Capítulo XX

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Valentina POV

Luiza estava acordada e sentada perto do fogo quando voltei da pescaria, na manhã seguinte.

— Como está a sua mão? – Ela estendeu a palma da mão, e eu levantei o Band-Aid.

— Não parece tão ruim — concluí. Dava para ver que a ferida denteada tinha sangue pisado, e a mão dela inchou um pouco durante a noite. — Vou limpar de novo e colocar outro Band-Aid, está
bem?

— Tudo bem.

Usei outro lenço umedecido em álcool na mordida.

— Você parece cansada – Percebi que ela estava com olheiras.

— Não dormi muito bem.

— Quer voltar para a cama?

Ela negou com um gesto de cabeça.
— Eu tiro uma soneca mais tarde.

Coloquei um Band-Aid novo na mão dela.
— Pronto. Você está nova em folha.

Ela não deve ter me escutado, porque estava olhando para algum ponto no vazio e não disse nada. Mais tarde naquela manhã, terminei de fazer a estrutura da casa e comecei a colocar as paredes.
As árvores de fruta-pão produziam uma seiva leitosa, e eu tapava as frestas com ela. Luiza trabalhava silenciosamente do meu lado, segurando tábuas ou me passando os pregos.

— Você está quieta — falei.

— Estou.

Martelei um prego na tábua, prendendo-a na estrutura— Está preocupada com a mordida?

Ela confirmou — Aquele morcego parecia doente, Valen

Larguei o martelo e enxuguei o suor dos olhos — Ele não parecia bem — admiti.

— Você acha que ele tinha raiva?

Posicionei mais uma tábua e peguei o martelo — Não. Tenho certeza que não.

Entretanto, eu sabia que morcegos às vezes carregavam doenças.

Luiza inspirou profundamente — Vou ter que esperar, eu acho. Se eu não ficar doente em um mês, provavelmente estou bem.

— Quais são os sintomas?

— Não sei. Febre, talvez? Convulsões? A doença ataca o sistema nervoso central.

Isso me assustou à beça.

— O que faço se você ficar doente?
Tentei lembrar o que havia no kit de primeiros socorros.

Ela fez um gesto negativo com a cabeça— Você não faz nada, Valen

— Por que não?

— Porque, sem vacinas contra raiva, a doença é fatal.

Não consegui respirar por um segundo, como se o ar tivesse me faltado.

— Eu não sabia disso.

Ela confirmou, com lágrimas nos olhos. Deixei o martelo cair e coloquei minhas mãos nos ombros dela — Não se preocupe, Lu. Você vai ficar bem.

Eu não sabia se o que eu tinha dito era verdade, mas eu precisava que nós duas acreditássemos nisso.

Contei cinco semanas do dia da mordida e circulei a data na agenda dela. Ela queria esperar mais de um mês, para ter certeza.

— Então, se nada acontecer até lá, e você não tiver nenhum sintoma, está bem, certo?

— Acho que sim.

Fechei a agenda e coloquei de volta na mala dela

— Vamos retomar nossa rotina — sugeriu ela. — Não quero ficar falando sobre isso.

Valu - Na ilhaOnde histórias criam vida. Descubra agora