Capítulo XIX

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Luiza pov


— Quer jogar pôquer? — perguntou Valentina

— Claro, mas deixei as cartas perto da água.

— Vou buscar — disse ela

— Pode deixar. Tenho que ir ao banheiro. Vou pegar quando estiver voltando. — Eu detestava ir a qualquer lugar perto da mata depois de escurecer e tinha cerca de dois minutos antes de o sol baixar.

Eu tinha acabado  de pegar as cartas quando algo aconteceu. Não o vi chegar, e ele deve ter descido do céu com alguma velocidade, porque, quando o morcego colidiu com a minha cabeça, quase me
derrubou. Levei um segundo para descobrir o que me atingiu e então comecei a gritar. Entrei em pânico, remexi nos meus cabelos para expulsa-lo

Valentina veio correndo em minha direção.
— O que houve?

Antes que eu pudesse responder, o morcego enterrou os dentes na minha mão. Gritei mais alto.— Tem um morcego no meu cabelo! — gritei enquanto uma ardência irradiava pela palma da
minha mão. — Ele está me mordendo!

Ela disparou a toda velocidade. Eu sacudia a cabeça para a frente e para trás, tentando arrancar o morcego. Pouco depois Valentina voltou e me colocou deitada na areia.

— Não se mexa — ordenou ela, colocando a mão em volta da minha cabeça. Então enfiou a lâmina da faca no corpo do morcego, que finalmente parou de se sacudir. — Apenas fique parada.
Vou tirar o morcego do seu cabelo.

— Está morto? — perguntei.

— Está.

Fiquei deitada, imóvel. Meu coração estava disparado, e eu queria me desesperar, mas me esforcei para permanecer calma enquanto ela desembaraçava o morcego do meu cabelo.

— Saiu.

Não conseguíamos ver muito à luz prateada da lua, e por isso Valentina voltou para a fogueira e pegou uma lenha incandescente. Nós nos abaixamos e nos curvamos por cima do corpo do morcego.
Era nojento, marrom-claro com grandes asas negras, orelhas pontudas e dentes afiados. Seu corpo estava coberto de feridas abertas. Os pelos ao redor da boca pareciam molhados e pegajosos.

— Venha — disse ela — Vamos pegar o kit de primeiros socorros.

Voltamos para a nossa cabana e nos sentamos perto do fogo — Dê a sua mão.

Ela limpou a mordida com os lencinhos umedecidos em álcool, aplicou de leve a pomada antibiótica e cobriu com um Band-Aid. Minha mão latejava.

— Está doendo?

— Está.

Eu podia aguentar a dor, mas pensar no que pudesse estar incubado na minha corrente sanguínea me apavorava.

Valentina devia estar pensando nisso também, porque, antes de irmos para a cama, ela enfiou a lâmina da faca no fogo e deixou lá a noite inteira.

Valu - Na ilhaOnde histórias criam vida. Descubra agora