Capítulo 29

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Após aquele dia fatídico, tudo mudou drasticamente. Ainda posso recordar vividamente da chuva incessante, do silêncio sombrio que envolveu Hange e da sua repentina e profunda tristeza. Mesmo após se mudar para minha casa, ela permaneceu distante e reclusa, recusando-se a se abrir para o mundo. No entanto, apesar da sua resistência, continuo ao lado dela, mesmo que ela não queira a minha presença. 

Minha mãe sempre diz que, nos momentos difíceis, é crucial estar rodeado por aqueles que amamos. Ela fala com autoridade, pois também enfrentou uma perda devastadora. Assim como Hange, minha mãe também está sofrendo, e ainda consigo ouvi-la chorando quando pensa que está sozinha.

Naquele dia no hospital, o que eu tive foi um ataque de pânico. Quem me encontrou e cuidou de mim foi o Grisha. Ele pediu para a tia Carla ir até o hospital para ficar comigo até Zeke e Eren chegarem.

Eles fizeram de tudo para impedir, mas eu pude ver o que estava dentro do escritório: a tia Camila pendurada a um metro e meio do chão, sua face já estava cianótica, as pupilas saltadas para fora da cavidade ocular. Não havia o que fazer. Não havia primeiros socorros ou qualquer outra coisa que pudéssemos tentar. Nós a encontramos quando já era tarde demais. Foi aquela cena que marcou a memória de Hange, minha mãe, meu pai e todos os funcionários que estavam presentes.

Infelizmente, não foi só isso. O motivo pelo qual mamãe nos buscou era o mesmo que fez com que a tia Camila cometesse suicídio: a tia Erika estava sendo tratada por uma doença terminal. Hange sabia sobre o estado de saúde da mãe, então todos os dias em que estivemos viajando, elas se falavam por telefone. E naquela noite não foi diferente. O problema é que pouco depois de desligarem, a tia Erika começou a passar mal e estava sozinha em casa. Quando a Camila chegou, ela conseguiu prestar os primeiros atendimentos e ligar para o socorro.

Em poucos minutos, ambas foram levadas ao hospital, e minha mãe e o doutor Yeager foram chamados com urgência. Ela sofreu duas paradas cardíacas na primeira hora de internação. Com dificuldade, conseguiram fazê-la voltar. A intubaram e a colocaram em aparelhos, fazendo todo o possível para estabilizá-la.

Acharam que ela estava fora de perigo, e a tia Camila implorou para que minha mãe fosse buscar a Hange. Sua esperança era que, com a presença da filha, a tia Erika tivesse forças para continuar lutando por sua vida. Mas, infelizmente, naquele momento em que a mamãe recebeu a ligação do Grisha, era para comunicar que a Erika havia tido outra parada cardíaca, e dessa vez o tempo necessário para reanimá-la havia sido longo. Mesmo que houvesse uma pequena chance dela acordar, as sequelas seriam intensas.

E depois disso, ela teve uma última parada, e desta vez foi a definitiva. Foi exatamente no momento em que nós chegamos ao hospital, por isso toda aquela urgência. Minha mãe foi obrigada a declarar os óbitos de suas melhores amigas naquele dia.

No outro dia, foram feitos o funeral e o enterro. Hange permanecia ao lado de suas mães o tempo todo, em completo silêncio, sem derramar uma lágrima sequer, mesmo com todos indo até ela prestar suas condolências. As famílias de ambas suas mães estavam presentes no velório, mas aquelas pessoas, mesmo naquele momento, foram tão incômodas e desagradáveis que minha mãe fez questão de expulsar todos. Ela deixou claro que a guarda de Hange não ficaria para nenhum deles. Ela seguiria o desejo de Erika e Camila e se tornaria a tutora de Hange.

E assim foi. Os primeiros meses foram horríveis para todos, mas com o tempo as coisas precisavam melhorar. Com o passar do tempo, as feridas emocionais começaram a cicatrizar lentamente. Minha mãe se esforçava ao máximo para ser um apoio firme e amoroso para Hange, mesmo enquanto lidava com sua própria dor. Ela dedicava cada momento livre para estar ao lado de Hange, garantindo que ela se sentisse amada e protegida.

Freedom Wings - Zeke YeagerOnde histórias criam vida. Descubra agora