Exulansis - 2

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É impossível explicar com clareza o que eu senti quando Jungwon entrou por aquela porta. Fui atingido por uma imensidão de sentimentos ao mesmo tempo, de uma hora para a outra, sem nem me preparar. Porra, por que ele faz isso comigo?

Lembro de ter sentido meu peito aquecer, ao mesmo tempo em que meu coração batia tão forte que eu realmente achei que fosse explodir; meus olhos se arregalaram e minha boca abriu na intenção de dizer alguma coisa, mas minha mente estava em pane. Pude imaginar meus divertidamentes pulando de um lado para o outro em cima da mesa de controle enquanto tudo pegava fogo.

Eu paralisei, igual um idiota; não consegui formular nenhuma ação com meus músculos e nenhuma frase com minha boca. Tudo que eu via era ele, repetidas vezes na minha mente, rodando a cena de segundos atrás como um disco arranhado.

Jungwon sorriu pra mim, o que não ajudou muito, e se conduziu até a mesa onde eu iria assinar minha inscrição. Ele trocou algumas breves palavras com o professor — o que já era estranho por si só — e escreveu seu nome no papel. Foi quando eu despertei.

O que ele está fazendo?!

— Jungwon — quando eu o chamei, ele já estava virado na minha direção, estendendo a caneta para mim, com sua expressão neutra de sempre — Como assim? — foi o máximo que eu consegui dizer. Tão patético!

— Vou dançar com você. — disse em alto e bom som, como se fosse a coisa mais simples do mundo. Eu simplesmente não conseguia acreditar no que estava acontecendo diante dos meus olhos. Como isso…? Será que ele está fazendo isso porque se sentiu pressionado? — E eu realmente quero isso, por mim mesmo. — como se adivinhasse meus pensamentos, ele completou.

Jungwon estendeu sua mão até a minha, me guiando até a caneta para que eu a segurasse. Olhei uma última vez para ele, tentando discernir se isso realmente estava acontecendo ou se não passava de um delírio da minha mente frágil, mesmo sentindo com clareza o toque gelado de sua palma, e assinei meu nome ao lado do seu antes que eu descobrisse que sim, era.

Ainda aéreo, saímos da sala, retornando para a classe, afinal ainda tínhamos poucos minutos para estar lá; concordei em falar sobre o que faríamos, agora que somos uma dupla, apenas amanhã, nos dando tempo para pensar e planejar melhor.

Mesmo que tenha sido um pedido de Jungwon, não sei se faria diferente. Eu definitivamente precisava de um tempo para assimilar o que quer que tenha sido isso.

Vivenciar ao vivo e em cores um grande sonho que você sabia ser impossível de realizar: esse é o sentimento.

A ficha somente caiu apenas hoje quando acordei pela manhã. Eu me lembrava de tudo, sabia de absolutamente tudo que ele tinha me dito e onde, com todos os detalhes na minha memória, algo que um sonho nunca poderia me proporcionar. Nós vamos dançar juntos, assim como eu tanto desejei antes.

Mas então, quando cheguei na escola e troquei minhas primeiras palavras com Jungwon, ainda cedo, tudo pareceu se transformar num pesadelo, ou talvez eu tenha acordado de verdade.

Essa era uma sensação comum, quase fixa quando se trata de nós dois, mas não consegui evitar a frustração e insegurança que me atingiu de uma hora pra outra, em um momento em que eu não esperava mesmo.

Eu lhe dei bom dia e ele respondeu seco, sem olhar na minha cara ou prolongar, como vinha fazendo desde que concordou em nos tornarmos próximos; tentei puxar uma conversa sobre o festival, mas ele disse estar ocupado, enquanto mexia no celular; tentei ainda com um assunto qualquer da sala de aula, mas ele permaneceu apontando o fato de estar ocupado; peguei alguns bolinhos de arroz para ele durante o primeiro intervalo, mas Jungwon disse estar sem fome, me deixando largado com um pacote de comida que eu não estava com apetite para comer; tentei fazer algumas piadas e convidá-lo para sentar na grama, mas ele fechou a cara, dizendo que ia ao banheiro, apenas para me ignorar. Eu quase chorei.

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