Bastou apenas um passo dentro de casa para que eu caísse de joelhos no chão, incapaz de suportar o peso de meu corpo sobre as pernas por mais tempo. Foi como cair no fundo de um abismo; não sentia absolutamente nada abaixo de mim.
Meus pensamentos vagavam por muitos lugares, todos eles momentos dolorosos, suposições do que poderia ter acontecido, sentimentos confusos. Tudo estava sendo demais pra mim.
Ouvi o som abafado da voz de minha mãe me chamando e também uma das empregadas da casa. Não conseguia identificar o que ela falava; a única informação que chegava ao meu cérebro era o balançar de meu corpo, numa tentativa falha de chamar minha atenção.
Ergui meu rosto, apenas para vê-la preocupada; meu esforço de segurar as lágrimas durante o percurso da escola até aqui escorreu de meus olhos imediatamente.
Senti os braços de minha mãe me envolver, mas eu ainda chorava. Foi vergonhoso, eu, um cara com 1,83 de altura e 18 anos de existência, chorar como uma criança dessa forma, mas por hoje, neste momento, eu gostaria de me sentir assim.
Quando pequeno, meus problemas eram simples de resolver; bastava um abraço apertado de meus pais e tudo ficava bem; minhas lágrimas secavam e logo eu voltava a sorrir.
Estar na frente dela agora me fez chorar muito mais. Nada melhoraria; ela não podia me dar o que eu precisava. Sei que isso a fazia triste também.
O perdão de Jungwon está mais longe do que ele mesmo agora; a situação tinha se tornado maior. Como eu poderia voltar e tentar encará-lo depois do que fiz? Não poderia nem mesmo explicar o motivo de minhas ações.
Jungwon, me perdoa. Fiquei com ciúmes de você com ela. Acho que te amo, mas não é o suficiente para me deixar tranquilo. Nós somos instáveis, desde o começo; eu tenho tanto medo disso. E… e quando você falou com ela… uma, duas vezes… eu senti que meu amor não passava de um delírio da minha mente. Ter você só pra mim era especial, mas quando vi que você estava se aproximando de outras pessoas também… me fez sentir que eu estava mais longe do que imaginava de conquistar o seu coração, e doeu, doeu tanto que eu não consegui controlar minhas próprias ações. Odeio ter te machucado. Poderia ter sido qualquer um, menos você.
Não, eu não poderia estragar a única oportunidade de tê-lo comigo confessando meus sentimentos.
Mas de todo modo eu ainda precisava avisá-lo sobre o que Minji estava a fazer com ele. Como o único a saber disso, eu tenho essa obrigação.
Tenho consciência de que as chances de receber seu desprezo como antigamente é enorme. No mínimo ele não acreditaria em mim, principalmente sabendo que eu já não gostava dessa tal garota antes. Seria uma tentativa arriscada.
Porém minha mente me lembrou de um assunto importante: o concurso. Jungwon talvez me ouvisse se fosse sobre isso, nem que fosse para desfazer nossa dupla. Era minha única chance de fazê-lo ouvir minha voz por mais de dois segundos.
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Encontrá-lo na segunda foi um alívio, por incrível que possa parecer. Depois de seu sumiço na última aula eu fiquei feliz em saber que ele aparentava estar bem.
Infelizmente não foi um sentimento muito duradouro, afinal eu ainda iria tentar falar com ele na primeira oportunidade que tivesse (se tivesse).
Como um bom covarde, eu desperdicei todas as minhas pequenas chances, e assisti ele pela escola o dia todo, com Minji, inclusive, que me lançou olhares convencidos sempre que me avistava. Como esperado, ela não estava com a amiga tal qual no dia em que ele faltou.
Já estávamos finalizando a penúltima aula do dia: educação física. Eu tinha cerca de uma hora, ou teria que tentar de novo amanhã. Não gostava da ideia de esperar mais, nem meu coração. O aperto em meu peito crescia de forma veloz, e, igualmente a todos os dias em que sofri por esse assunto, me sentia prestes a não suportar mais.
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Sonder
FanfictionPara Riki, Jungwon era apenas um coadjuvante caladão da história dos outros, porém o destino cruza suas vidas, atiçando sua curiosidade pelo colega de classe e o incentivando a tentar uma aproximação. O problema é que Yang Jungwon precisava estar so...