Luiza POV
A entrevista coletiva estava agendada para duas da tarde. Marcos e Catarina estavam ao nosso
lado, Marcos segurando uma pequena câmera de vídeo, a única permitida a filmar alguma coisa.- Eu sei o que vão perguntar - falei.
- Você não precisa responder a nada que não queira - disse Valentina
Nós nos sentamos em uma mesa comprida de frente para um mar de repórteres. Eu mexia com
o pé para cima e para baixo, e Valentina se inclinou e pressionou com delicadeza a minha coxa. Ela sabia que era melhor não deixar a mão lá por muito tempo.Alguém havia grudado um grande mapa na parede. Ele mostrava uma vista aérea dos vinte e seis atóis das Maldivas. Uma representante de relações públicas do canal de notícias, designada como moderadora da entrevista, começou a explicar aos repórteres que a ilha onde Valentina e eu tínhamos vivido era inabitada e provavelmente foi substancialmente danificada pelo tsunami. Ela usava um indicador de laser e identificou a ilha de Malé como nosso ponto de partida.
- Esse era o destino delas - disse ela, apontando para outra ilha. - Como o piloto sofreu um ataque cardíaco, o avião caiu em algum lugar no meio do caminho.
A primeira pergunta veio de um repórter em pé na fila de trás. Ele teve que gritar para que
pudéssemos ouvi-lo.- O que passou na cabeça de vocês quando perceberam que o piloto estava tendo um ataque
cardíaco?Eu me inclinei para a frente e falei no microfone.
- Ficamos com medo de que ele morresse e de que não conseguisse pousar o avião.- Vocês tentaram ajudar o piloto? - perguntou outro repórter.
- Luiza tentou - explicou Valentina . - Ele nos pediu para colocarmos os coletes salva-vidas,
voltarmos para nossos assentos e afivelamos os cintos. Quando começamos a cair, a Luiza abriu o
cinto e correu para começar os primeiros socorros.- Quanto tempo vocês ficaram no mar antes de chegar à ilha?
Valentina respondeu a essa pergunta.
- Não tenho certeza. O sol se pôs cerca de uma hora depois do acidente e nasceu depois que
estávamos em terra.Respondemos a perguntas durante uma hora. Eles nos perguntaram sobre tudo: desde como nos alimentamos até que tipo de abrigo construímos. Nós falamos sobre a clavícula quebrada de Valentina e a doença que quase a matou. Descrevemos as tempestades e explicamos como os golfinhos salvaram
ela do tubarão. Falamos do tsunami e do nosso encontro no hospital. Eles pareceram genuinamente admirados com as dificuldades que enfrentamos, e eu relaxei um pouco.Mas uma repórter na fila da frente, uma mulher de meia-idade com uma expressão carrancuda,
perguntou:- Que tipo de relacionamento físico vocês tiveram na ilha?
- Isso é irrelevante - respondi.
- Você está ciente da idade de consentimento no estado? - perguntou ela.
Não cheguei a dizer que a ilha não ficava no Estado
- Claro que sim.
No caso de nem todos saberem, ela resolveu esclarecer:
- A idade de consentimento em nosso estado é dezessete anos, a não ser que o relacionamento
envolva uma pessoa de autoridade, como um professor. Então a idade aumenta para dezoito.- Nenhuma lei foi quebrada - explicou Valentina
- Às vezes as vítimas são coagidas a mentir - continuou a repórter. - Principalmente se o
abuso ocorre cedo.
![](https://img.wattpad.com/cover/367477518-288-k626142.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Valu - Na ilha
FanficLuiza Campos é uma professora de inglês de 30 anos desesperada por aventura. Cansada do inverno rigoroso de Chicago e de seu relacionamento que não evolui, ela agarra a oportunidade de passar o verão em uma ilha tropical dando aulas particulares par...