HELOISA

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Durante a ida à academia de dança, uma tagarela não parava de falar sobre o espetáculo da escola e agradecia por sua tia gostar de dançar. Ela até elogiou minhas habilidades de dança para os colegas, e isso fez com que Estevan, como sempre mal-humorado, apenas escutasse em silêncio. Tentei fazê-la parar de falar, mas foi em vão.

Chegamos à entrada e logo vimos Luan, como se estivesse nos esperando, ou melhor, me esperando. Não quero soar pretensiosa, mas ele sorriu imediatamente ao nos ver e me olhou de uma maneira que deixou claro seu interesse. Luan era um homem muito bonito, do tipo que poderia parar o trânsito, mas não o meu coração. Ele era jovem, tinha 27 anos, e já comandava uma das maiores academias de dança em Madri. Sua mãe era uma dançarina famosa, e ele seguia seus passos. Tinha um corpo musculoso, olhos pequenos, uma boca carnuda e uma pele bronzeada que contrastava com seus cabelos castanhos claros e um queixo bem definido.

Ele veio sorrindo na minha direção, e meus dois acompanhantes ficaram com expressões carrancudas. Bel, minha princesa, não gostava dele, e eu não entendia por quê. No caso de Estevan, acredito que seu mau humor crônico fosse a causa. Bel começou a falar sobre como Luan a encarava, mal notando a presença dela quando chegávamos, mas eu via claramente que ele me observava. Isso deixou Estevan ainda mais irritado, pois Bel era sua menininha e ele não suportava que a contrariassem. Acredito que ele preferiria que a antipatia fosse porque Luan gostava de mim, mas isso era absurdo.

- Luan, como você está linda, Heloísa. - disse ele, com aquele olhar característico. Na verdade, sei que ele quer namorar comigo; ele me pediu várias vezes para considerar a ideia. No entanto, não namoraria alguém só por namorar. Considero Luan um amigo, mas não somos tão próximos.

- Agradeço, Luan! - respondi simplesmente e entrei, evitando qualquer problema na entrada. Fomos para o ensaio, mas Bel chamou o tio para nos assistir, e ele recusou, soltando uma de suas pérolas, quase que sussurrando:  - Se eu ficar, vou matar alguém." 

Ele perguntou quanto tempo o ensaio duraria, respondemos, e ele saiu sem se despedir. Ele podia ser um grosso às vezes.

Durante o ensaio, Luan veio nos cumprimentar, e isso deixou Bel irritada. Para não magoá-la, me despedi e percebi que ele ficou um pouco desapontado, mas a felicidade de Bel era o que mais importava para mim. Quando me virei, Estevan já estava vermelho, e seu mau humor estava visível.

Fiz o que pude para tratá-lo bem e sorri. Senti que ele apreciou o gesto, mas, como sempre, ficou em silêncio e saiu. Nós o seguimos e entramos no carro. Foi Bebel quem quebrou o silêncio.

- Tio, podemos tomar sorvete? - perguntou nossa sapeca.

- Querida, seu tio deve ter coisas para fazer, e estamos ainda com roupas de dança - disse, olhando Estevan sem saber o que ele estava pensando.

- Eu aceito tomar sorvete. Vamos passear um pouco. - disse Estevan com um sorriso encantador, algo que eu raramente via nele.

Paramos no shopping, onde ela adorava o sorvete do McDonald's. Tomamos sorvete juntos, e ninguém parecia se importar com nossas roupas de dança, já que saíamos assim com frequência. No entanto, Estevan ocasionalmente olhava feio para alguns olhares curiosos. Passeamos pelas lojas, e Estevan até me comprou um vestido. Fiquei um pouco pensativa sobre isso, mas achei que era o melhor. Ele era agradável quando queria, e ficava ainda mais bonito quando estava feliz. Hoje ele estava alegre em nossa companhia, e parecíamos uma família.

- Helô, controle-se. Ele é seu irmão, mesmo não sendo de sangue, tenho que respeitá-lo. - pensei enquanto refletia. Continuamos o passeio e, de repente, Bel perguntou o que eu estava pensando. Olhei para eles, e ambos me olhavam de forma pensativa, e acho que fiquei vermelha. Não sabia o que dizer, apenas sorri e os convidei para irmos embora.

No caminho de volta para casa, eles conversaram animadamente sobre o passeio. Bel sugeriu que deveríamos fazer mais passeios juntos e convidar Andreia. Concordamos, pois ela precisava passar mais tempo conosco. Chegamos em casa, eu estava exausta após um dia agitado.

Chegamos com Bel adormecida no banco de trás. Estevan me ajudou a levá-la para o quarto, mas eu a acordei para que ela tomasse um banho, já que ainda estávamos com nossas roupas de dança. Depois de banhar Bel, fiz um lanchinho para ela e a coloquei para dormir.

Eu fui para o quarto Tomei um banho rápido e desci. Pensei no Estevan. Não sei porque, mas não queria deixa-lo sozinho. Desci e o encontrei na sala.

- Ei, você está aí pensativo, Estevan. - comentei. Ele me olhou de maneira diferente.

- Eu estava pensando que nós nunca tínhamos saído juntos assim e nos divertido tanto. - disse, dando um sorriso suave que eu nunca tinha visto. Fiquei até um pouco surpresa ao vê-lo tão descontraído.

Eu estava sem graça com o olhar dele sobre mim e senti que ele queria dizer algo mais. Naquele momento, fiquei pensativa, mas precisava sair dali, pois senti algo mudando entre nós, embora não soubesse o que era.

- Bom, estou com fome. Vou à cozinha para preparar algo para nós - disse, saindo, e percebi que ele me seguia.

- Vou te ajudar.

Ele realmente me ajudou a preparar um lanche leve, e depois nos sentamos para comer e conversamos sobre Bebel. Ele a chamou de "Bel," o que achei fofo. Parecia que ele estava tentando ser simpático, especialmente depois que Bel conversou com ele e pediu para nos levar.

- Heloísa, gostaria de assistir um filme comigo? -  perguntou, com um lindo sorriso, e eu me perguntei por que ele não ria mais. Não aguentei e perguntei a ele.

- Estevan, por que você não ri mais? Seu sorriso é lindo. E, sim. Vamos assistir a um filme. Preciso aproveitar que você está feliz. Não sei por que, mas fico feliz em vê-lo assim.

- Então, meu sorriso é lindo? Bom saber. -  ele respondeu com um sorriso de canto e seguiu para a sala.

Fui atrás e sentei no sofá. Ele escolheu um filme romântico, o que me intrigou, mas não questionei.

Senti que meu braço estava dormente e abri os olhos lentamente. Fiquei assustada ao perceber que estava deitada acima do peito de Estevan. Não sabia como tinha chegado nessa posição e fiquei sem saber o que fazer.

Ao me levantar daquela posição, Estevan também acordou.

- Des-desculpa, nã-ão sei como acabei assim. - falei gaguejando, sem jeito. A Sra. Amália estava viajando, e se ela nos visse daquele jeito, parecendo que éramos irmãos, seria estranho.

- Ei, não precisa ficar nervosa. Não se preocupe, você apenas dormiu. Estava cansada. Não me importei em ser seu apoio. - ele disse, tentando me acalmar.

Levantei depressa e fui sair dali, mas tropecei em um chinelo de Estevan que estava no chão e acabei caindo. Justamente nos braços de Estevan, que me segurou com firmeza. Ficamos nos olhando por alguns minutos, e meu corpo até se arrepiou. Por um instante, pareceu que tudo ao nosso redor desapareceu, e então tudo aconteceu rapidamente: Estevan me beijou.

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Tentei me afastar, mas meu corpo não conseguia se mexer. E eu não pude resistir o que acontecia e me entreguei aquele beijo. Que começou lento e foi se intensificando. E eu senti um carinho que não pensei que Estevan tivesse e um cuidado como se eu fosse uma porcelana que quebraria fácil.

De repente me veio e mente o estava acontecendo e eu fiquei apavorada. Sai do beijo e estava atordoada só consegui dizer:  _ Não posso, não podemos. Deus somos irmãos.

Ele abriu a boca para falar algo, mas eu corri e subi as escadas e logo cheguei ao meu quarto e tranquei a porta. Meu coração batia acelerado. Minha cabeça estava a mil. E meus lábios queriam mais, mas eu não podia.

- Isso é loucura. Não posso. - pulei na cama. Rezei, precisava de um conforto. Deitei e custei a dormir. Acho que Estevan entendeu o que houve, pois não me seguiu. Dei graças a Deus. Depois de não sei quanto tempo dormi.

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