16° capítulo: Não mais o trotar

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                                                                   Wednesday 
                                                        Winter/ 10:20 AM

 Apuh Pov’s ;

     Amystic, uma cidade localizada na região da Bretanha, na França e que fica cerca de 13 quilômetros do mar, conhecia a escuridão tão bem como conhecia cada um de seus habitantes. Em muitos momentos, quando ainda era um garotinho, os meus progenitores diziam que a cidade fazia com que todos dormissem, pois, somente assim as pessoas conseguiam ficar protegidas do tremor de cada noite.

      E hoje, aos 23 anos, posso dizer que enxergo o real significado da expressão usada por meus pais. A cidade de Amystic caia em profundo sono antes de virar a noite, como se houvesse algum toque de recolher que emergia de todos os habitantes, sem o uso de sirenes, autoridades ou modestas sinalizações. Não havia nada, tampouco precisava. Todos que aqui vivem, já possuíam a ciência do início e do fim do toque de recolher. 

       E Amystic possuía uma notória forma de adormecer seus habitantes, a qual pude reparar apenas ao decair da idade. Um famoso chá preto, responsável por atrair muitos nativos e turistas durante todo dia, abaixava suas portas às 20hs, sem atrasar um único minuto. O mesmo acontecia com restaurantes, pizzarias e cafeterias, todos muitos frequentados diariamente. 

       Muitos lugares mais badalados, como cervejarias e feiras, encerram o funcionamento antes que o ponteiro chegue ao número onze. A entrada do famoso hotel de Amystic é proibido à entrada após meia-noite. Várias lojas e conveniências são fechadas antes mesmo das 21h. 

      Como em muitas histórias, o poente do sol marca o declínio das atividades e pouco a pouco a vida deixa de resplandecer por entre as ruas. Está acompanhada por tempestades de nevascas, um vento congelante. Podemos dizer que esse momento crucial é exatamente quando os históricos castelos da cidade sucumbem na escuridão profunda. Somem como se estivessem sendo escondidos, ou melhor dizendo, como se estivesse querendo escondê-los. 

     A costa de Plage de saint-anna torna-se tão deserta como um parque abandonado no meio da madrugada – triste e silencioso. 

     A cidade é posta para dormir, pois conhece a escuridão que caminha pelas ruas da mesma forma que conhece cada um de seus moradores. O cavaleiro das almas era a escuridão de Amystic e, como uma ironia do destino, percorria cada canto da cidade em busca de almas desavisadas que ignoravam o toque de recolher. 

       A cidade conhecia a escuridão, contudo, a escuridão também a conhecia muito bem. 

 …

Serra — Cê deveria escrever um livro. É sério, isso tá incrível e olha que nem li tudo. — Diz serra, meu novo amigo, entregando-me o maço de papéis de um projeto de faculdade. 

Isso Ainda é só um rascunho, nada demais. — respondeu, guardando as folhas dentro da bolsa que estava ao meu lado. — Eu meio que tenho pouco tempo para acabar com isso, mas finalizo sexta. 

     Serra franze as sobrancelhas, a mostra devido o alinhamento de seus fios escuros. 

Serra — Achei que cê já estava de férias. 

Digamos que esse projeto seja Extra curricular… 

Serra — E você é do tipo sedento por pontos a mais? — completou com um sorriso astuto.

O Cavaleiro Das AlmasOnde histórias criam vida. Descubra agora