Capítulo 17

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St. Augustine, Flórida

As coisas parecem estar mais tensas do que nunca. Quando saí da minha casa depois de ter visto o meu filho - ou uma alucinação dele - achei que estaria livre desses pesadelos e visões perturbadoras, mas a verdade agora é outra: ou eu estou sendo perseguida por essas coisas ou estou ficando louca. E mesmo que me doa acreditar, as duas opções são plausíveis.

Passou-se um dia inteiro do mais puro terror. Não que eu tenha visto algo, mas a sensação de estar sendo vigiada em cada lugar e o medo constante de ver aquela aparição novamente me custou um dia inteiro. Depois que voltei para casa, preparei tudo para o almoço enquanto esperava ansiosamente pela volta de Brenda, mas, para o meu azar, ela me ligou para dizer que estava na casa de uma amiga da ioga e ia demorar cerca de uma hora a mais do que tínhamos combinado.

Passei aquelas horas em alerta máximo, tomando cuidado com tudo, até mesmo ao ir ao banheiro. Era como se eu fosse uma presa indefesa na floresta sendo caçada pelo predador mais feroz.

Para o bem estar da minha saúde mental, Brenda voltou mais cedo e permaneceu em casa comigo o resto do dia. Contei-lhe sobre a feira e o preço dos diversos legumes, deixando passar a sensação de estar sendo observada para assim ela não ter que se preocupar ainda mais. Já é o bastante minha madrasta cuidar de mim como se eu fosse uma garotinha.

Com a presença dela me senti mais aliviada, mas não ao ponto de ignorar o sentimento que havia colado em mim feito um chiclete mascado.

Quando estávamos almoçando, citei a ligação de Jéssica e seu convite. Eu realmente achei que ela não levaria a ideia tão bem, mas apenas disse que eu devia ir.

Agora estou parada em frente ao Augustine Coffee's, dentro do meu carro, vendo pela grande fachada de vidro minha mãe esperando pacientemente. Não sei se ela sabe que estou há metros de distância, mas sua expressão é tão serena e ao mesmo tempo tão séria que dessa vez eu quem quero dar uma desculpa idiota e voltar para casa para passar o dia ao lado da minha mãe de verdade.

Mas mesmo com essa vontade terrível dentro do peito, deixo meu carro, atravesso a rua e adentro o estabelecimento. Ao contrário do calor da rua, o café tem um clima agradável e um cheiro maravilhoso de bolinhos e grãos de café moídos.

Jéssica está em uma mesa bem nos fundos, próxima do grande vidro que cerca o local, dando uma boa visão de tudo que acontece na rua. Ela parece exatamente igual; parece que não mudou nada desde a última vez que nos vimos. A pele continua repleta de plásticas bem feitas, os cabelos impecavelmente pretos em uma cascata de cachos muito bem definidos e, como de costume, está usando uma blusa social de manga longa branca e calça azul escuro. O blazer que devia estar usando ocupa a cadeira ao lado, junto com a bolsa claramente muito cara.

Lá está minha mãe. Uma mulher rica que não dá a mínima para a família que abandonou; sua única prioridade na vida é, e sempre será, o trabalho. Aparentemente, dirigir uma empresa multimilionária é bem mais importante que a família. Fico feliz por ela nunca ter tido outros filhos, assim eles não tiveram que passar o que eu passei com o meu pai antes da Brenda surgir em nossas vidas.

Jéssica me vê parada no meio do café e acena com a mão discretamente. Respiro bem fundo e vou até ela.

- olá, Jéssica - cumprimento estendendo a mão. Ela vê, mas não retribui. Em vez disso, levanta e me encara séria.

- não vai morrer se me chamar de mãe vez ou outra, não é?

Ela sorri e eu sei exatamente o que ela quer que eu faça.

- claro que não, mãe.

- bem melhor - ela me abraça forte como se não quisesse me soltar. Tomo iniciativa e me desvencilho do aperto. - você está linda, minha filha.

Filha Do MalOnde histórias criam vida. Descubra agora