19° capítulo: De: LG. Para: Apuh Amsterdam.

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                                                       [ … ]

    A contar pela quantidade de vezes que li e reli tuas palavras, julgo tê-las memorizadas com grande afinco. Posso afirmar com veemência que senti cada sensação que você deixou transparecer em cada belo parágrafo. Sinto o receio, a culpa, a conformidade e, sua intragável curiosidade.

        És um garoto bem curioso, dá para se notar desde o início.

      Contudo, devo admitir que também tenho curiosidade em mim, em meninas até mesmo inimagináveis.

       As mazelas da vida que me fora concedida por erros cometidos são assombrosas, solitárias e cada vez mais destrutivas. São profanas, e poucas foram as vezes que não sucumbi ao meu próprio medo. Sou um homem sujo por impurezas cometidas por mim, mas que fora sugado por algo ainda pior e que permanece sendo parasitado por esse mal. Noite após noite, madrugada após madrugada, andei por estas ruas buscando entender o motivo por ter merecido tamanho castigo, e quando consigo encontrar um minúsculo feixe de luz na escuridão que banha a cidade de amystic, este mal me consome e espada em minha mão reluz a grotesca tonalidade do sangue humano. Quando estou por perto, o mal retorna e me encobri.

         E ainda que os dias não existam para mim, tampouco a incidência solar da primavera que está para chegar, algo foi capaz de emitir uma luz com maior intensidade. Em uma noite, a qual havia um pobre rapaz perambulando pelas ruas imerso em seu próprio caos, eu vi a luz pela primeira vez. Era diferente, quase como as chamas do entardecer. Quente.

          Eu a senti, a vi, a contemplei, durantes os milésimos segundos que o mal não consome meu ser. E a sensação emitida por aquela luz, jamais pude sentir em outro momento dessa vida pútrida.

          Reluzia bondade, altruísmo, doçura, beleza e a mais imensurável paz. Embora uma notória afobação para salvar o jovem rapaz, eu soube que aquela chama, aquela belíssima chama, emendava tudo o mais genuíno no mundo.

          Então, Apuh Philips Amsterdam, eu também sou curioso. Aquela chama me fez procurá-la dentro dos mais simplórios que o mal ainda me contempla, mas não a encontrei.

          Ela não existia se eu não saísse das profundezas. Ela não existia se não subisse no cavalo e a procurasse, observando cada uma das janelas e ruelas de Amystic. Ela não existiria se não ficasse exatamente naquele lugar, de frente a aquela janela. Simplesmente não existia.

          Quando estou naquele exato lugar, sou capaz de senti-la e se a mim fosse concedido o poder de escolha, ficaria perto daquelas janelas todas as noites, apenas para vislumbrar a pequena parte humana que ainda reside em meu ser. Essa luz, essa estonteante luz, traz-me sensações dos dias em que o sol iluminava minha pele. Traz-me a doce sensação de estar vivo.

          Sou curioso, um homem e um ser curioso. Contudo, receio dizer que uma apresentação ainda não está ao meu alcance, pois não há o que dizer sobre a coisa que me tornei por essa carta.

         Apuh Philips Amsterdam, amado jovem curioso, escrevo essas palavras entornado pela escuridão que tornou-se minha moradia. Idealizo suas feições ao lê-las, embora ainda não conheça seus traços. Vejo na mazela dos seus pensamentos você lendo-as e imaginando as mais surreais coisas ou significados das metáforas por mim usadas.

          Espero que as entenda, e que não culpe a insanidade por algo que está destinado a viver.

         Aguardarei sua resposta.

                             Atenciosamente, LG, O Cavaleiro das Almas.”


                                                [ ... ]

Palavras do capítulo: 573
A resposta do nosso querido cavaleiro, bjs!

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⏰ Última atualização: Nov 02 ⏰

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