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Recebi a primeira chamada dela e sem atender desliguei o telefone.

Conversei até tarde com os meus pais e principalmente com a minha irmã.

Estava disposto a não lhe dar qualquer satisfação, mas às 7 horas da manhã ela bateu na nossa porta.

Sabia que após os shows eu ia para ali e foi lá que foi procurar-me.

- Quero falar com o Rodolffo.

Eu vinha a descer as escadas e ouvi.

- Deixa estar, pai.  Eu falo com ela.

Saí e puxei-a por um braço até ao carro dela, que por sinal está em meu nome pois fui eu que o comprei.

- Passa-me a chave do carro.

Ela pensando que eu queria conduzir,  entregou-me a chave.

- Agora chama um Uber.  O carro é meu e não sai daqui.  Pede ao teu amiguinho falso médico que te financie um.  Neste não te sentas mais.
Acabou, Carla.  Descobri as tuas tramóias.

Fica a saber que já apresentei queixa contra os dois.  Aguardem pelo castigo.

- Do que estás a falar?  Ele não é médico?  Também fui enganada.

Nunca mais te quero ver à minha frente.  Vocês dois desceram muito baixo.
Porque não me deixaste e o assumiste?

- Eu e ele não temos nada.  Isso são suposições tuas.

- Deixa-me ficar com o carro.

- Não.   Está em meu nome.  Eu sei lá o que vocês poderão fazer e imputar a culpa em mim.

- Idiota.  Isto não vai ficar assim.   Eu hei-de fazer-te voltar para mim.

- Vai sonhando. - respondi enquanto me dirigia para o interior da casa.

Antes de entrar olhei para trás e ela já tinha desaparecido.

Não a vi mais durante algum tempo. A investigação descobriu que ele era um Zé ninguém que se aproveitava das mulheres.  Não tinha emprego nem se lhe conhecia profissão.  Havia outros casos de falsificação de documentos em investigação e agora só precisavam de ligar os casos.

Está semana começou com ela a importunar-me novamente.  Chorava e pedia que voltasse, que estava arrependida e que estava a passar necessidades.

Esse era o cerne da questão.  Não tinha quem a bancasse.

- Procura um trabalho.  É o que as pessoas honestas fazem.

- Tu sabes que eu não posso trabalhar.

- Pede ao teu amigo.

- Ele desapareceu assim que soube que é procurado.

- E tu desaparece também.  Se voltares aqui eu vou apresentar nova queixa.  Não quero que os meus pais passem por isto.

Rodolffo havia recebido uma proposta tentadora, porém difícil.
Ser cantor residente num dos barcos de cruzeiro de uma prestigiada companhia de navegação.

O contrato pedia três meses a viajar e um mês em casa.  O salário era espectacular.  O que o fazia exitar era estar três meses afastado dos pais.

Reuniu a família e explicou tudo.  Os pais sempre apoiaram.  A irmã também.

- Vai filho.   Se é isso que queres, vai.  Daqui a três meses ainda estaremos por cá.

- E é uma oportunidade de ficares longe da doida, disse Bela.

Rodolffo viu ali a fuga para a situação.   Precisava respirar novos ares e fazer o que mais gostava.  Cantar.

Aceitou a oferta e no dia seguinte foi assinado o contrato.   Tinha 15 dias antes da primeira viagem, por isso dava para cumprir os próximos compromissos.

Fuga DuplaOnde histórias criam vida. Descubra agora