Altschmerz - 2

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A felicidade é a pior coisa que um ser humano pode experimentar. Ela te envolve, te torna próximo dela, te preenche. Você passa a amá-la, mas ninguém te prepara pro dia que ela vai partir seu coração, indo embora.

Sua alma, antes completa, se torna necessitada. É duas vezes pior do que antes, quando você não a tinha, porque agora você se acostumou, e não consegue suportar viver vazio novamente.

Se eu pudesse apostar, diria que Jungwon e felicidade se tornaram sinônimos desde o primeiro dia, na sala do clube de dança, quando o vi dançar pela primeira vez. Eu nunca conseguirei entender como alguém tão triste pode me fazer tão feliz.

Talvez isso seja uma maldição para ele, e talvez eu também tenha a minha.

Viver com Jungwon nos últimos tempos abriu meus olhos para o mundo de uma forma mais empática. Me envolvi em sua vida e seus sentimentos de um modo tão grande que foi inevitável não mudar, pelo menos um pouco. E eu já havia mudado antes de amá-lo.

Me importava com seus sentimentos, queria entender seus porquês, sentia vontade de ajudá-lo, não suportava a ideia de vê-lo ir embora. E começou a doer, em algum momento, que eu acredito também ter sido aquele primeiro.

Tive muito tempo para pensar; todos esses dias — que se transformaram em duas semanas — sem ele não me deram opção de escape. Fui condenado ao tormento de minha própria mente; ela queria se vingar por todo o tempo em que estive bem. Me esforçava para acreditar que nada tinha mudado, que eu poderia seguir lidando com isso do mesmo jeito que lidava antes da chegada de Jungwon em minha vida, mas eu, minha mente e meu coração sabia que era mentira. Tudo tinha mudado.

Uma boa família, rica e amorosa, extroversão, talento para alguma arte, conhecer dois idiomas. Eu nasci com a vida perfeita, mas não consegui encontrar felicidade mesmo assim, mesmo que ela estivesse supostamente em uma bandeja à minha frente. E eu tentei, por anos e anos tentei encontrar algo que me fizesse feliz e completo, mas tudo sempre era pouco demais e escorria das minhas mãos.

Esse era o momento pelo qual mais tinha buscado em toda minha vida, e eu estraguei tudo por puro medo e insegurança. A imagem de Jungwon me olhando confuso é a tortura infinita que tenho sofrido desde então. Não consigo me perdoar.

Porque Jungwon não era um objeto com o qual eu brincava para me sentir melhor com a minha existência vazia, ele é uma pessoa! Ele é a pessoa que coincidentemente me fazia feliz, que confiava em mim para não magoá-lo, mas foi exatamente isso que eu fiz. E mais além disso, ele é a pessoa que meu coração ama e encontrou conforto sincero.

Todas as minhas crises, meus choros constantes, pesadelos e alma afundada eram pouco pro que eu mereço. Toda a solidão que se apossou de mim é justo, e dói, dói não poder negar nada disso.

As últimas coisas que me restaram dele foram os vídeos que me enviara, quando estávamos iniciando nossa coreografia, e o terraço, que agora, com apenas eu aqui, parecia estar sem vida há muito tempo. Mas eu ainda conseguia ver no canto das paredes, se escondendo de mim, as memórias de nós dois, juntos, dançando lado a lado, nos abraçando, mergulhando no olhar um do outro, nos beijando, nos completando.

De toda minha vida, as duas últimas semanas foram as piores que já vivi. Para cada lugar que eu olho nessa escola existe um pouco dele, principalmente na nossa sala, onde nos vemos todos os dias. O universo também estava se divertindo com os pedaços do meu coração; fazia questão de me fazer encontrá-lo com Minji vez ou outra no refeitório, quase todos os dias.

Era pra eu estar ali. Será que ele sente minha falta? Será que ele gosta dela tanto quanto gostou de mim? Será que ele me odeia? Será que ele sorri tanto para ela igual sorria pra mim? Será que ela já sentiu o cheiro do cabelo dele? Será que eles já se abraçaram? Será que eu vou conseguir superar?

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