Capítulo XVII

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Luiza pov

Já estávamos na ilha havia pouco mais de um ano quando o avião sobrevoou.
Eu estava juntando cocos naquela tarde, e o ranger dos motores, tão alto e inesperado, me assustou. Larguei tudo e corri para a praia.

Valentina surgiu das árvores. Ela correu na minha direção, e acenamos com os braços para a frente e para trás, observando enquanto o avião voava exatamente acima das nossas cabeças.

Gritamos, nos abraçamos e pulamos, mas o avião virou à direita e continuou voando. Ficamos ali, paradas, ouvindo o som dos motores, cada vez mais fraco.

— Ele inclinou as asas? — perguntei a ela

— Não tenho certeza. Inclinou?

— Não consegui ver. Talvez sim.

— Ele tinha flutuadores, não tinha?

— Era um hidroavião — confirmei.

— Então poderia ter pousado lá? — perguntou ela, fazendo um sinal em direção à laguna.

— Acho que sim.

— Eles nos viram?

eu estava usando meu biquíni preto, que devia ser visível contra a areia branca.

— Claro. Quer dizer, você não notaria duas pessoas abanando os braços?

— Talvez — disse ela

— Mas eles não devem ter visto nosso fogo. — Ela apontou para a fogueira.

Não tínhamos derrubado a cabana nem jogado folhas verdes nas chamas para criar mais fumaça. Eu nem tinha certeza se tínhamos folhas verdes na cabana.

Ficamos sentadas na praia pelas duas horas seguintes, sem falar, nos esforçando para ouvir o som de motores de avião se aproximando.

Finalmente, Valentina se levantou.
— Vou pescar. — Sua voz parecia desanimada.

— Tudo bem.

Depois que ela saiu, andei até o coqueiro e juntei os cocos que eu havia deixado cair no chão. Parei na árvore de fruta-pão no caminho de volta, peguei duas e coloquei tudo na cabana. Aticei o fogo e esperei por ela

Quando ela voltou, limpei e cozinhei o peixe para o nosso jantar, mas nenhuma das duas comeu. Eu piscava para afastar as lágrimas e suspirei de alívio quando Valentina foi andar na mata.

Eu me deitei no bote salva-vidas, enrolada como uma bola, e chorei. Toda a esperança a que eu me apegava desde que nosso avião caíu se estilhaçou em um milhão de pedacinhos naquele dia, como se alguém tivesse martelado um bloco de vidro com um malho.

Pensei que, se conseguíssemos ficar na praia quando o próximo avião passasse, seríamos resgatadas. Talvez eles não nos tivessem visto. Ou talvez tivessem, mas não sabiam que estávamos desaparecidas. Mas agora não importava mais,porque não iam voltar.

Minhas lágrimas acabaram, e fiquei pensando se finalmente tinham esgotado.
Engatinhei para fora do bote. O sol já havia se posto, e Valentina estava sentada perto do fogo, a mão direita apoiada, sem vida, na coxa.

Olhei mais de perto.

— Ah, Valen... Está quebrada?

— Provavelmente.

O que quer que tivesse atingido seu punho — meu palpite seria o tronco de uma árvore —havia deixado suas articulações com sangue e sua mão terrivelmente inchada.

Fui pegar o kit de primeiros socorros e trouxe dois comprimidos de analgésico e água.

— Desculpe — disse ela, sem me olhar nos olhos. — A última coisa que você precisa é de outro osso quebrado para cuidar.

Valu - Na ilhaOnde histórias criam vida. Descubra agora