08 - Lar

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Nadege olha tudo com admiração, seu coração acelerou ao ser colocada dentro do avião, surpreende por está tão tranquila
- Vamos decolar se ficar com medo pode segurar em mim!
Apenas o encara com os olhos amendoados, o avião chacoalha e ela não tira os olhos da pequena janela, Demétrio não tira os olhos dela admirado, a aparência é frágil mas a alma é forte.
- Pensei que ficaria com medo!
A menina pensa, sorri triste - Cresci em um orfanato cruel, depois sobrevivi a um terremoto, fiquei muitos dias dentro de uma lata, presa com outras meninas, sofrendo nas mãos daqueles piratas nojentos, convivendo com corpos, depois passei dois anos sendo tratada como brinquedo sexual, até o senhor aparecer não tinha expectativas mas agora - Abaixa a cabeça o rapaz a sua frente é atencioso e presta atenção em tudo que ela fala, não está acostumada a ter voz - O senhor me salvou, me deu comida, roupas, calçados, me ensinou a mexer na tecnologia, me protege é um bom homem, o senhor ajudou minhas amigas elas cuidavam de mim, e estou dentro de um avião e a moça que trabalha aqui é muito gentil, ao seu lado nao tenho medo.

Demétrio entende as palavras simples com as quais ela se expressa, sua mão cobre a dela, tão delicada, forte, passou por tanto.
A menina acaba dormindo, a carrega e leva até o pequeno quarto, como viaja muito ter um jatinho particular é extremamente necessário, a cobre e volta para a poltrona, os seguranças esperam ordens, Demétrio fica um tempo calado olhando para o céu nublado la fora, agora só se enxerga nuvens e nada mais mesmo assim é uma paisagem que transmite paz.
Limpa a garganta atraindo a atenção dos amigos - Vou continuar cuidando dela, ainda é uma adolescente então não vou toca-la, quero que se sinta confortável e não obrigada a nada, ela é livre e caso chegue a me amar romanticamente vamos construir uma família juntos, se não me amar como homem a deixarei trilhar seu caminho.
As últimas palavras desceram amargas, realmente foi amor a primeira vista, o avô certamente está se retorcendo no caixão, nunca admitiu mas era racista disfarçado, para ele pessoas de pele escura, vermelha, amarela só serviam para o trabalho pesado, tanto que expandir os negócios por outros países deu trabalho, o Brasil foi o maior desafio tendo em vista que é um país multicultural, colorido, todas as raças e cores, agora Demétrio foi fisgado por uma pretinha minúscula, está a mercê desse projeto de gente que em pouco tempo lhe arrancou sorrisos que eram inexistentes, admiração, instinto proteção, coisas que imaginou não ter depois de assumir a máfia tão cedo, muitas mortes, muitas atrocidades pensava nem ter coração apenas o vazio.

Nadege
Desperta percebe que não está mais dentro do avião, olha o quarto com admiração, corre para a janela se encanta com a paisagem, tem flores, pés com algum tipo de fruta que ela não sabe distinguir, pessoas trabalhando, animais no pasto, tudo tão lindo!
Se vira quando a porta é aberta, uma senhora da sua cor, de corpo gordinho sorri e deseja bom dia no dialeto criolo, se chama Zane e vai lhe ensinar português, um pouco de tudo que aprendeu morando no Brasil.
- Cheguei aqui com 12 anos, papai veio trabalhar uma ano antes e se apaixonou pelo Brasil no fim apenas buscou a família moramos aqui desde de então, meus irmãos ainda trabalham para o senhor Vincenzo, meus pais já descansaram, eu estou aposentada mas meu esposo e filhos todos trabalham para o senhor, ele é um bom rapaz, meus três meninos fizeram faculdade, Lucas é veterinário, João é advogado e o caçula é médico, meu esposo jardineiro.
- O que é jardineiro?
Pega a mão da menina e a leva de volta até a sacada, aponta para as flores
- Aquilo é um jardim, meu esposo cuida para que as plantas e flores estejam sempre saudáveis e bonitas, do lado é a vinha, plantação de uvas são deliciosas vai experimentar depois.
- QUE DEMAIS ZANE... - A senhora sorri com a humildade da menina e em como ela tem sede de conhecimento, seus filhos cresceram os netos estão no colégio, a pequena veio em bom momento já estava entediada agora tem companhia.
- Zane a senhora trabalhava com o quê?
- Papai sempre priorizou nossos estudos, me formei em letras e pedagogia, também fiz licenciatura para me tornar professora, dei aulas por anos aqui na escola da colônia, alfabetizei crianças, jovens e adultos, tenho orgulho de ser responsável pelo crescimento da maioria, vou te ensinar tudo.
Olhos de Nadege brilham não consegue evitar a emoção e chora, recebe abraço e o colo da senhora, abraço caloroso cheio de afeto, depois de se acalmar com voz embargada - A senhora cheira tão gostoso, parece aqueles pãezinhos que me deram no hotel, docinho e saborosos.
A senhora dá uma gargalhada, Nadege volta a se aconchegar no colo e seios fartos da senhora, gostava da sensação de conforto, calor, carinho.
- Fiz pão doce e salgado para nosso café da manhã, vamos lavar esse rosto, se preparar o dia vai ser agitado meu amor.

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