irmã.

Gostaria que ela parasse de vez, mas o meu trabalho era no controle do TOC, então foquei no hábito de fumar quatro cigarros seguidos.

Naquele dia, tínhamos trabalhado na mudança daquele padrão como o primeiro passo visando mudar a compulsão. Apesar dela ainda fumar os quatro cigarros de uma vez, eu a fazia esperar sessenta segundos antes de ir para o próximo em vez de acender um no outro. E, depois do terceiro, eu a fiz parar para comer um lanchinho – só um pedaço de queijo – para quebrar um pouco mais o padrão.

Talvez esse contato, o pacote enviado pelo correio, proporcionasse algum alívio com relação aos sentimentos mal resolvidos que eu vinha experimentando, mas sem acabar com a distância entre mim e Marília.

Ansiosa por algum alívio, rasguei a caixa como uma criancinha faz com os presentes de Natal.

No interior dele havia uma espécie de pulseira de pano. Debaixo da marca, havia uma descrição do produto: "Controla o movimento do pulso e do dedão no arremesso da bola de maneira confortável". Sob a munhequeira, havia um bilhete com o símbolo da Khaill-Jergin, a firma para a qual Marília trabalhava. A letra era bem marcada, como se ela forçasse a caneta no papel, com letras altas e traços inclinados, com uma cara bem rústica. Eu era louca de achar que a letra dela era sexy? O bilhete em si era curto e fofo, mas dava o recado.

Agora você tem uma razão para pensar em mim. - M.M

Sorri de orelha a orelha, como uma idiota. Foi tão gentil mandar a munhequeira para a Izzy. Aliás, de modo geral, desde que a conheci, Marília só tinha sido gentil. Claro, ela era direta e vulgar, mas até nisso ela era estranhamente fofa.

Foi quase impossível trabalhar ao longo da tarde. Peguei o celular e depois o guardei de novo – avaliando se devia ligar para ela – umas dez vezes.

Eu devia ligar para agradecer.

Não, a Izzy é quem devia ligar.

Mas seria mal-educado não ligar. Afinal, ela mandou o pacote para mim.

Amigas com benefícios - Malila | GpOnde histórias criam vida. Descubra agora