Carla sempre deixava os papeis comprovativos da sua doença no nosso quarto, bem à vista para que eu não me esquecesse.
Esta noite eu não tenho show. Como habitual passei na casa dos meus pais e tomei café com a Bela.
Pedi para ela me dar o contacto do médico dela e expliquei o que queria.
Ela prontificou-se a ir lá comigo. Ligou e marcou para as 16 horas.
Fui para casa e a ladainha era a mesma. Fingi ir dormir, mas após ela sair eu fui atrás.
Ela dirigiu até um parque da cidade e foi até à esplanada do café.Um homem já a esperava. Cumprimentaram-se com um beijo e pediram café.
Depois que a Bela me falou aquilo eu comecei a analisar melhor a Carla. Para quem sofria de câncer de pulmão ela parecia muito bem. Até a respiração era normal.
Resolvi aproximar-me da mesa onde estavam os dois.
Carla ficou atrapalhada quando me viu, mas disfarçou muito bem.
- Vim tomar um café e encontrei aqui o meu querido médico. Senta-te querido.
Com toda a calma eu sentei-me.
- Ia dormir, mas resolvi vir ter contigo.
- Fizeste bem. Faz tempo que não saímos juntos.
Cumprimentei o fulano e tomei um café. Trocámos meia dúzia de palavras acerca da doença dela e resolvi ir embora.
- Preciso ir. Vou ter com a Bela. Temos um assunto do pai para tratar. Vejo-te mais logo.
- Eu vou ao shopping e depois para casa.
- Certo. Até logo. Muito gosto, doutor.
Fui almoçar com os meus pais e esperar pela Bela que foi trabalhar de manhã.
- Cheguei mano. Podemos ir quando quiseres.
Eu só queria a confirmação se o tal fulano era mesmo médico e só poderia pedir ao da Bela pois ela já me tinha falado que ele e ela estavam a conhecer-se.
Chegámos ao consultório do Ricardo e fomos logo atendidos. A Bela apresentou-nos e explicou o que queria.
Ele olhou para os documentos que eu levava e fez uma careta.
De caras, tem aqui termos que nós médicos não utilizamos, mas vou fazer um telefonema.
Ligou para o hospital que constava no documento e falou com o diretor clínico que por sorte era seu conhecido.
Forneceu diversos dados, recebeu as respostas que pretendia, finalizou e agradeceu a chamada.- Temos aqui um caso de falsificação de documentos e não só. Este senhor não é nem nunca foi médico.
- Vês Rodolffo. Eu sabia que ela não era de fiar.
Eu agradeci e saí. Ricardo estava em final de expediente e Bela ficou com ele.
- Vejo-te logo mana. Hoje eu volto para casa dos pais.
Saí dali e fui apresentar queixa contra os dois. Depois voltei para casa, fiz as malas e regressei ao ninho de onde nunca devia ter saído.
