St. Augustine, Flórida
Casa de Brenda Murphy
A conversa com Marlon ainda perturba minha mente. Como pode nós dois termos visto a mesma coisa?
Depois que deixei a casa dele, peguei meu carro e voltei para casa; no caminho de volta vi algumas amigas de Brenda passeando nas ruas e elas me pararam apenas para perguntar o motivo de minha madrasta não ter ido ao encontro delas. Quando disse que não sabia, elas fecharam a cara e saíram murmurando alguma coisa sobre eu ser tão útil quanto uma pedra.
Antes de abrir a porta de casa decido verificar mais uma vez a janela da sala que foi quebrada no meu sonho. Não tem sequer uma mancha de sangue ou qualquer resquícios de sujeira, mas, no gramado abaixo da janela, aquele mesmo graveto que eu usei para cutucar o corvo morto está na mesma posição que estava no sonho. Uma brisa fria bate em minhas costas me fazendo arrepiar o corpo inteiro.
Quando entro em casa, não vejo ou ouço nada. Deixo minhas chaves no rack de madeira escura da sala ao avistar a porta da cozinha aberta para o beco que dá para o quintal dos fundos, onde Brenda deve estar cuidando das preciosas flores e vegetais. Penso em ir até lá, mas ouço meu telefone tocar no meu quarto.
Deixa tocar, Helena! Pensei, já me direcionando para o quarto e me xingando mentalmente por não conseguir deixar ninguém chamando.
Meu quarto ainda está arrumado, apenas a cama tem lençóis bagunçados e meu armário de roupas com duas portas meio abertas.
Meu aparelho celular está na mesa de cabeceira junto ao abajur e um exemplar de Macbeth. Shakespeare se tornou meu escritor favorito no primeiro ano do ensino médio e eu tenho certeza que já li todas as obras dele, mas Macbeth continua sendo o meu favorito dentre todas as suas obras.
Pego meu celular e sento na cama, encarando com estranheza a foto e o nome de quem está me ligando: Jéssica Byrne.
É assim que está salvo o número da minha mãe. Afinal, como as pessoas mesmo dizem, "mãe é quem cria" e eu não me lembro de uma só vez que Jéssica cuidou de mim quando estava doente ou me levou à escola. Para mim essa mulher não passa de uma conhecida que me procura uma ou duas vezes a cada dois anos.
Mesmo contra a minha vontade e já sabendo o que está por vir, deslizo o botão verde na tela para cima e coloco o celular na orelha. Respiro fundo e então inicio:
- Alô?
- Oi, querida, é a mamãe.
Sua voz continua com a mesma seriedade de sempre, embora um pouco mais rouca do que a última vez que ouvi. Meus pais sempre tiveram o péssimo hábito de fumar e isso acabou danificando suas vozes com o passar dos anos.
- Eu sei - respondo sem ânimo algum na voz - o que aconteceu? Você nunca liga.
- Eu queria saber como você está. Soube o que aconteceu e eu sinto muito, querida.
Fecho meus olhos, contendo a enorme vontade de desligar e seguir minha vida. Mas sou fraca demais para isso, então apenas inspiro e expiro, soltando mais a tensão sobre mim.
- Não precisava ligar só para dizer isso. Você nunca foi uma avó presente mesmo.
- Helena, não começa, por favor. Já disse que quero resolver as coisas entre nós, mas você só dificulta, minha filha.
- Jéssica, não tem o que resolver. Como eu disse da ultima vez, eu te perdoo por todas as merdas que você fez, mas isso não significa que vamos ser amiguinhas.
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Filha Do Mal
ParanormalUma enfermeira do St. Augustine Hospital fica responsável por dar assistência a uma idosa que acabou de fazer uma cirurgia. Ao ver que a mulher não tem acompanhantes, a enfermeira passa a dar mais atenção para a senhora e acabam se tornando muito pr...