Perto de completar um ano de rerecasamento, Helô e Stenio embarcam para a Espanha, onde o advogado está auxiliando um de seus antigos clientes num caso enigmático, onde o homem foi acusado de estar envolvido em um suspeito roubo de joias.
Em meio a...
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Aeroporto do Galeão, três semanas antes do aniversário
"Eu não vou mais, Helô. Sem chance! Eu já não quero ir, sem me despedir de você, então? Nem pensar!" O advogado esbravejou ao telefone, chamando atenção de outros passageiros que aguardavam a abertura dos portões por perto.
Ele estava sentado em uma daquelas cadeiras de ferro no aeroporto, mas poderia facilmente estar em pé se descabelando na frente do seu portão de embarque, somente pelo tom que usava.
"Não tem condições de eu conseguir chegar aí a tempo, Stenio. O seu vôo é às sete e já são seis e vinte, vocês vão ser chamados a qualquer momento." Principalmente porque aquela companhia aérea exigia que os passageiros estivessem em seus devidos lugares em pelo menos meia hora antes do combinado para a partida.
"Então, pronto! Eu não vou mais a lugar nenhum, eu nem queria ir mesmo."
Stenio soava como a criança mimada que muitas vezes era, a delegada praticamente podia imaginar o bico de insatisfação que ele devia estar mostrando a quem passasse.
"Isso já ficou mais que claro pelo tanto de vezes que você repetiu. Chega de pirraça e entra nesse avião, Stenio! Eu juro por Deus que se eu tiver que escutar mais um discurso da Laís sobre como você vem sendo relapso com os assuntos do escritório, eu vou dar entrada no terceiro divórcio!"
"Não fala isso nem brincando!"
A voz dele de repente mudou, ficando séria e sóbria, como se advogado tivesse imediatamente enrijecido a postura ao escutar a palavra que mais odiava em todo o extenso vocabulário da língua portuguesa.
"Então entra nessa porcaria de avião!" Ela insistiu, batendo no volante à sua frente, o que se provou ser uma péssima ideia quando sentiu sua lombar repuxar diante do movimento repentino.
Mesmo com suas pausas para se alongar durante os expedientes na delegacia, a delegada ainda sentia a coluna protestar de vez em quando. A idade não perdoa mesmo, ela podia sentir suas últimas gotículas de juventude se esvaindo a cada vez que sentia qualquer incômodo nas articulações.
"Mas faltam três semanas, Helô! Três semaninhas pro nosso aniversário de casamento, e se eu for, eu vou perder a data!" Seu marido continuou reclamando.
A comemoração de um ano de casamento, era tudo o que Stenio vinha falando nos últimos dias. Ele, como sempre, queria fazer algo extravagante, e ela, também como sempre, fingia não se sentir no clima para aturar as peripécias do marido.
Fingia sim, porque secretamente amava os planos descabidos de Stenio quando o assunto era celebrar aquele relacionamento. Principalmente porque a impulsividade do homem sempre a fazia se sentir mais viva, sentimento indispensável naquela altura.
