❝ I've been a lot of lonely places
I've never been on the outside ❞Recomecei minha nova vida colocando-me de pé, envolvida pela escuridão fria e pelo ar poeirento e rançoso. Um tremor súbito abalou o piso sob meus pés, metal rangendo contra metal. O movimentando inesperado fez com que eu caísse abruptamente, e eu recuei, engatinhando, ofegante. Minhas costas se chocaram contra uma parede rígida metálica, e esgueirei-me, colando-me nela até chegar a um canto do compartimento. Encolhi minhas pernas de encontro ao meu corpo, esperançosa de que meus olhos se acustumariam em breve com a escuridão.
Com mais um solavanco, o compartimento moveu-se bruscamente para cima, como um velho elevador num poço de mina. Sons ásperos de correntes e polias, como ruídos de uma velha usina de aço em funcionamento, ecoaram pelo compartimento, abalando as paredes com um lamento vazio e distante. O elevador sem luz oscilava, me causando náuseas, e um cheiro semelhante ao de óleo queimado invadia-me os sentidos, fazendo-me sentir ainda pior. Eu quis chorar, mas as lágrimas não eram capazes de alcançarem meu rosto, e o que me restava era ficar sentada, sozinha, esperando para que algo acontecesse.
De repente, com um rangido seguido de um novo tranco, o compartimento ascendente estancou, a súbita mudança tirou-me de onde eu estava, e me jogou firmemente sobre o chão duro. Forcei-me à levantar, percebendo que, aos poucos, o tremor diminuía debaixo de meus pés, até que finalmente parou, e tudo simplesmente mergulhou em silêncios. Poucos minutos agonizantes se passaram, assim como toda a vida esquecida em minha memória também, apenas fragmentos de algo que eu não consigo me recordar. Gemi baixo, frustrada e com dor. O eco da minha voz amplificou-se no silêncio, como o lamento fantasmagórico da morte. Os ruídos foram sumindo aos poucos e o silêncio quase perdurou, se não fosse o ranger acima de minha cabeça que sobressaltou-se, abrindo o teto do compartimento. E então a náusea se tornou uma fraqueza, e minhas pernas amoleceram até que eu caísse no chão.
기쁨ㅤ
Um misto de confusão e raiva tomava meu peito. Eu estava correndo contra meus próprios pés, que pareciam cansados de andar, sem ao menos saírem do chão. Eu ouvia aqueles sons assombrosos e os rangidos altos tilintando acima de mim. Minha confiança parecia diminuir a cada suspiro pesado, e imaginei que fosse perder absolutamente todos meus sentidos. Meus olhos percorreram a estrutura daquele corredor, largo e comprido, com luzes fracas piscando e uma sombra se aproximando pelas paredes, tornando-se cada vez maior. A sensação era como a de uma mão apertando meu pescoço, sufocando-me até que o ar desaparecesse por completo, e então apertei meus olhos, crendo veemente que com isso tudo desapareceria.
E desapareceu.
Um suspiro pesado ressoou de meus lábios quando abruptamente me levantei na cama, sentindo meu fôlego retomar aos meus pulmões consecutivamente. Minha mente estava turva de medo e confusão, mas ao olhar em minha volta, notei diversos rostos que pairavam plenamente os olhos sobre mim, curiosos, talvez assustados, todos garotos. Senti meus lábios trêmulos e apertei o cobertor contra mim, um som agudo perseguia-me mentalmente, inibindo qualquer som que viesse da boca deles, estava surda e cega pelo medo. Tateei as mãos pelos lados, procurando por algo firme, uma superfície a qual eu poderia me apoiar. Coloquei as mãos ao encontrar-me tocando em uma pequena mesa de madeira e impulsionei meu corpo para levantá-lo, e como naquelas imagens que invadiam minha cabeça, minhas pernas, ao contrário do que faziam, correram como se minha vida dependesse disso, e de fato, parecia depender.
Saí do lado de fora, ainda ouvindo o som agudo e as batidas aceleradas em meu peito. Parei diante daquele vislumbre, vendo a luz do sol, o gramado, as cabanas, os portões. Portões esses que estavam abertos. Eu não sabia quem eu era, não sabia o que estava fazendo ou onde estava, mas sentia em meu interior que era hábil e rápida, logo não hesitei em correr. Os portões me levariam à saída, certo? Todos os portões levam à alguma, ao menos disso eu sei, ao menos alguma coisa minha mente consegue bobinar. Os gritos atrás de mim pareciam abafados e distantes, e eu parecia querer ignorá-los, por mais que chegasse o momento em que fosse inevitável.
Minhas pernas vacilaram por um momento e tremulei, parando diante dos portões, com o corpo estirado na direção do concreto frio. Um gemido baixo doloroso exprimiu-se de meus lábios, e forcei-me a levantar, batendo as mãos na roupa. Olhei para trás, notando que os mesmos garotos observadores e cautelosos que estavam aos arredores da cama a qual me deitei, corriam em minha direção. Um deles estendia a mão, sinalizando que eu parasse. Seus cabelos reluziam um brilho dourado familiar com a luz do sol, sua expressão ávida para que eu parasse. Pensei em me virar e correr na direção dos portões, mas agora parecia incerto. E foi como se meus sentidos falhassem, de novo.
Ainda que eu não ouvisse a voz de ninguém, somente o estrondo agudo perfurando-me os tímpanos, sabia que não era seguro prosseguir, ainda estava em meu senso, e deixei que se aproximassem. O ar parecia ser retomado aos poucos e o som cada vez menos abafado se fazia presente em meus ouvidos. Procurei suavizar minha expressão, ainda que respirasse profundamente. O mesmo loiro, caminhava em minha direção, sempre com a mão à frente, trazendo-me a sensação de que eu era um animal que precisasse de domesticação. Agachei-me no chão, pegando uma pedra próxima ao meu pé, impedindo-o de dar mais um passo que fosse em uma direção.
Atirei a pedra contra seu rosto, fazendo-o cambalear para trás. Recuei um passo quando os outros tentaram progredir e coloquei as mãos nos ouvidos, somente querendo gritar. Aquele som era insuportável, e ainda que agora eu pudesse ouvir as vozes, um apito agudo zunia de forma alarmante dentro de mim, até eu cair de joelhos, tomada por uma dor incessante e agonizante. Mas não poderia fechar os olhos, não quando poderia estar correndo o risco de me machucarem.
— Faça parar — Murmurei com os lábios trêmulos, apertei minhas mãos contra minha cabeça, sentindo o som cada vez mais alto, e um grito sôfrego escapa de meus pulmões — Alguém faça isso parar!
— Ei, por favor, se acalma. Ninguém aqui vai machucar você. — Ele passou a mão em seu rosto, que tinha um evidente corte na bochecha pela pedra ligeiramente atirada contra ele. Suspirou pesadamente e se aproximou mais, ajoelhando-se diante de mim, com uma expressão indecifrável. Seus olhos foram de encontro aos meus, verdadeiramente olhos familiares, e segurou meus ombros tão rapidamente que não tive tempo de reagir — Não vou deixar ninguém machucar você. Você está segura aqui, trolha.
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𝗗𝗨𝗦𝗞 𝗧𝗜𝗟𝗟 𝗗𝗔𝗪𝗡 || Maze Runner - Newt
RomanceAtordoada, completamente desolada e sem conhecimento algum de meu passado. Cheguei àquele lugar completamente assustada, sem me recordar até mesmo de meu próprio nome quando cheguei. Estava rodeada de garotos, garotos que eu não queria confiar, mas...