Após três semanas Rodolffo recebeu alta. Tivemos que adiar a ida para a nossa casa. Era mais seguro ele ficar sob os cuidados da mãe pois eu precisava trabalhar.
Fiquei este tempo todo com ele no hospital. Aproveitava o período da tarde em que ele dormia para dar uma passada no escritório e resolver algum assunto que demandasse a minha presença.
Rodolffo perguntou-me sobre o que tinha acontecido à Carla.
- Porque queres saber?
- Eu quero apresentar queixa.
- Não adianta. Ela morreu.
- Ela cumpriu?
- Cumpriu o quê?
- Ela disse antes de disparar que me matava e depois se suicidava. Disse que eu tinha acabado com a vida dela.
- Já terminou. Não penses mais nisso.
Hoje quando voltei para casa encontrei um Rodolffo bastante reflexivo.
- Que foi? Quis saber.
- Nada.
- Como nada. Sinto-te triste.
- Não é tristeza. Só hoje li tudo o que tu escreveste. Não me sinto merecedor de ti.
- Como não? Tu foste o meu salvador. Foste o meu primeiro tudo. Foi contigo que eu ganhei forças para me libertar do meu cativeiro. Eu tinha que te dizer tudo aquilo e muito mais. Não te sintas inferior a ninguém porque não és.
- Tu dizes coisas tão lindas e escritas têm outra importância e grandiosidade.
- Só porque te amo um tantão, como tu dizes.
- E é verdade! Amo-te muito.
Juntámos os nossos lábios num beijo apaixonado.
Um mês depois de ter alta, Rodolffo regressou à faculdade. Eu ia e vinha para o trabalho com a Bela e o meu motorista ficou à disposição dele. Não era aconselhável que ele dirigisse sózinho.
Seis anos depois...
Rodolffo e eu casámos numa cerimónia discreta, apenas com a família dele que passou a ser minha também e alguns amigos.
Bela foi viver com o doutor dela há cerca de dois anos e hoje preparamo-nos para festejar a formatura de Rodolffo.
Marcámos um almoço num restaurante com os pais dele, ela e o companheiro, nós, e era só. Para a semana vamos viajar durante duas semanas. Não tivemos lua de mel por conta das aulas dele e vamos aproveitar agora.
Antes de sair de casa eu fiz uma surpresa ao Rodolffo. Faz alguns dias que eu sei, mas queria dar-lhe de presente de formatura.
- Parabéns, meu amor por esta nova etapa da nossa trajectória.
- Presente? Iruuuu!!!
Rodolffo desatou o nó da fita que fechava uma caixa minúscula. No interior estava um bonito porta chaves prateado. Era um pé minúsculo onde estava gravada a palavra Papai.
Rodolffo sentou-se na cama e pôs as mãos na cara começando a chorar. Eu sentei-me no colo dele e abracei-o.
- É verdade? perguntou ele olhando nos meus olhos e colocando a mão na minha barriga.
- É garantido. Fiz exame de sangue.
Ele virou-me e deitou-me na cama ficando sobre mim.
- É surpresa atrás de surpresa, mas esta é muito deliciosa. O meu bébé vai chegar logo. Que felicidade.
- Estás feliz mesmo?
- Muito. Tanto que nem me apetece ir para o restaurante. Por mim ficava aqui contigo só a saborear esta notícia.
- Mas temos que ir. Hoje temos tanto que comemorar. Vamos ter tempo de ficar juntos todos os dias nas férias e não te esqueças que já estamos juntos no trabalho.
- Então vamos lá dar a notícia aos meus pais que vão ficar doidos, porque eu sei da vontade deles terem um neto.
Rodolffo pegou-me ao colo e trouxe-me assim até ao carro.