Luiza POV
A temperatura chegou aos trinta graus às duas da tarde. O calor me atingiu assim que meus pés
tocaram a calçada. Mas isso não me incomodou. Eu podia lidar com calor.
Corri durante os meses de junho e julho inteiros — dez, depois treze, depois dezesseis
quilômetros por dia, às vezes mais.
Eu não chorava enquanto corria. Eu não pensava e não me questionava. Apenas respirava fundo
e colocava um pé na frente do outro.
Marcos Albuquerque me ligou no começo de agosto. Quando o nome apareceu no identificador de chamadas, meu coração disparou, reduzindo a velocidade um segundo depois, no momento em que atendi e percebi que não era ela
— A empresa do hidroavião fez o acordo essa manhã. Valentina já assinou os papéis. Assim que você assinar, estará tudo certo.
— Tudo bem. — Peguei uma caneta e anotei o endereço que ele me deu.
— Como você está, Luiza?
— Estou bem. Como está Valentina?
— Tentando se manter ocupada
Não perguntei o que ele queria dizer com isso.
— Obrigada por me avisar sobre o advogado. Vou assinar os papéis.
Houve silêncio no outro lado por um segundo e então falei:
Por favor, dê um oi para Catarina e o Igor por mim.
— Pode deixar. Cuide-se, Luiza
Naquela noite, enrolei-me no sofá com Bo para ler um livro. Duas páginas depois, alguém bateu
à porta.Uma excitação esperançosa me inundou, e senti um frio na barriga. Fiquei imaginando o dia inteiro, depois de falar com o pai dela, se Valentina iria fazer contato. Bo ficou louco, latindo e correndo em círculos, como se soubesse que era ela. Corri para a porta e a abri rápido, mas não era ela que estava parada lá.
Era John, com uma caixa nas mãos.
Ele tinha uma expressão cautelosa. Seu cabelo loiro estava mais curto do que de costume, e
havia algumas rugas sob os olhos, mas, se não fosse isso, parecia o mesmo de anos atrás. Bo cutucou suas pernas, farejando e rodeando.
— Carol me deu seu endereço. Encontrei mais algumas coisas suas e pensei que talvez quisesse de volta. — Ele olhou por cima do meu ombro, tentando ver se eu estava sozinha.
— Entre. Desculpe-me por nunca ter ligado. Foi grosseiro da minha parte.
— Tudo bem. Não se preocupe.
John colocou a caixa na mesa de centro.
— Você quer beber alguma coisa?
— Claro — aceitou ele.
Entrei na cozinha, abri uma garrafa de vinho e servi a cada um de nós uma taça. Minha escolha
de bebida refletiu mais minha repentina necessidade por álcool do que meu desejo de ser
hospitaleira.
— Obrigado — disse ele quando lhe entreguei a taça.
— De nada. Sente-se.
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Valu - Na ilha
FanfictionLuiza Campos é uma professora de inglês de 30 anos desesperada por aventura. Cansada do inverno rigoroso de Chicago e de seu relacionamento que não evolui, ela agarra a oportunidade de passar o verão em uma ilha tropical dando aulas particulares par...