Anthrodynia - 2

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Acho que, até então, essa foi a coisa mais absurda que Jungwon me fez fazer, e ele não precisou me coagir, nem muito menos oferecer a ideia. Já partia de dentro de mim pular qualquer obstáculo para ter acesso a ele, que dessa vez foi um muro, mais especificamente o da escola.

Beijar Jungwon por 15 minutos seguidos não foi o suficiente para matar toda a saudade presa dentro de mim; eu precisava ficar com ele por uma eternidade, e mesmo dessa forma talvez não fosse o suficiente. Infelizmente eu não possuía todo esse tempo, na verdade o que eu tinha era mais uma aula de 50 minutos e uma separação, cada um em uma casa. Mas eu estava em abstinência dele; precisávamos conversar, aproveitar um pouco o quanto pudéssemos juntos para compensar o tempo em que ficamos afastados.

Quando percebi, nossas bocas avermelhadas agora carregavam sorrisos largos e brilhantes, liberando risadas altas enquanto pulávamos o muro detrás da quadra de esportes onde tinha sido a educação física.

— Vem ‘Wonie! — estendi minha mão para ele, já em cima da parede, com a mochila nas costas.

— Espera! — mexeu em sua bolsa — Não troquei a blusa. — disse enquanto tirava a farda e a substituía pela que usara na aula de educação física, assim como eu já usava.

Era hilário como o sorriso de Jungwon contrastava ao extremo com seu corpo definido. Isso o deixava mil vezes mais atraente.

Assim que terminou de vestir-se, Jungwon segurou minha mão e se apoiou para passar ao outro lado comigo.

Com nossos pés do lado de fora da escola, caminhamos apressados de mãos dadas para o mais longe possível, evitando sermos reconhecidos como estudantes foragidos.

Só nos acalmamos quando avistamos uma biblioteca onde podíamos nos esconder. Acredito que minha altura tenha colaborado para que o bibliotecário não estranhasse; logo nos escondemos entre as prateleiras do segundo andar. O local estava completamente vazio.

Procuramos as estantes mais ao fundo e nos sentamos, lado a lado, jogando nossas mochilas no chão.

— Senti tanto sua falta. — ainda sorria enquanto confessava-lhe mais uma vez; levei minha palma até a dele e entrelacei nossas mãos.

— Não mais do que eu. — em um movimento rápido, Jungwon juntou nossos lábios mais uma vez no dia, calmo e delicado, sem pressa.

— É a primeira vez que você se expressa de forma cem por cento clara. — digo entre o beijo, mantendo nossa proximidade. Não evito sorrir com a conclusão.

— Acho que deveria ter sido mais claro antes. — soltou um longo suspiro.

— Não tenho problema nenhum em desvendar você, contanto que sempre esteja comigo. — com minha outra mão seguro seu rosto, deixando um carinho leve sobre a pele.

— Isso não é justo. — selo seus lábios, tentando impedir que isso se torne um diálogo sério, mas ele não continua — Eu quero ser claro; com você eu quero.

Jungwon se afasta de meu rosto e volta para a posição de antes, apenas sentado ao meu lado, sem olhar diretamente para mim e sim para o nada a frente.

— Eu te amo, Riki. — meu coração nunca vai se acostumar com essas palavras saindo da boca dele — Acho que você é a melhor pessoa que eu encontrei na vida. — Ponderei sobre falar algo em resposta, mas acreditei que ele precisava desse momento sem interrupções, por ele mesmo — Desde pequeno eu sempre fui quieto, calado… eu não conseguia permanecer em um grupo de amigos por mais de alguns dias. Acho que isso veio de casa. — ele baixou o rosto — Meus pais não me dão atenção. Eram sempre babás e os empregados da casa, para tudo. A única vez em que eles conversaram comigo foi quando eu tinha 12 anos. — por um momento ele parou, e tudo que eu consegui ouvir foi um leve fungado. Iniciei um carinho em sua mão entrelaçada à minha para tentar lhe acalmar — Foi quando eu me interessei pela dança. — Meu coração quebrou. Então eu estava certo; o buraco era muito mais fundo. — Eu tinha visto alguns idols na TV e tinha gostado bastante da dança. Achei a coisa mais incrível do mundo — deu um sorriso, mas pareceu tão amargo que doeu — então comecei a tentar. — com sua mão livre, enxugou com força a lágrima solitária que escorreu por sua face. — Fiquei tão feliz que contei pra eles. — mais lágrimas vieram; ele desprendeu sua outra mão da minha para enxugar cada uma, utilizando de uma brutalidade repleta de insensibilidade, por ele mesmo.

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