Capítulo XXXII

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Luiza POV


A entrevista coletiva estava agendada para duas da tarde. Marcos e Catarina estavam ao nosso
lado, Marcos segurando uma pequena câmera de vídeo, a única permitida a filmar alguma coisa.

- Eu sei o que vão perguntar - falei.

- Você não precisa responder a nada que não queira - disse Valentina

Nós nos sentamos em uma mesa comprida de frente para um mar de repórteres. Eu mexia com
o pé para cima e para baixo, e Valentina se inclinou e pressionou com delicadeza a minha coxa. Ela sabia que era melhor não deixar a mão lá por muito tempo.

Alguém havia grudado um grande mapa na parede. Ele mostrava uma vista aérea dos vinte e seis atóis das Maldivas. Uma representante de relações públicas do canal de notícias, designada como moderadora da entrevista, começou a explicar aos repórteres que a ilha onde Valentina e eu tínhamos vivido era inabitada e provavelmente foi substancialmente danificada pelo tsunami. Ela usava um indicador de laser e identificou a ilha de Malé como nosso ponto de partida.

- Esse era o destino delas - disse ela, apontando para outra ilha. - Como o piloto sofreu um ataque cardíaco, o avião caiu em algum lugar no meio do caminho.

A primeira pergunta veio de um repórter em pé na fila de trás. Ele teve que gritar para que
pudéssemos ouvi-lo.

- O que passou na cabeça de vocês quando perceberam que o piloto estava tendo um ataque
cardíaco?

Eu me inclinei para a frente e falei no microfone.
- Ficamos com medo de que ele morresse e de que não conseguisse pousar o avião.

- Vocês tentaram ajudar o piloto? - perguntou outro repórter.

- Luiza tentou - explicou Valentina . - Ele nos pediu para colocarmos os coletes salva-vidas,
voltarmos para nossos assentos e afivelamos os cintos. Quando começamos a cair, a Luiza abriu o
cinto e correu para começar os primeiros socorros.

- Quanto tempo vocês ficaram no mar antes de chegar à ilha?

Valentina respondeu a essa pergunta.
- Não tenho certeza. O sol se pôs cerca de uma hora depois do acidente e nasceu depois que
estávamos em terra.

Respondemos a perguntas durante uma hora. Eles nos perguntaram sobre tudo: desde como nos alimentamos até que tipo de abrigo construímos. Nós falamos sobre a clavícula quebrada de Valentina e a doença que quase a matou. Descrevemos as tempestades e explicamos como os golfinhos salvaram
ela do tubarão. Falamos do tsunami e do nosso encontro no hospital. Eles pareceram genuinamente admirados com as dificuldades que enfrentamos, e eu relaxei um pouco.

Mas uma repórter na fila da frente, uma mulher de meia-idade com uma expressão carrancuda,
perguntou:

- Que tipo de relacionamento físico vocês tiveram na ilha?

- Isso é irrelevante - respondi.

- Você está ciente da idade de consentimento no estado? - perguntou ela.

Não cheguei a dizer que a ilha não ficava no Estado

- Claro que sim.

No caso de nem todos saberem, ela resolveu esclarecer:
- A idade de consentimento em nosso estado é dezessete anos, a não ser que o relacionamento
envolva uma pessoa de autoridade, como um professor. Então a idade aumenta para dezoito.

- Nenhuma lei foi quebrada - explicou Valentina

- Às vezes as vítimas são coagidas a mentir - continuou a repórter. - Principalmente se o
abuso ocorre cedo.

Valu - Na ilhaOnde histórias criam vida. Descubra agora