Liberosis - 1

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Desde ontem eu ainda ouvia os passos raivosos de Jungwon ecoarem em minha mente. Foi um saco aguentar um dia inteiro na escola depois dele ter gritado na minha cara; me sentia envergonhado de respirar o mesmo ar que o seu.

Não era a primeira vez durante minha vida que eu ultrapassava o limite. Ser extrovertido pode te arrancar o senso de respeito para com o espaço pessoal das outras pessoas, mas eu não vou usar isso para me justificar.

Sendo sincero, eu não estava engolindo essa de que ele não dança. Tem gente que com 3 anos de clube não tem o controle que Jungwon apresentou num momento de distração. É impossível que isso seja verdade.

Mas eu fui um otário e fiz mal uso da minha chance, então agora teria que deixar isso passar.

— Filho, apressa! O jantar é às oito. — ouvi minha mãe gritar quando subia a escada, indo para meu quarto, depois de voltar da escola.

Já era cerca de seis e, assim como minha mãe avisou, teríamos um jantar às oito. Não aqueles de família, mas sim de negócios.

Nossa família possui uma rede de restaurantes desde que morávamos no Japão. É um negócio que nós, os Nishimura, já temos há 2 gerações e que meus pais expandiram ao vir para a Coreia, quando eu tinha recém 5 meses. Hoje a rede já está nas principais cidades da Coreia, incluindo aqui em Busan.

Meu pai havia explicado que estavam à procura de um novo fornecedor de vinhos para os restaurantes. O contrato com o antigo estava se encerrando e eles não pretendiam renovar por conta de problemas na entrega que ocorreram algumas vezes e que por sorte conseguiram contornar.

As negociações e avaliações de contratos já estavam rolando há alguns meses, porém o mais promissor foi a empresa da família Yang, que possui muitas parcerias e ótimos comentários a respeito de seus serviços. Esse jantar serviria para finalizar as negociações.

Meus pais possuem o costume de me levar para esses jantares a fim de que eu possa aprender um pouco sobre esse meio em que nasci, mesmo que no futuro eu não queira participar tão ativamente dos negócios.

Pessoalmente isso é um dilema para mim; ser filho único me deixa como única opção de herdeiro. Costumava não pensar tanto sobre, mas esse ano eu completo a maioridade, é um ponto em que, de preferência, eu deveria ter certeza sobre o que fazer ao sair da escola, mas tudo parece chato ou legal demais para que eu escolha. Meus pais prometeram não me forçar a nada, e estão fazendo um ótimo trabalho em cumprir. Não me incomodo em acompanhá-los nesses jantares, já que não são frequentes e eles não deixam ocorrer situações desconfortáveis para mim; estão apenas fazendo seus papéis em me preparar caso essa seja minha escolha.

Saímos de casa 20 minutos antes do horário marcado. O trânsito estava relativamente tranquilo e o caminho não foi tão longo; nossa região é de bairros nobres, que ficam próximos uns dos outros, sem que precisemos pegar as avenidas do centro para chegar a algum deles.

Quando o carro estacionou, estávamos em frente a uma linda mansão, predominantemente na cor branca e com um verde gramado na entrada. Não possuía muros, o que deixava mais elegante ainda.

Um dos funcionários dos Yang se aproxima e nos conduz ao lado de dentro. Ao chegarmos na sala de estar, o casal nos recebe com alguns cumprimentos, não me deixando de fora.

Ouço passos vindos da escada, ao mesmo tempo em que a senhora da casa, que descobri chamar-se Kang Hyemin, diz: — Veja que bela coincidência! Nosso filho também estará se juntando a nós. — quando olhei para quem vinha, condenei a mim mesmo por ser tão idiota. Claro, Yang.

Jungwon fez uma reverência quando já estava perto o suficiente. Seu rosto calmo me enfureceu; trouxe a sensação de que eu não havia sido nada importante, mesmo que eu tenha lhe enfurecido o suficiente para tirá-lo do seu lugar e fazê-lo vir até mim.

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