Algumas coisas que te serviram por um tempo podem não ser as mesmas que irá precisar agora. Era sobre isso que eu falava com Jungwon.
Já era segunda de novo e eu estava jogado debaixo de uma árvore alta que existe aqui na escola, próximo à entrada. Ao meu lado estava Jungwon, com quem eu conversava de forma meio filosófica sobre meus últimos pensamentos do final de semana.
Sábado e domingo passaram de forma lenta e entediante. Eu só acordei, comi, dormi, acordei e comi de novo. Tentei arrumar meu guarda roupa, que sempre é uma bagunça, mas já estava organizado, sinalizando que minha mãe havia passado por ali; pensei em desenhar, mas não saíram mais do que alguns rabiscos; por último tentei ensaiar alguma coreografia, mas estava com tanta preguiça que cometia erros até em coisas bobas.
Em determinado momento comecei a pensar sobre o festival novamente. De início isso me deixou animado (pela primeira vez em todo esse tempo), além de ansioso pra montar uma coreografia original e arrasar, já fazendo planos e visualizando como tudo seria, mas só então me toquei que isso tiraria muito do meu tempo e que eu teria que sacrificar algo, então logo minha agitação havia ido pelo ralo, dando lugar a uma reflexão que eu estava adiando há muito tempo.
Desde o intercolegial eu não voltei a pisar no gramado da escola para os treinos; ainda estava ressentido do modo que eles me descartaram. Já fazia bastante tempo desde então.
O futebol foi por um grande tempo uma válvula de escape que me fazia sentir melhor comigo mesmo e ocupava minha mente para que eu não me sentisse tão sozinho. Por conta do carinho que criei, não larguei o futebol quando passei a dançar.
Cheguei a ouvir algumas piadas no início. “Dançarino e jogador? Isso não poderia fazer menos sentido”, mas não liguei. Então começaram a me deixar pouco a pouco de lado, porque eu não era tão bom jogando tanto quanto eu sou dançando.
Aquele dia foi o ápice; nada parecia mais a mesma coisa que era no início, como uma amizade verdadeira que foi sumindo com o tempo, restando apenas cinzas de lindas memórias. A maior prova de que já não era mais importante foi eu só ter me lembrado hoje, depois de dias, que eu ainda fazia parte de um time. E para ser mais fiel ainda, eles em nenhum momento voltaram a me chamar.
— Vou sair do time, oficialmente — concluí, depois de ter explicado para ele sobre meus sentimentos confusos em relação a tudo isso.
— E não dói? — Jungwon virou seu corpo para mim. — Digo — prosseguiu — deixar algo que te fez tão bem… Pelo que você me disse, isso foi mais do que um hobby pra você.
— Realmente não é fácil, mas não é o meu sonho, então tudo bem. — me inclinei para ele também — Se não é sonho então não passa de algo passageiro. Tenho outras prioridades agora. — olhei no fundo dos seus olhos.
Ele assentiu e deu um sorriso pequeno. Um pouco de cabelo caiu sobre seus olhos e me apressei em arrumar. Observei seu rosto se tornar um pouco mais rosado.
— Sabe — voltou a quebrar o silêncio — eu admiro você. — meu coração balançou — Tipo — pensou um pouco antes de prosseguir — esse lance de seguir fielmente um sonho. Deve ser legal. — agora seus olhos já não estavam mais focados em mim e sim vagando por aí.
— Realmente é. — concordo — Mas e você? — suas sobrancelhas se ergueram e ele voltou a me fitar — Qual o seu sonho? — riu, me deixando confuso. Ué?!
— Eu não tenho um sonho. — disse simples, mas ao mesmo tempo parecia melancólico.
— Quê?! — eu estava verdadeiramente indignado.
— Meus pais — disse com pesar — desde muito cedo eles me ensinaram uma lição: “sonhos te afastam do que é importante; não dê prioridade a eles”. Desde então eu tenho vivido assim, ignorando tudo, apenas fazendo o que importa. Você não entenderia…
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Sonder
FanfictionPara Riki, Jungwon era apenas um coadjuvante caladão da história dos outros, porém o destino cruza suas vidas, atiçando sua curiosidade pelo colega de classe e o incentivando a tentar uma aproximação. O problema é que Yang Jungwon precisava estar so...