XXIV

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Após três semanas Rodolffo recebeu alta.  Tivemos que adiar a ida para a nossa casa.  Era mais seguro ele ficar sob os cuidados da mãe pois eu precisava trabalhar.

Fiquei este tempo todo com ele no hospital.   Aproveitava o período da tarde em que ele dormia para dar uma passada no escritório e resolver algum assunto que demandasse a minha presença.

Rodolffo perguntou-me sobre o que tinha acontecido à Carla.

- Porque queres saber?

- Eu quero apresentar queixa.

- Não adianta.  Ela morreu.

- Ela cumpriu?

- Cumpriu o quê?

- Ela disse antes de disparar que me matava e depois se suicidava.  Disse que eu tinha acabado com a vida dela.

- Já terminou.  Não penses mais nisso.

Hoje quando voltei para casa encontrei um Rodolffo bastante reflexivo.

- Que foi?  Quis saber.

- Nada.

- Como nada.  Sinto-te triste.

- Não é tristeza.  Só hoje li tudo o que tu escreveste.  Não me sinto merecedor de ti.

- Como não?  Tu foste o meu salvador.  Foste o meu primeiro tudo. Foi contigo que eu ganhei forças para me libertar do meu cativeiro.  Eu tinha que te dizer tudo aquilo e muito mais.  Não te sintas inferior a ninguém porque não és.

- Tu dizes coisas tão lindas e escritas têm outra importância e grandiosidade.

- Só porque te amo um tantão, como tu dizes.

- E é verdade!  Amo-te muito.

Juntámos os  nossos lábios num beijo apaixonado.

Um mês depois de ter alta, Rodolffo regressou à faculdade.  Eu ia e vinha para o trabalho com a Bela e o meu motorista ficou à disposição dele.  Não era aconselhável que ele dirigisse sózinho.

Seis anos depois...

Rodolffo e eu casámos numa cerimónia discreta, apenas com a família dele que passou a ser minha também e alguns amigos.

Bela foi viver com o doutor dela há cerca de dois anos e hoje preparamo-nos para festejar a formatura de Rodolffo.

Marcámos um almoço num restaurante com os pais dele, ela e o companheiro, nós, e era só.  Para a semana vamos viajar durante duas semanas.  Não tivemos lua de mel por conta das aulas dele e  vamos aproveitar agora.

Antes de sair de casa eu fiz uma surpresa ao Rodolffo.  Faz alguns dias que eu sei, mas queria dar-lhe de presente de formatura.

- Parabéns,  meu amor por esta nova etapa da nossa trajectória.

- Presente?  Iruuuu!!!

Rodolffo desatou o nó da fita que fechava uma caixa minúscula.   No interior estava um bonito porta chaves prateado.  Era um pé minúsculo onde estava gravada a palavra Papai.

Rodolffo sentou-se na cama e pôs as mãos na cara começando a chorar.   Eu sentei-me no colo dele e abracei-o.

- É verdade?  perguntou ele olhando nos meus olhos e colocando a mão na minha barriga.

- É garantido.  Fiz exame de sangue.

Ele virou-me e deitou-me na cama ficando  sobre mim.

- É surpresa atrás de surpresa, mas esta é muito deliciosa.  O meu bébé vai chegar logo.  Que felicidade.

- Estás feliz mesmo?

- Muito.  Tanto que nem me apetece ir para o restaurante.   Por mim ficava aqui contigo só a saborear esta notícia.

- Mas temos que ir.  Hoje temos tanto que comemorar.  Vamos ter tempo de ficar juntos todos os dias nas férias e não te esqueças que já estamos juntos no trabalho.

- Então vamos lá dar a notícia aos meus pais que vão ficar doidos, porque eu sei da vontade deles terem um neto.

Rodolffo pegou-me ao colo e trouxe-me assim até ao carro.

Fuga DuplaOnde histórias criam vida. Descubra agora