Capítulo VII

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Luiza POV

Abri os olhos. A luz do sol entrava por entre as fendas da cabana. A pressão da minha bexiga — algo que eu não sentia havia algum tempo — me confundiu por um segundo, e então eu sorri.

Preciso ir ao banheiro.

Saí da cabana sem acordar Valentina e entrei na floresta. Agachei-me atrás duma árvore, franzindo o nariz com o forte odor de amônia da minha urina. Quando levantei minhas calças de volta, me
encolhi com a umidade entre minhas pernas.

Valentina estava acordada e parada perto da cabana quando voltei.

— Onde você estava? — perguntou ela

Sorri — Fazendo xixi.
Ela bateu a palma da mão na minha, em sinal de vitória.

— Também preciso fazer.
Quando ela voltou, fomos até a árvore de fruta-pão e apanhamos três delas caídas no solo.nos sentamos e comemos nosso café da manhã.

— Deixe-me ver sua cabeça — disse ela
Eu me inclinei para a frente, e ela passou os dedos por entre o meu cabelo até encontrar o corte— Está melhor. Mas você provavelmente teria que ter tomado pontos. Não consigo ver nenhum sangue seco, mas seu cabelo é tão escuro que é difícil dizer – Ela apontou para minhas
bochechas – Os machucados estão sumindo. Aquele ali está ficando amarelo.

A aparência de Valentina havia melhorado também. Seu olho não estava mais fechado pelo inchaço, e seus cortes estavam sarando.

Ela ficou melhor do que eu por causa do cinto de segurança. Seu rosto – muito bonito, embora ainda bem juvenil — não ficaria com nenhuma cicatriz do acidente de avião.

Eu não sabia se podia dizer o mesmo do meu, mas não estava preocupada com aquilo no momento.

Depois do café da manhã, Valentina fez outra fogueira.

— Bem impressionante, garota da cidade — falei, apertando o ombro dela,ela sorriu, adicionando pequenos pedaços de lenha e fazendo as chamas ficarem mais altas,claramente orgulhosa de si mesma.

Enxugou o suor dos olhos e agradeceu — Obrigada

— Deixe-me ver suas mãos.

Ela as estendeu para mim, com as palmas para cima. Bolhas cobriam a pele crua e cheia de calos, e ela se retraiu quando as toquei.

— Isso deve doer.

— Dói mesmo — admitiu.

O fogo encheu nosso abrigo de fumaça, mas não apagaria quando chovesse. Se ouvíssemos um avião, poderíamos derrubar a cabana e jogar folhas verdes no fogo para criar fumaça.

Eu nunca tinha ficado tanto tempo sem um banho, e meu cheiro estava horrível.

— Vou tentar me limpar — informei. — Você tem que ficar aqui, está bem?

Ela balançou a cabeça em um aceno afirmativo e me entregou uma camiseta de manga curta da sua mochila.

— Você quer usar isso em vez da sua camiseta de manga comprida?

— Sim. Obrigada.

A camiseta era bem grande e imaginei que se provavelmente ficaria como um vestido em mim, imagine como ficava grande nela

– A camiseta vai ajudar muito.

Caminhei pela beira da água, parando para tirar todas as minhas roupas somente quando não pudesse mais ver Valentina ou a cabana. Olhei para o céu azul e sem nuvens.

Agora seria uma hora excelente para um avião sobrevoar. Claro, alguém iria notar uma mulher nua na praia.

Entrei na laguna, e os peixes dispersaram. Por causa do sol, minhas mãos e meus pés haviam assumido um tom mais escuro, que contrastava com o branco de meus braços e pernas. Meu cabelo caía pela minha escápula em um emaranhado ninho de ratos.

Valu - Na ilhaOnde histórias criam vida. Descubra agora