9° Capítulo: Chamado silencioso

179 43 17
                                    


                                                         03:01 AM Sunday
                                                                             Inverno

        À medida que os minutos passavam, mais a ansiedade conseguia corroer cada espaço do consciente do ruivo, consumindo-o como um verdadeiro parasita. No entanto, seu corpo não demorou muito para adormecer por completo, e seria muito difícil dizer com exatidão em quanto tempo a inconsciência tomou conta de sua mente. A única coisa que o ruivo poderia afirmar era que o sono se assemelhava ao efeito de um medicamento, profundo e ininterrupto. Poderia lhe acontecer qualquer coisa, qualquer tipo de emissão de barulho, e ainda assim arrisco que ele não escutará.

        Porém, uma voz ressoando com incomparável altura e rompendo todos os ilusórios de sua mente, possui a capacidade de o despertar com um susto, erguendo as costas de uma só vez e perguntando-se por que tamanha gritaria.

Amélia — Desliga isso, Apuh! Acaba com esse vídeo agora mesmo. — os gritos de sua avó ecoam por seu cérebro como uma sinfonia mais assustadora que exista no mundo. Forçou sua visão, em total estado de confusão, e pode ver o exato momento em que algo acertou a vidraçaria da janela. Uma pedra, presumiu.

Robert — Amélia, tranque as janelas e abaixe as cortinas. Agora! — A voz grave e exasperada de seu avô ressoa pelo quarto, mas o ruivo não conseguia enxergá-lo nitidamente.

Pedrux — Apuh, acabe com esse vídeo agora! — Gritou seu irmão, jogando em sua direção o celular e ao olhá-lo, levemente assustado por tamanho desespero, visualizou a câmera traseira com um trinco alarmante, como se estivesse estourada.

Robert — Apuh e pedrux, não saiam desse quarto e tranquem a porta imediatamente. — ouviu a voz de seu avô

        A vista do ruivo não focalizava em nada além da câmera e da vidraça da janela, com muitos riscos e rachaduras por todos os cantos, como se alguém a vandalizasse brutalmente. Seus ouvidos tilintavam um chiado esquisito, semelhante aquele que temos durante a aterrissagem de um avião e aumentava a intensidade a cada segundo, tornando de qualquer mero ruído uma tortura para os seus tímpanos. Era como se o mesmo estivesse com um grau de surdez e os olhos enchendo de lágrimas, embaçando sua vista de maneira agonizante. Mas, ainda assim, pode distinguir a correria de seus avós, juntamente com gritos exasperados e um choro desesperado. Alguma coisa estava acontecendo.

        Com as mãos trêmulas, apertou o botão de desbloqueio do celular e logo a tela foi iluminada por uma gravação sendo feita, por mais de uma hora gradativamente. A finalizou, sem entender o que significava aquilo ou o porquê do seu celular estar em modo de gravação. Deixou o celular em cima do travesseiro, vagando o olhar pela claridade exagerada do quarto.

Amélia — Coloque alguma coisa na porta, Robert! — o grito de sua avó perfura seus tímpanos, causando instantaneamente uma dor aguda. Levou os dedos até às têmporas, massageando-as na tentativa de aliviar o incômodo. Tinha alguma coisa errada consigo e o fato de não saber o que pode estar o agonizando, ou melhor, está o assustando.

         Ele não conseguiu compreender o motivo para seus avós estarem tão desesperados em trancafiar a casa, gritando pelos cômodos e correndo de uma janela a outra. Nem do por que seu irmão mais novo se encontrava encolhido ao canto de seu quarto, chorando e tremendo. Mas, ao sentir uma melhora na audição, pode ouvir as batidas que lhe eram desferidas no andar de baixo, com tamanha brutalidade que poderia julgar até mesmo ser na porta de seu quarto. Havia alguém tentando invadir a casa e talvez seja por isso que o caos se instaurou entre os demais residentes da casa, afinal, não é muito comum que coisas assim aconteçam durante a noite em Amystic.

       Definitivamente, havia alguma coisa acontecendo e o ruivo não estava ajudando em nada, atônito em cima da cama como uma estátua.

       Levantou-se em um sobressalto, esparramando as cobertas em cima do colchão e procurando o par de chinelas. Porém, antes que qualquer passo fosse dado, uma sensação repentina e bastante corpórea se apossou de todo o seu ser; os barulhos que se ecoavam pela casa foram silenciados por um solavanco no andar de baixo, semelhante a um chute desferido a porta, o silêncio se instaurou e permitiu que uma espécie de chamado ecoasse pelo sua mente.

        Não emitia sons ou vozes, apenas dominava cada resquício de seu consciente e obrigava seus pés a andar, lento e cautelosamente pelo carpete do quarto, posteriormente o corredor, o lance de escadas e, por fim, a sala de estar. Ele não conseguia distinguir onde pisava ou o que estava ao rodear, apenas sentia esse assustador chamado reverberar por sua cabeça, forçando-o a segui-lo até a porta da sala. Era um chamado silencioso para que ele o encontrasse.

   “segure ele!” gritou uma voz feminina, tão alta como um trovão que rasga o céu. No entanto, o ruivo não a distinguia e muito menos endereçava algum tipo de atenção, pois havia algo o chamando para fora de casa. Havia algo irreconhecível para si, clamando por seu nome naquele tortuoso silêncio da mente humana. “maninho!” reverberou uma voz masculina, agarrando seu braço no processo. “ Acorde!” outra voz masculina se fez presente, agarrando o outro braço livre do ruivo e isso foi o bastante para que o mesmo começasse a se debater, querendo incansavelmente respeitar o chamado que ficava cada vez mais forte em sua cabeça.

       Faltava pouco para que se colidisse com a porta, quando aquela voz feminina gritou a plenos pulmões:

Apuh Amsterdam!

    O relinchar de um cavalo raivoso.

     Braços amparando-o.

     Uma escuridão se apossando pouco a pouco de sua visão.

       De repente, não havia mais chamado, não havia mais nada.

Notas do autor:

Palavras do capítulo: 944          

    Capítulo curto, mas tenso. Espero que tenham gostado, até a próxima atualização! 

O Cavaleiro Das AlmasOnde histórias criam vida. Descubra agora