IV

53 11 7
                                    

Carla sempre deixava os papeis comprovativos da sua doença no nosso quarto, bem à vista para que eu não me esquecesse.

Esta noite eu  não tenho show.  Como habitual passei na casa dos meus pais e tomei café com a Bela.

Pedi para ela me dar o contacto do médico dela e expliquei o que queria.

Ela prontificou-se a ir lá comigo.  Ligou e marcou para as 16 horas.

Fui para casa e a ladainha era a mesma.  Fingi ir dormir,  mas após ela sair eu fui atrás. 
Ela dirigiu até um parque da cidade e foi até à esplanada do café.

Um homem já a esperava.   Cumprimentaram-se com um beijo e pediram café.

Depois que a Bela me falou aquilo eu comecei a analisar melhor a Carla.  Para quem sofria de câncer de pulmão ela parecia muito bem.  Até a respiração era normal.

Resolvi aproximar-me da mesa onde estavam os dois.

Carla ficou atrapalhada quando me viu, mas disfarçou muito bem.

- Vim tomar um café e encontrei aqui o meu querido médico.   Senta-te querido.

Com toda a calma eu sentei-me. 

- Ia dormir, mas resolvi vir ter contigo.

- Fizeste bem.   Faz tempo que não saímos juntos.

Cumprimentei o fulano e tomei um café.  Trocámos meia dúzia de palavras acerca da doença dela e resolvi ir embora.

- Preciso ir.  Vou ter com a Bela.  Temos um assunto do pai para tratar.   Vejo-te mais logo.

- Eu vou ao shopping e depois para casa.

- Certo.  Até logo.  Muito gosto, doutor.

Fui almoçar com os meus pais e esperar pela Bela que foi trabalhar de manhã.

- Cheguei mano.  Podemos ir quando quiseres.

Eu só queria a confirmação se o tal fulano era mesmo médico e só poderia pedir ao da Bela pois ela já me tinha falado que ele e ela estavam a conhecer-se.

Chegámos ao consultório do Ricardo e fomos logo atendidos.  A Bela apresentou-nos e explicou o que queria.

Ele olhou para os documentos que eu levava e fez uma careta.

De caras, tem aqui termos que nós médicos não utilizamos, mas vou fazer um telefonema.

Ligou para o hospital que constava no documento e falou com o diretor clínico que por sorte era seu conhecido.
Forneceu diversos dados, recebeu as respostas que pretendia,  finalizou e agradeceu a chamada.

- Temos aqui um caso de falsificação de documentos e não só.  Este senhor não é nem nunca foi médico.

- Vês Rodolffo.   Eu sabia que ela não era de fiar.

Eu agradeci e saí.  Ricardo estava em final de expediente e Bela ficou com ele.

- Vejo-te logo mana.  Hoje eu volto para casa dos pais.

Saí dali e fui apresentar queixa contra os dois.  Depois voltei para casa, fiz as malas e regressei ao ninho de onde nunca devia ter saído.

Fuga DuplaOnde histórias criam vida. Descubra agora