Ecstatic Shock - 2

78 11 119
                                    

Yang Jungwon traz uma sensação esquisita para os meus dias. Me sinto saudável, alegre, ansioso por partes da vida que costumo detestar, tipo ir à escola.

É uma zona; todas aquelas pessoas conversando pelos corredores e salas como se tivesse engolido um alto falante ou conectado suas línguas a caixas de som, grupos intimidando uns aos outros em locais duvidosos, o cheiro de suor e sujeira dos banheiros, o lixo pelo chão do refeitório, as intermináveis aulas de matemática e gramática coreana… como alguém pode nos fazer acreditar que somos capazes de suportar esse ambiente durante metade da nossa vida, o dia todo? É como um inferno a céu aberto, com uma porta grande pra te fazer acreditar que pode sair dali na hora que quiser, quando na verdade não pode.

Me sinto traído por mim mesmo todos os dias que me levanto da cama sem protestar com meu despertador, agindo como se gostasse de estar lá, sendo que não era pra essa ser a realidade. E isso é culpa unicamente dele.

Jungwon é como um ponto de luz no meio do caos. Ok, eu estou tentando trazer um eufemismo. Na verdade ele é assustador, mesmo com um rosto tão doce e angelical. Enquanto todos estão por aí tentando sobreviver ao maior teste que passamos na vida — o ensino médio — o Yang está numa bolha, como se nada daquilo fosse grande o suficiente para tirá-lo da sua zona de conforto. É o mesmo que dizer: ele é mais forte do que tudo isso. Ele tem todos em suas mãos. Você suspeitaria se uma pessoa comum sofresse um atentado a faca, mas desviasse de todas as investidas. É a mesma coisa.

No fim, talvez Jungwon só possua mais caos dentro de si do que o que está espalhado entre os muros da escola. Isso ainda é assustador.

A partir do momento em que ele me deixou entrar nessa bolha, acabei me conectando com sua pessoa — um processo que ainda está em andamento. Essa conexão me deixa cada vez mais imerso nele, preso a sua existência, como se ela fosse tudo que eu precisasse pra viver e pensar. Isso tem trazido alguns efeitos em mim.

Não lembro a última vez que parti em busca de uma rodinha de conversa pelos cantos da escola, ou de quando fiz uma piada para ouvir a risada das pessoas direcionada a mim. É como se ele preenchesse todas as lacunas que me levavam a isso.

Jungwon é triste, fechado para o mundo, mas ele deixa minha alma colorida e me faz sentir suficiente, pela primeira vez desde que eu consigo me lembrar. A sensação estranha de ser completo, quando você já estava acostumado a ser vazio.

Gosto de como gosto das coisas que não costumava gostar e não faço mais as coisas que costumava fazer para gostar de mim mesmo. Todavia eu detesto que Jungwon não saiba disso.

Acho que tudo que eu mais quero agora é que ele tenha conhecimento de meus sentimentos sobre ele, mesmo que sejam tão confusos quanto minha mente quando estamos próximos.

— Estava ansioso para te ver hoje. — digo enquanto o abraço após nos encontrarmos pela primeira vez no dia. Apenas vê-lo já era o suficiente para que eu trouxesse comigo um sorriso no rosto.

— Por quê? — ele retribui meu aperto. Sua pergunta vem acompanhada de uma pequena risada que faz minha barriga ganhar vida própria. É loucura o quanto meu corpo reage quando estamos juntos.

— Porque hoje é nosso primeiro ensaio. — Separo nossos corpos, agora olhando para ele diretamente. — Não sabe o quanto eu esperei por isso. — noto sua pupila dilatada no meio de sua íris castanho escuro e olhos profundos.

— Ah eu sei sim! — ele riu, provavelmente lembrando das mesmas memórias que eu. É, ele realmente sabe. Ri também, sendo contagiado por ele — Eu também estou ansioso, Riki. Talvez tanto quanto você. — Não evito sorrir com sua confissão. Jungwon não é de se expressar verbalmente, então eu não posso mentir dizendo que não me sinto melhor quando ele faz isso. É uma confirmação de que não estou sentindo tudo sozinho.

SonderOnde histórias criam vida. Descubra agora