Énouement - 1

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Eu amava amar Jungwon. De todos os momentos vividos da minha vida, nenhum foi tão intenso e genuíno como quando passei a amá-lo. Se hoje eu pudesse apostar, diria que foi amor à primeira vista.

Ao acordar em minha cama dia após dia com ele ao meu lado eu me questionava como havia sido minha vida antes de encontrá-lo. Eu era alguém? Existia mesmo? Como se passaram meus dias? É uma loucura, e até um pouco doentio essa linha de pensamento, mas não há nada que me faça abandonar.

Em cada mínimo detalhe sobre mim, sobre meus anseios, sonhos ou pequenos projetos… ele sempre estava lá. E mesmo tentando tirá-lo e impor uma nova realidade hipotética, eu não conseguia; parecia tão incomum, tão errado e criminoso imaginá-lo fora da minha vida.

Aos poucos me via sendo apenas parte dele, de tanto sobre Yang Jungwon que havia em mim.

Amá-lo era minha melhor habilidade, meu hobby favorito, minha melhor dificuldade.

Dia após dia eu refletia sobre o porquê, e em nenhum cheguei a qualquer razão concreta. Gostava de imaginar que nossas vidas estão entrelaçadas desde muitas outras anteriores. É engraçado, porque costumo julgar pessoas que acreditam nessas besteiras. Mas o que poderia explicar essa imensidão de sentimentos que me engoliram tão facilmente? Quem poderia justificar nossas idas e vindas de uma maneira racional? Nossa conexão, nossa história… Tudo dolorosamente tão bonito para ser apenas uma coincidência ou momento passageiro. Eu poderia levar meu amor por toda a vida, e até mesmo para uma outra.

Entretanto, ao mesmo tempo que me sinto tão certo, Jungwon não se sente dessa forma. É tão nítido que me mata.

Não existe dúvida alguma em meu coração sobre a sinceridade de seus sentimentos sobre mim; eu consigo ver através de seus olhos, suas atitudes… Mas Jungwon é imprevisível, incerto sobre tudo.

Além de imprevisível, Jungwon é cheio de cicatrizes abertas e recentes. Acho que meu maior ato de amor por ele é permanecer ao seu lado mesmo sabendo que ele irá me machucar todas as vezes que tentar se defender dos fantasmas que o assombram.

Medo, o medo de Jungwon é meu maior inimigo; o medo de Jungwon me assusta. Não foram poucos os momentos em que ele se escondeu por medo de ser amado, de ser importante. Acho que nesse quesito eu conseguia lê-lo: ele temia ser feito de palhaço.

Não existe resquício nenhum da confiança de Jungwon nas pessoas; ele não se deixa tentar pelo medo de fracassar. Foi por isso que ele se escondeu durante anos: se ninguém o achasse, ninguém o machucaria mais. O pior é que ele sabe que não funcionou, mas essa continua sendo sua única opção.

O quão difícil é dizer para sua mente que agora, uma única vez durante toda a sua existência, as coisas vão ser diferentes, e que você não precisa temer? Todas as suas reações de afastamento involuntárias e voluntárias, toda a sua grosseria e palavras cortantes… eu estaria aqui, entendendo todas. Tudo bem se eu me machucasse no processo, eu me resolvo, tudo certo! Mas eu jamais sairia daqui, da saída, sempre esperando pelo seu retorno, mesmo que ele nunca voltasse por conta própria e fosse eu a ir encontrá-lo.

Eu finjo não perceber que tudo isso tem um lado completamente tóxico, porque me faz feliz como eu nunca fui antes. Se Jungwon estivesse ferido, eu me cortaria também se fosse pra ajudá-lo. Isso é amar, e eu só sei amar ele.

O meu maior pesadelo era, que de uma hora pra outra tudo acabasse. Jungwon e eu temos medos e dores parecidas nessa vida, mas também me assusta.

Perseguido por meus próprios temores eu me esforcei para me levantar e ser feliz todos os dias ao lado dele, mas sempre que eu me pegava sozinho por míseros segundos meu corpo tremia ao imaginar que ele poderia fugir novamente, que eu poderia não encontrá-lo, mesmo que esse fosse o momento mais estável de toda a nossa relação.

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