Capítulo 18

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Flórida

Convento St. Augustine, 1761

Era uma bela manhã de segunda feira. O sol levantava preguiçosamente no horizonte acordando os pássaros que já cantavam alegremente. No convento, todas as freiras já estavam de pé há uma hora fazendo suas preces e preparando o desjejum em um completo silêncio. Com exceção de Ava, que terminava de arrumar uma pequena bolsa para passar o aniversário com os pais.

Sem poder falar com Emilly, Ava não tinha esperança de levar a pobre moça consigo, mas conversaria com seus pais sobre o assunto dela e tentaria ajudá-la a sair daquele lugar que só a maltratava.

Fechou a mala e sentou-se na cama. Queria sair do quarto e falar com Emilly, mas sabia que a madre tinha colocado todas as freiras de olho nelas duas para que nem se olhassem.

Uma leve batida na porta do outro lado da porta fez Ava deixar seus pensamentos de lado e levantar da cama. Andou até lá e assim que abriu a porta viu sua tia Tereza com um largo sorriso no rosto.

- Feliz aniversário, querida! - puxou ava sem um aviso prévio para um abraço bem apertado na jovem.

- Obrigada, tia. Meu pai já chegou? - perguntou se desvencilhando do abraço da anciã.

- Ainda não, meu bem. Mas a madre me pediu para vir chamá-la. Ela disse que quer dar uma palavrinha com você antes de ir. - Ava assentiu - deixe-me levar suas coisas para o saguão, assim não se atrasa com a madre Abigail.

A garota ruiva pegou sua pequena bolsa de roupas e, antes de sair, fez o sinal da cruz no peito diante de um crucifixo de madeira pregado ao lado da cama. Encontrou-se com Tereza na porta e lhe entregou a bolsa de peso moderado. Caminharam em silêncio até o fim do corredor repleto de portas de madeira que fechavam os dormitórios das outras freiras e quando viraram à direita, Ava fez a pergunta que lhe apertava o peito:

- Tia, por que se tornou freira?

A freira mais velha e baixa ficou em silêncio, mas logo um sorriso genuíno formou-se em seu rosto.

- Deus me chamou para essa vida. Eu soube disso desde que eu era uma menininha e, quando fiz dezesseis anos, me inscrevi para entrar no convento e estou aqui desde então. Fiz meus votos com vinte e um anos, assim como você fará, e minha vida nunca mais foi a mesma. - ela fez uma pausa e olhou para a expressão de Ava - sei que dá medo quando chega nessa parte, mas vai valer a pena quando você fizer seus votos e se entregar completamente aos mandamentos de nosso Senhor.

- A senhora acha mesmo que eu sirvo para essa vida? Eu ainda tenho tantos pensamentos mundanos que às vezes me acho indigna do amor Dele.

- Ninguém é indigno do amor de Deus. Ele ama a todos da mesma forma.

- Até Emilly? - sua voz saiu como um sussurro. Era doloroso saber que mesmo sendo uma moça bem católica, Emilly era vista como uma abominação por Ele.

- Pessoas como a senhorita Phillips nascem puras, mas são corrompidas pelo mundo. Elas são batizadas ao nascer e ainda assim optam pelo pecado que as condenam a uma vida de aflição e uma eternidade no fogo do inferno. Eu sei que você gosta dessa moça, Ava, mas, como sua tia, peço que se afaste dela o mais rápido possível.

- Mas se Deus ama a todos, por que condenar pessoas homossexuais? a senhora sabia que a madre torturou Emilly para tirar o pecado dela?

- Não foi uma tortura, querida. - Tereza parou e virou-se para ava, olhando-a bem nos olhos - a madre Abigail usa métodos que são aceitos até pelo papa para fazer os cristãos libertarem-se de seus pecados.

Filha Do MalOnde histórias criam vida. Descubra agora