A mercê

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Rômulo faz sinal para os filhos e a esposa ficarem abaixados dentro da van, sai do veículo se esgueirando pelas sombras, destrava a arma e entra pelo portão dos fundos com o crachá que furtou quando ceio verificar se o condomínio era seguro o suficiente, não é porque não deu certo que ele vai abandonar a ex, são amigos.
Quando o cobrador invadiu sua casa sabia que ele ia atrás de Rose, sendo filha de mafiosos, casada com um ex gangster sabe quando está em perigo até ele a socorrer ela vai saber se virar, Rômulo escuta barulho de tiros, não liga rasteja pela garagem, assovia como antigamente, era o sinal deles.

Rose fugiu assim que o interfone tocou, o porteiro estava visivelmente assustado acompanhado do entregador de pizza sombrio, o entregador não percebeu mas o segurança seu Jaime que Deus o tenha não desligou o interfone e Rose viu nitidamente pela pequena tela ele ser morto com um tiro na cabeça, de imediato usou o descarte de lixo reciclável é uma espécie de pequeno elevador no condomínio todos os apartamentos tem na lavanderia, por ser miúda não encontrou dificuldade, pragueja quando percebe que esqueceu o celular, começa a entrar em pânico quando os tiros e gritos começam, no meio sua salvação são os assobios do Rômulo os reconheceria em qualquer circunstâncias como agora, cria coragem e sai também assobia, segue a canção imitando um Atlantic puffin pássaro típico da Irlanda, paraliza ao ver o entregador se aproximando, estava pronta pra entrar em pânico quando é agarrada e arrastada para um canto, sabe que é Rômulo anos de casados ainda conhecem um ao outro.

Com perfeição e silêncio prepara a arma, se tornar um pai de família comum não lhe fez esquecer anos de treinamento na máfia, cria uma distração que deu certo e eles tiveram tempo de correr, Rose entra na van e se abaixa perto de Janaína, Rômulo só saí com a van quando vê o cobrador indo embora, de imediato manda mensagem para Estevão que liga para Charles que providência um lugar seguro para eles morar já que a antiga casa é inviável.

Rose se sente perdida, observa a interação de Romulo com a família, tem medo de estragar tudo afinal é a ex, Janaína olha na direção da loira, percebe como ela está desconfortável pega o bebezinho o último antes de fechar a fábrica, se aproxima e o entrega a Rose que o pega sem jeito, o bebezinho lhe dá um sorriso banguela
- Ele gostou de você!
- Seus filhos são lindos... Nunca imaginei que o Ron... Desculpa a intimidade! Eu...
Janaina sorri - Relaxa! Ele me contou exatamente tudo, vocês são vítimas, gostamos de você, é gente fina.
- Gente fina?!!
- Uma mulher bacana - Faz sinal para Rose se aproximar - Você é talentosa, adoro sua grife! Com respeito ao passado, sinto muito, não sabia que o Rom era casado quando nos envolvemos.
- Era só fachada, nasci em um meio que mulheres só servem como moeda de troca, tive sorte apesar de não me amar como sua esposa ele nunca ergueu as mãos pra mim, cresci em um lar violento para o sexo feminino, meu pai é um desgraçado ele espancava minha mãe, foi assim até ela desistir da vida e se matar, minha irmã apanha horrores e quando voltou pra casa após o traste do marido morrer continuou apanhando do papai, ele tomou o filho dela e a casou com um monstro, minha irmã ficou com o psicológico afetado, é uma casca que aquele nojento abusava, quando fui casada com o Rômulo ele matou o cretino e devolveu o filho a minha irmã e a escondeu em um lugar seguro, meu sobrinho acabou de se formar em psicologia, minha irmã se casou com um agricultor e está feliz, grávida de gêmeos, Rômulo é um bom rapaz,
sempre foi cuidadoso, percebi depois de levar um fora - Sorri para o bebezinho que está com o cordão do seu moletom na boca
- É assim que se fala "levar um fora"?
- Você fala bem Português e as gírias também.
- Então recapitulando, depois do fora percebi que aquele amor era amor de amigos, gratidão, eu sei que mesmo não demonstrando ele cuida de mim, agradeço por você permitir.
- Não tenho essas neuras, minha vida era só perrengue o Rom foi meu ponto de paz, fiquei magoada mas ele foi tão sincero decidi dá um voto de segurança ao contrário dos outros homens que me relacionei ele voltou, me deu filhos maravilhosos e uma vida simples porém digna, jamais ia estragar isso pra ficar te infernizando, te agradeço também por nos respeitar, e sempre não importa o dia a hora vamos está aqui pra te ajudar, não está sozinha.
Rose entrega o bebezinho que adormeceu, limpa as lágrimas, está feliz por ter apoio.

Enquanto isso do outro lado da cidade, Charles acompanha o noticiário saboreando os sucrilhos colorido, a repórter relata o ataque ao condomínio de luxo e em como o bandido não levou nada, especulam que ele estava procurando por alguém...
Um barulho abafado de grito o faz desligar a tv, tiros, gritos, alarme soa pega o celular e manda uma mensagem rápida, apenas um emoji feliz, volta a atenção a sua tigela de sucrilhos sua porta é arrombada, não se move, pelo reflexo na geladeira percebe a aproximação dos invasores, apenas ignora, sente a coronhada e apaga.

Estevão
Termino de enxugar o último prato, minha deusa está de braços cruzados me observando, o que estou prestes a fazer pode estragar tudo que consegui até agora, abalar a confiança dela em mim, preciso contar com a sorte.
- Não vai me contar o que está acontecendo?
Suspiro seguro sua mão e a guio até a varanda, sento e ela senta do meu lado, ficamos em silêncio até um inseto parecendo uma folha pousar em meu ombro, ela delicadamente o tira e coloca na grama, dou risada - O Charles é durão mas morre de medo de insetos, traumas de uma infância miserável, cruel, meu pai não costumava aceitar pessoas como moeda mas a situação que o Charles chegou era deplorável, abusaram dele desde da infância, foi horrível, me lembro que meu pai me chamou pra conversar, ele me olhou nos olhos e disse "filho você é muito puro pra essa vida e o único capaz de quebrar a barreira que cerca aquela criança, você vai ama-lo como sangue do seu sangue, vai está ao lado dele, enchugar suas lágrimas o abraçar quando os pesadelos o aflingir, vai ser seu porto seguro..." Ganhei um amigo, irmão, parceiro, confio com toda minha alma nele.
Acho que ela sente minha melancólica
- Grandão o que não está me contando?
- César pegou o Charles, está exigindo uma troca, você por ele.
Se levanta, odeio a ver assim nervosa, apavorada, a observo andando de um lado pra outro mordendo is cantinhos dos dedos, para coloca as mãos na cintura me encara - Promete cuidar do Natan?
- Quê?!!!
- Cuida do meu bebê como seu filho, cuida dele Estevão, me promete...
Se engasga com o choro a abraço - Ele não vai parar, se não me entregar ele vai continuar machucando as pessoas, então por favor promete.
Seguro seu rosto - Você confia em mim?
- Sim!
- Então não preciso prometer nada, só confia!