Capítulo 3

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Flórida

St. Augustine Hospital

Não sei o que deu em mim por me mostrar assim para alguém que acabei de conhecer. Talvez só estivesse precisando tirar aquilo do peito, mas foi imprudente da minha parte.

Joyce Hamilton está dormindo calmamente. Do sofá que estou tenho uma boa visão das máquinas ligadas ao corpo dela na cama e de todo o quarto. Não é um quarto de hospital diferente dos outros: paredes azuis, uma cama com uma cadeira para visitas ao lado, maquinas que a ajudam a se recuperar, um suporte para bolsas de soro, uma mesa estreita que serve de apoio para medicamentos, um banheiro e um sofá. Nada que diferencie de qualquer outro.

Pego o jaleco que tinha deixado no sofá, dou uma última olhada nos batimentos cardíacos dela e saio do quarto para mais um longo dia de trabalho. Do lado de fora está como sempre esteve: agitado. Enfermeiros andam de um lado para o outro com bolsas de soro ou carregando lençóis de cama para quartos de pacientes.

Antes de ir ao elevador, paro na frente do quarto do pequeno Miguel, um menininho de quatro anos com problemas renais. Ele está em uma cadeira de rodas, finalmente pronto para voltar para casa depois de meses no hospital. A mãe dele - uma mulher alta, cabelos negros e rosto amigável - sorri ao me ver e sussurra algo no ouvido do Miguel, que acena feliz para mim. Aceno de volta e sigo para o elevador.

Quando as portas se abrem, um homem sai às pressas murmurando algo para o celular preso entre sua mão e sua orelha. Ele olha em meus olhos, como se pudesse ver a minha alma, sorri educadamente e segue o caminho. Por mais estranho que tenha sido, aquele estranho tem algo incomum que chama minha atenção.

No segundo andar nada está diferente também, a não ser pelos sermões de Andy para Alice que está de cabeça baixa apenas ouvindo. ele aparenta estar bem irritado com seja lá o que ela tenha feito. Me aproximo dos dois no momento em que ele a está dispensando:

- Muito bem, agora vá e tente não errar da próxima vez.

O olhar de Alice para mim é quase mortal.

- O que ela fez?

- Nada demais, só quase começou um incêndio ao tentar entubar um paciente.

- Como se faz isso?

- E eu sei? Mas ela encontrou um jeito. - Ele ri baixinho. Parece mais tranquilo desde que nos encontramos duas horas atrás - você demorou lá. O que aconteceu?

- Digamos que Joyce e eu tivemos uma conversa bem...profunda.

Ficamos em silêncio enquanto caminhamos para o vestiário. É um silêncio confortável, até ele começar a fazer perguntas:

- Por que não respondeu minhas mensagens? Fiquei preocupado.

- Eu bebi um pouco, tomei um banho quente e demorado, vi uma foto do Marcos e fui dormir.

- Ah, Lena... voltou a beber? Me tinha dito que ia parar!

- Não sou boa com promessas, Andy, você sabe disso. Além do mais, a bebida tem me ajudado a suportar a solidão daquela casa.

- Já te disse que pode ir morar comigo se quiser, pelo menos por um tempo. O Baunilha e eu ficaríamos felizes se você fosse.

- Sabe que eu te amo, não é? Mas a ideia de morar com você não me parece nada legal.

- Se você diz..., mas as minhas portas sempre estarão abertas para você.

Paramos de frente à porta do vestiário.

- Valeu, Andrew - sorrio ao mencionar o nome dele. Ele fecha a cara ao ouvir.

- Odeio quando me chama assim. - Ele abre a porta para mim e sorri. Sempre amei o sorriso invertido que ele tem. - Boa sorte com a Hamilton.

Filha Do MalOnde histórias criam vida. Descubra agora