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Pov Kazutora Hanemiya:
                      7 anos atrás

-Você precisa parar com isso! Nosso filho ficará assustado!- Ouço mais um grito da minha mãe.

Sons de coisas se quebrando no andar debaixo me assustam um pouco, mas estou acostumado com essa situação, então me mantenho deitado na minha cama.

Oi, meu nome é Kazutora Hanemiya, tenho doze anos e moro com meus pais em Tokyo, mais especificamente em Shibuya. Eu faço parte de uma gangue chamada Toman, ela foi criada por mim e meus amigos. Bom, falando em amigos, meus melhores amigos são o Baji, o Chifuyu e a Sn. A Sn é a mais nova, ela é meio fraca mas é corajosa. Ela sempre diz que vai me defender mas no fim eu que a defendo.

Sn é uma garota meiga, ela sempre mostra que está tudo bem, mas eu sei que não está. Ela sempre tenta me ajudar e me confortar, eu a considero uma das pessoas mais importantes para mim.

Ah, uma das coisas que também gosto na Sn é que ela faz ginástica e dança muito bem! Gosto quando ela me mostra oque aprendeu, fico orgulhoso e surpreso ao mesmo tempo.

Baji e Chifuyu são da gangue, eles conhecem Sn e quando estamos juntos eles conversam bastante. Às vezes fico com um pouco de medo da Sn acabar me trocando por eles...

Ah, sobre a situação que está acontecendo na minha casa...Meu pai tem problemas com bebida e quando bebe fica mais agressivo do que já é. Ele bate na mamãe e eu sou obrigado a escutar seus gritos angustiantes.

Quando a situação parece piorar no andar debaixo, eu fecho meus olhos e tampo os ouvidos, já sentindo lágrimas saírem pelos meus olhos.

-Mamãe...- Sussurro limpando minhas lágrimas.

Me levanto da cama devagar e vou até a janela. Não aguento mais ficar aqui.

Subo na janela e olho para baixo, encarando o chão. É um pouco alto mas não o suficiente para me machucar. Finalmente pulo e quando sinto meus pés tocarem o gramado, olho para a varanda do quarto de Sn, que ficava na frente da minha janela.

Olho para os lados, à procura de algo para que eu possa subir e vejo uma escada jogada ali perto. A escada é aparentemente velha, mas eu preciso da minha garota.

Puxo a madeira velha sentindo minha mão ser machucada pelas diversas farpas, ignoro a dor e posiciono a escada em frente a sua varanda.

Subo a escada com a visão sendo embaçada pelas lágrimas que eu já não conseguia mais impedir, me sinto tão fraco por isso.

Assim que chego no topo da escada, me jogo dentro da varanda de Sn.

Olho através do vidro e vejo que a garota dormia em cima de alguns livros em sua escrivaninha. Sua bochecha estava sendo apertada contra os livros, seu cabelos desgrenhados e seus lábios levemente abertos.

Ela sempre foi muito focada e eu sempre achei que ela estuda muito, desnecessáriamente. Eu não consigo estudar tanto de maneira produtiva, ela me ajuda muitas vezes nas provas mesmo sendo mais nova.

Abro a porta da varanda e vou até a pequena Hime, pego seus materiais e vou os guardando em sua mochila.

Quando vou fechar sua mochila, o som do zíper acaba acordando a mesma, que coça os olhos.

-Desculpa te acordar...- Digo.

-Não tem... Kazu?- Ela diz.

Ela se levanta da cadeira e abraça meu pescoço, me permitindo abraça-la de volta. Seu cheiro doce me acalmava.

Quando ela se solta do meu pescoço, vejo seus olhos observarem atentamente meu rosto.

-Kazu, você estava chorando?- Ela pergunta.

-Não...

-Estava sim.

Ela pega minha mão, me levando até sua cama e eu gemo um pouco por ter minhas mãos feridas pelas farpas. A garota sobe no colchão e me chama para o seu lado.

Eu me deito ao seu lado, sentindo suas mãos tocarem meus cabelos mesclados.

-O que aconteceu?- Ela pergunta.

-Papai e mamãe.- Digo.

Ela entende imediatamente e não me faz mais nenhuma pergunta. Eu já invadi seu quarto outras vezes, a minha casa não costuma ser muito calma.

Sn sabe dos problemas que passo e eu sei dos problemas que ela passa. Tudo isso é demais para nossa idade.

-Vai ficar tudo bem...

-Mamãe não merece isso.- Meus olhos lacrimejam.

Sinto seus dedos macios acariciarem meu rosto, me fazendo relaxar.

- Também aconteceu de novo comigo, Kazu. Kenji passou suas mãos em meus ombros e eu me senti desconfortável de novo. Ele me olha de um jeito estranho. Então estamos kits, não é?

Kenji é um filho da puta, assim como meu pai. Sn pode ser inocente, mas eu não sou.

Eu tenho vontade de matar os dois, mas aí lembro que sou apenas uma criança.

-Nós não somos novos demais para isso?- Pergunto.

-Talvez...- Ela diz.

Ela continuava fazendo carinho em meus cabelos e eu apenas tentava me manter tranquilo.

Quando durmo aqui, tenho que acordar bem cedo pela manhã e voltar para casa antes que nos peguem.

Ela pega minhas mãos machucadas pelas farpas e beija as mesmas me fazendo sorrir. Ela alisa minhas mãos e vai tirando as farpas devagar, depositando um beijinho em minha mão a cada farpa retirada.

-Sua mão vai sarar rapidinho.- Sn diz.

-Eu acredito em você, obrigado.

Olho para os seus olhos concentrados em meus cabelos e suas pequenas bochechas rosadas, ela é tão linda.

Conheci Sn quando eu tinha seis anos e ela cinco. Me lembro perfeitamente da garotinha escondida atrás de sua mãe. Ela tinha medo de mim, mas se aproximou quando viu a cor de meus olhos. Sua cor favorita é amarelo, e ela passou horas falando de como queria que seus olhos fossem como os meus.

Sei que sou novo, mas eu definitivamente faria tudo por ela.

E aqui, em meio ao escuro desse quarto, eu durmo sentindo as mãos da única pessoa que se importa comigo nesse momento. Eu prometo a mim mesmo, eu irei protege-la a qualquer custo. Tudo por ela.

All for you | 𝗞𝗮𝘇𝘂𝘁𝗼𝗿𝗮 𝗛𝗮𝗻𝗲𝗺𝗶𝘆𝗮 Onde histórias criam vida. Descubra agora