Capítulo 36

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As lágrimas fluíram sem controle naquele instante, uma mistura avassaladora de alívio e desespero. Enquanto as luzes se apagavam ao meu redor, uma única esperança fervilhava em meu peito: o desejo incansável de mais um vislumbre dela. E então, ao despertar neste lugar estranho, a linha tênue entre sonho e realidade começou a desaparecer.

 Minha mãe, Kuchel, estava lá diante de mim, como se o tempo tivesse recuado. Seus olhos, profundos e familiarmente acolhedores, ecoavam com a mesma ternura de antes. Os lábios, curvados em um sorriso gentil, ressoavam com o conforto de tempos passados. Até mesmo seu perfume, uma mescla única de memórias reconfortantes, envolveu-me como um abraço familiar.

Mas junto com essa reunião emocionalmente carregada veio uma enxurrada de perguntas e temores. Será que eu havia retornado ao ponto de partida? Estaria condenado a um ciclo incessante de perdas e recomeços, onde cada pessoa amada - Erwin, Hange, Eren, S/n - desapareceria de novo diante dos meus olhos? O peso dessas incertezas pairava sobre mim, ameaçando afogar qualquer esperança que havia brotado.

Numa interseção entre alegria e apreensão, enquanto me envolvia nos braços maternos, os pensamentos tumultuados persistiam como sombras indesejadas diante da luz reconfortante do reencontro. O temor latente de reviver os terrores do passado ressoava em minha mente, ameaçando obscurecer a doçura do momento presente.

Porém, como um redemoinho de surpresas, um velho conhecido adentrou o quarto: Kenny. Sua presença imponente e enigmática trouxe consigo uma onda de emoções conflitantes. As lembranças de seus dias como um mercenário temido, agora entrelaçadas com a incerteza do que isso significava para o meu presente recém-restaurado. Seus olhos, afiados e perspicazes como sempre, pareciam sondar as profundezas de minha alma

— Finalmente vou conhecer o moleque? Ou vai escondê-lo de mim? — diz ele, ainda parado à porta, com um tom que misturava sarcasmo e curiosidade.

— Por favor, entre, Kenny — minha mãe convida, sua voz ecoando com a mesma calma e gentileza que sempre me acalmou. A ausência dela durante todo esse tempo havia deixado um vazio insubstituível em minha vida. — O vento não é bom para o bebê.

— E o nome? — o velho a questionou, aproximando-se com uma expressão de curiosidade no rosto marcado pelo tempo.

— Já disse que será Levi — ela respondeu, com determinação na voz, enquanto seus olhos encontravam os de Kenny.

— Parece o nome de um velho — ele ri, e minha mãe fica furiosa. Seus olhos faíscam com uma mistura de indignação e ferocidade.

— Quando o filho for seu, pode escolher o nome que bem entender — minha mãe responde, com uma firmeza que não admite argumentos.

— Isso nunca vai acontecer. Não tenho perfil para ser pai de ninguém — retruca Kenny, com uma franqueza brutal que corta o ar.

— Então, pelo menos seja um bom tio — ela responde, com um tom suave, mas firme, enquanto seus olhos buscam os dele, em uma tentativa de encontrar alguma brecha na armadura que ele tanto cultivava.

— Tsc. Cadê seu marido? Ele é quem tinha que estar aqui para conhecer o moleque — Kenny resmunga, desviando o olhar por um momento antes de fixá-lo novamente em minha mãe.

— Intercorrências no trabalho, pelo que parece... — ela responde, com um toque de resignação em sua voz, como se a ausência do marido fosse algo com que ela já estivesse acostumada.

— É a vida de um policial, você não pode reclamar, sabia onde estava se metendo desde o começo — ele acrescenta, sua voz carregada com uma mistura de ceticismo e compreensão.

Freedom Wings - Zeke YeagerOnde histórias criam vida. Descubra agora