Capítulo 14

35 2 0
                                    

Já fazia cinco dias desde que ela tinha desaparecido e aquele corpo surgiu de repente como uma pedreira desmoronando nas nossas cabeças.

Eu não podia simplesmente largar tudo com Alfie e correr, então tive que esperar que Richy fosse nos atualizando em um grupo separado, sem o Thomas e sem o Phil, porque Phil não era sutil e ninguém queria que Thomas tivesse uma síncope.

Estava preparando o lanche da tarde para Alfie quando percebi que o rei da delicadeza havia postado no grupo principal sobre o corpo antes que um de nós tivesse a chance de falar com Thomas ou com Lilly primeiro e a confusão se instaurou no grupo. Maldito fofoqueiro...

Eu não era família, então não poderia exigir nada da polícia, mas claro que Lilly e seus pais correriam para a cena de crime para ver de quem se tratava. Só restava aos outros de nós esperar por notícias. Tive que falar com o grupo.

Hana: Devemos nos reunir em algum lugar hoje?

Richy: Ainda está no hotel? Posso ir buscá-la?
Hana: Não precisa, ainda estou esperando o Alfie dormir. Eu vou para casa primeiro.
Richy: Tem certeza de que quer ir sozinha? Já está escurecendo...
Hana: Não vou deixar aquele idiota me pôr medo, meu príncipe. Esse cara não sabe que eu sou maluca ;)
Richy: ...
Richy: "Meu príncipe"? 😶
Hana: Desculpa. Muito cedo para apelidos?
Richy: Não, só fiquei surpreso 🥰 Me avise quando estiver pronta ♥️

Alfie demorou um tempo até pegar no sono naquela noite, mesmo depois de um copo de leite e de eu ler a mesma história para ele três vezes seguidas. Quando o cansaço enfim o derrubou, eu tive a impressão de ter visto um vulto passar pela janela do quarto dele, do lado de fora, e me levantei para fechar as cortinas, deixando seu abajur de estrela aceso para ele antes de sair do quarto e me deparar com a Sra. Walters parada na cozinha, me encarando feio.

— Algum problema? — perguntei confusa.

— Enquanto estiver cuidando do meu filho, espero que mostre um comportamento adequado, Frau Rodrigues.

— Okay... — franzi o cenho.

— Cubra melhor a indecência no seu pescoço amanhã.

— Tudo bem. Entendido.

Se eu ainda tivesse outro emprego, mandaria ela se foder, mas não podia me dar ao luxo. Óbvio que ela se meter na minha vida era demais – as marcas não estavam assim tão terríveis, mas fazer o que? Ela era minha cliente e enquanto eu estivesse trabalhando em sua casa deveria seguir suas regras.

— Aqui — ela se aproximou com um algo embrulhado em um pano e, ao desfazer o embrulho, revelou o que parecia ser um tipo de canivete tático que se usava em caçadas. — Não é seguro andar por aí à noite desarmada. Leve com você.

— Sra. Walters...

— Leve — insistiu. — Nenhum lugar é seguro com uma besta à solta.

— Obrigada — aceitei sem jeito, pegando o canivete e o colocando no bolso da frente da minha jeans. — Devolvo amanhã.

— Esqueça — me deu as costas. — É sua agora.

— Obrigada, Sra. Walters. Até amanhã, então.

A noite caindo realmente não inspirava nenhuma confiança, especialmente pelo fato de as ruas estarem tão vazias. Talvez a notícia sobre o corpo já tivesse se espalhado pela cidade e todos estavam ainda mais aterrorizados. Atravessando alguns blocos eu comecei a me arrepender de não ter aceitado a oferta de Richy. Decidi fazer uma chamada de vídeo para Jessy para não me sentir tão sozinha.

WaterOnde histórias criam vida. Descubra agora