Capítulo XXV

1.1K 188 79
                                    

TO POSTANDO VARIOS CAP POR DIA, MUITAS VIZUALIZOES MAS POUCAS CURTIDAS, VAMOS VER SE ISSO MELHORA, VOU VOLTAR AQUI QUANDO VER ISSO ACONTECER HAHAA 😆

CRIEI UM TT PARA FIC AGORA, SIGAM @FICNAILHA


Valentina pov

* * *

Em junho de 2023, Luiza e eu estávamos na ilha havia três anos. Não tínhamos visto mais nenhum
avião desde aquele que havia sobrevoado a ilha dois anos antes. Eu ainda me preocupava, pensando se eles nunca nos encontrariam, mas eu não havia desistido completamente. Mas não tinha certeza se Luiza  podia dizer o mesmo.

* * *

Fiz vinte anos em setembro. Comecei a me sentir tonta quando me levantava rápido, nem sempre
estava bem-disposta. Luiza se preocupava muito, e eu não queria contar para ela, embora quisesse
saber se ela sentia o mesmo. Ela disse que sim.

— É um sinal de desnutrição — disse ela. — Acontece quando o corpo finalmente usa seus
nutrientes guardados. Não estamos repondo o suficiente. — Ela pegou minha mão e olhou para os meus dedos, passando o polegar pelas unhas quebradiças. — Esse é outro sinal. — Ela estendeu a mão e a examinou. — As minhas também estão assim.

Nós nos preparamos para a estação seca que se aproximava e para o fim do período de chuvas
constantes. E, de alguma maneira, continuávamos sobrevivendo.

***

Luiza  e eu caminhávamos de mãos dadas pela praia no dia seguinte ao Natal. Nenhuma de nós tinha dormido bem na noite anterior. Ela estava meio calada, mas eu tinha esperanças de que o seu humor melhorasse agora que a data festiva já tinha passado.

Reparei uma coisa estranha na laguna. A água tinha retrocedido quase até os recifes, deixando à
vista uma gigantesca faixa de areia.

— Olhe, Lu. O que está acontecendo?

— Não sei — respondeu ela. — Nunca vi isso antes.

Os peixes encalhados se debatiam na areia.
— Que esquisito.

— É mesmo. Não estou entendendo. — Ela protegeu os olhos do sol, com a mão, e tentou
enxergar mais longe. — O que é aquilo lá?

— Onde?

Apertei um pouco os olhos para ver melhor, tentando entender o que ela estava apontando.
Alguma coisa azul havia se formado a distância, mas fiquei confus, porque o tamanho daquela
“coisa” era assustador. E, o que quer que ela fosse, vinha rugindo.

Luiza gritou, e eu entendi. Peguei a mão dela, e saímos correndo.

Meus pulmões ardiam de tanto correr.

— Corra, Luiza, mais rápido, mais rápido!
Olhei por cima do ombro e, quando vi a parede de água que vinha em nossa direção, percebi
que, por mais que corrêssemos, não adiantaria nada.

Nós, e nossa ilha sem relevos, não tínhamos nenhuma chance.Segundos depois, a onda chegou, arrancando ela de mim. A onda engoliu Luiza, a mim e a ilha.

A onda engoliu tudo.

Luiza pov

Quando a onda me atingiu, ela me empurrou para a frente e depois me puxou para baixo. Rodopiei
e dei cambalhotas embaixo da água por tanto tempo que pensei que meus pulmões fossem explodir.

Sabendo que eu não conseguiria prender o fôlego por muito mais tempo, comecei a bater os pés e os braços com toda a força, em direção à luz do sol que tremeluzia acima de mim. Minha cabeça emergiu, e tossi e engasguei, lutando para respirar.

— Valentina— gritei o nome dela, mas, no instante em que abri a boca, a água desceu pela minha garganta.

Troncos de árvores, grandes pedaços de madeira, tijolos e porções de concreto boiavam na água,e eu não conseguia entender de onde vinha aquilo tudo.

Pensei nos tubarões e entrei em pânico. Fiquei me movimentando agitada, com a respiração
descompassada, meu coração batendo tão violentamente que pensei que ele poderia rebentar para fora do meu peito. Minha traqueia se contraiu e tive a sensação de que o ar que entrava por ela passava por um canudo. Ouvi a voz dela na minha cabeça.

Respire mais devagar, Luiza.

Inspirei lentamente, me esquivando dos escombros. Lutando para conservar a cabeça acima da água, boiei para poupar minha energia. Berrei o nome de Valentina  de novo, berrei até perder a voz,meus gritos aflitos reduzidos a nada mais do que um sussurro rouco. Esforcei-me para ouvir a voz dela me chamando, mas só havia o silêncio.

Surgiu outra onda, não tão grande quanto a primeira, mas me puxou para baixo, girando e
virando meu corpo em círculos. De novo, nadei em direção à luz do sol. Quando cheguei à
superfície, quase sem fôlego, avistei um grande balde de plástico flutuando na água. Estendi os dedos na direção da alça e a agarrei, mas sua capacidade de flutuação mal me mantinha à tona.
O mar se acalmou. Olhei ao redor, mas não havia nada a não ser a imensidão azul.

As horas se passaram e pouco a pouco a temperatura do meu corpo baixou. Eu tremia, com as lágrimas jorrando dos olhos, imaginando quando os tubarões chegariam, porque eu sabia que no final eles viriam. Talvez até já estivessem me rodeando.

O balde mantinha minha cabeça acima da água, mas, para deixá-lo no ângulo em que ele
pudesse servir como boia, eu tinha que mudar de posição constantemente, e o esforço me deixava
exausta.

Eu teria dado qualquer coisa — teria pagado qualquer preço — para voltar à ilha com ela
Eu teria morado lá para sempre, contanto que nós duas pudéssemos ficar juntas.

Cochilei e acordei assustada quando a água cobriu o meu rosto. O balde tinha se desgarrado e boiava a alguns metros. Tentei nadar até ele, mas meus membros já não funcionavam. Minha cabeça quase afundou, e lutei para mantê-la na superfície.
Pensei nela e sorri em meio às lágrimas.

Você gosta de Pink Floyd?

Eu estava tentando alcançar aqueles coquinhos verdes de que você gosta.

Sabe de uma coisa, Lu? Você é legal.

Chorei muito. Minha cabeça quase afundou de novo, e dei um tranco para me erguer, usando o
que restava de minhas forças.

Nunca vou deixar você sozinha, Lu. Não, se depender de mim.

Acho que você também me ama, Luiza.

Afundei novamente e, quando voltei à tona, sabia que seria pela última vez. O pânico e o medo
corriam lado a lado, e eu gritei, mas estava tão cansada que meu grito soou como um ganido. E
quando pensei Acabou, minha vida chegou ao fim, ouvi o helicóptero.

Valu - Na ilhaOnde histórias criam vida. Descubra agora