14° Capítulo: Paciência não é uma arte

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                                                                          Tuesday 
                                                         Winter/ 10:20 AM

       A paciência nunca se mostrou algo de forte influência na vida de Apuh, principalmente em determinados setores que perpetuam-se desde a infância e as complicações da adolescência. Por impaciência o acidente ocorrido em seu aniversário de nove anos levou uma das pessoas que mais ama e amará, seu pai. O fato de não ter tido a mera capacidade de esperar, ao menos por algumas horas a mais, acarretou uma das várias cicatrizes que tenta, cotidianamente, camuflar com o máximo de alegria corriqueira possível. Afinal de contas, deduzo que seja mais fácil esconder uma ferida do que ficar revivendo-a dia após dia. 

      A impaciência levou seu pai para um mundo desconhecido para si, assim como também o fez acordar antes que o sol nascesse para conseguir pegar o primeiro trem que saísse, que partirá para Rennes às 4h50. O inverno já havia começado desde a derradeira semana e junto com ele o início das férias, ou férias de inverno, como socialmente conhecida. Ainda havia algumas pendências para resolver de seu curso, então, antes que precisasse carbonizar neurônios com e-mails e a ausência de retorno, optou por deslocar-se até a West Sunrise College e resolver tudo presencialmente. 

      O trem, não muito tumultuado para uma terça-feira, partiu exatamente no horário que indicava em seu bilhete de embarque e após 50 minutos já estava descendo na cidade vizinha. O clima estava ameno, aqueles que estivessem com uma roupa inadequada com certeza congelaram. 

? — Não deveria ficar tanto tempo sem dar as caras na universidade, Amsterdam. — ouviu o mais embargado sotaque britânico ao seu lado, entre o burburinho que pairava sobre a plataforma da estação. Olhou para dlet, um dos melhores na área do jornalismo e aquele na qual tinha muito contato no passado. 

Com meus avós em Amystic fica difícil vir para cá todos os dias. — Respondeu com um pequeno sorriso nos lábios, ficando de frente ao rapaz de madeixas castanhas e olhos da mesma tonalidade. Dlet Rudson era o perfeito estereótipo de “crush university”, com seus traços atraentes, o estilo casual, a maestria em pilotar sua moto e incontestável inteligência. 

Dlet — O que foi? — indagou com o riso soprado, firmando as mãos na alça da mochila. O ruivo mudou o peso do ruivo para o outro pé, unindo as mãos para frente do corpo. 

Nada, só estava pensando em algumas coisas. 

Dlet — Que me incluem? 

Talvez sim, talvez não. — insinuou, sentindo o quão sorrateiro o seu tom de voz acabou soando. Dlet abriu um de seus belos sorrisos, que carregava consigo uma das covinhas. 

     Em suma, a simplicidade que a sua vida possuía jamais pareceu tão longínqua como naqueles instantes, onde dlet Rudson levara-o até a estação de moto e indagava sobre uma festa que poderiam ir juntos, minutos antes que o trem que o ruivo pegará aparecesse na plataforma. As coisas não estavam mais tão simples para si, e ainda que quisesse se permitir ter um momento de descontração com um colega da faculdade, não poderia questionar o trajeto que vem percorrendo desde o último mês. Não poderia aceitar um convite de dlet, mesmo que extremamente tentador. 

     O ruivo buscava formas de contatar o ser místico que assombra Amystic. Como conseguiria colocar um sorriso no rosto e fingir ainda ser o mesmo Apuh do início do ano, que preocupava-se com as atividades e projetos universitários? 

   A impaciência o conduziu aos seus passos até a cidade vizinha de Rennes, assim como o levou à “anormalidade” que tem hoje. 

Dlet — Quando tudo parecer muito louco, me liga. 

O Cavaleiro Das AlmasOnde histórias criam vida. Descubra agora