Lachesism - 1

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Eu queria me envolver em um problema. Essa pode parecer a coisa mais absurda que você vai ouvir hoje, mas me deixe explicar meus motivos e talvez você chegue à conclusão de que eu não sou tão louco quanto pareço ser.

Intercolegial, só essa palavra explica muitas coisas. É um período em que os nervos estão à flor da pele e que a cabeça esquenta mais do que deveria. Todos os alunos pensam apenas em uma coisa: manter a moral da escola. E, apesar da maioria aqui não ser patriota, trazer a moral para a sua instituição de ensino também significa tê-la para si.

Não importa o quanto sua garganta vai ficar uma merda no final do dia, nem se vai haver machucados nos jogadores (que pode ser você), muito menos se é uma extrema vergonha suar nas arquibancadas enquanto surta por caras que estão correndo atrás de uma bola; você só quer ganhar. Ah, e pra que não pareça que tenho preconceito com atletas, vou deixar claro: eu queria ser o cara correndo atrás da bola. Estamos quase chegando ao ponto.

O que acontece é que eu, Nishimura Riki, deveria estar, nesse exato momento, no vestiário, junto com os jogadores, trocando de roupa e, daqui cerca de 15 minutos, entrando no campo. E por que você não está lá? Eu também quero saber.

O treinador me fez acreditar que, após diversos treinos exaustivos e tempo perdido, eu iria jogar com os outros alunos. EU TINHA SIDO ESCOLHIDO, mas então ontem recebi uma mensagem dele dizendo “sinto muito Riki, mas tivemos que substituir você. Woonyoung vai jogar no seu lugar”. Fiquei revoltado, mas ele apenas deu como desculpa que dessa vez não seria possível e que seria melhor assim (inacreditável…) pois ficou sabendo de um concurso de dança em breve; era melhor que eu não me machucasse. Tudo mentira. Nem o professor Hoshi, responsável pelo clube de dança, havia me dito nada. No final, eu apenas fui expulso e substituído, sem nenhuma explicação plausível, e é por isso que eu quero me envolver em um problema. Quero causar um escândalo e despejar toda minha raiva. Eu deveria estar lá, sendo aplaudido e aguardado por todos da arquibancada, até mesmo pelos alunos da outra escola, mas estou aqui, caminhando por um entre vários corredores desse maldito lugar, sem absolutamente nada pra fazer, porque me nego a assistir àquele jogo. Provavelmente vão me julgar por isso, mas não me importo. Quero mais é que todos se explodam e que nosso time perda; que quando me virem se sintam arrependidos de não terem me deixado lá.

Paro num banco qualquer do corredor e sento, refletindo sobre o que fazer. Claro que meu magnífico drama só renderia algo depois do jogo. O que eu iria fazer nessas duas horas? Eis a questão.

Essa é a parte chata da minha vida. Apesar de ser extrovertido e agraciado com talentos e uma boa família, eu, na maior parte do tempo, sou solitário. Certa vez ouvi a frase: um amigo de todo mundo é um amigo de ninguém. Não importa com quantas pessoas eu consiga falar por aí, ou quantas conexões eu tenha; no final do dia, e em momentos como esse, eu permaneço sozinho, apenas comigo mesmo. São poucos os momentos em que bato de cara com essa realidade, mas ela fere sempre que retorna. É graças a isso que eu desenvolvi uma técnica de defesa.

Quando eu não tenho para onde ir ou o que fazer eu sigo para algo que me mantenha entretido. No começo de minha adolescência, quando esses sentimentos se tornaram perceptíveis, eu me descobri como um pequeno amante do futebol. Gosto da adrenalina da competição e de ser assistido por outras pessoas; ser admirado. Saber que estou sendo visto na minha melhor forma me ajuda a melhorar, mas infelizmente hoje não é suficiente (nem possível).

Levantei do banco, sem pressa nenhuma, e comecei a caminhar até a sala dos professores, onde fica a chave da minha salvação.

Apesar de tudo, futebol não é minha paixão. Descobrir isso também não foi fácil. Eu parecia ter me completado, mas estava enganado. Foi somente no final do fundamental que descobri o que eu amo ser: dançarino.

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