IX

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No dia seguinte foi tudo igual.  Eu só via o Alfredo e o Rafael na hora das refeições.   Fora disso não sei o que faziam nem me interessava.  Voltei a ouvir  Rodolffo.   Eu já estava apaixonada pela sua voz e pela sua música.

Depois de mais uma bebida no bar convidei-o para me acompanhar à minha cabine.

- Não é perigoso, Juliette?  Se o teu marido nos apanha.

- Ele não entra lá.  Nunca nos vai apanhar.  E só vamos conversar.

Era verdade.  Já em casa ele nunca entrou no meu quarto.

Conversámos durante bastante tempo, mas o clima esquentou e começámos a beijar-nos.

Eu era inexperiente.  Casei com 17 anos e nunca tinha beijado um homem.  Quando nos separamos senti vergonha e baixei o olhar.

Rodolffo segurou-me no queixo e levantou-me a cabeça olhando nos meus olhos que estavam molhados.

- O que foi?  Desculpa se não deviamos ter-nos beijado.

- Não é isso.  Eu nunca tinha beijado um homem.

Ouvi aquilo como uma paulada e abri os olhos.

- O quê?  Nunca beijaste?  E o teu marido?

- Nós só somos casados no papel.  Ele nunca me tocou.

- Então,  tu és...

- Sim.  Virgem.

Juliette baixou novamente o olhar e Rodolffo apertou-a num abraço.

Estavam os dois deitados na cama e Rodolffo puxou-a para o seu peito.

Ficaram assim durante um longo período de tempo.  Ela acariciando o peito dele e ele fazendo festinhas no seu cabelo.

Pouco mais disseram nessa noite.  O silêncio entre eles soube bem aos dois.  Por fim ele levantou-se pois precisava ir.

Beijaram-se novamente e ela disse:

- Obrigada.  Hoje estou feliz.

Ele abraçou-a de novo e deu-lhe mais um selinho.

- Procuro-te amanhã.

- Depois do almoço fico sempre nas espreguiçadeiras.

Ela abriu a porta e espreitou para ver se não tinha ninguém.   Ele saiu e ela fechou novamente a porta.

Deitou-se na cama e respirou fundo.
Pela sua mente passaram todos os momentos desde que tinha embarcado naquele navio.

Depois de sair do quarto dela, Rodolffo passou novamente pelo bar.  Era tanta informação que precisava de uma bebida.  Pediu um whisky e ainda não o tinha terminado quando viu entrar Alfredo e Rafael.

Alfredo pediu dois whiskies e ficaram ali mesmo perto dele, encostados ao balcão.

- As melhores férias que tive, disse Alfredo.
Aqui ninguém me conhece e por sorte neste cruzeiro não veio ninguém conhecido.

- E se viesse?

- Tinha a Juliette para me dar cobertura.  Onde andará a bichinha.

- Ela parece ser boa pessoa.

- E é.  O pai é que foi um idiota.  Um judas. Vendeu a filha para se livrar da prisão.

Terminaram a bebida e saíram.  Aquilo deu-me volta ao estômago. A vontade que eu tinha naquele momento era partir-lhes os dentes todos.

Fui para o meu quarto e mais uma noite em que tive dificuldade em dormir.  Felizmente estou aqui sózinho.   A tripulação tem quartos partilhados, mas eu tenho um só para mim.

Fuga DuplaOnde histórias criam vida. Descubra agora