𝟬𝟬𝟭. 𝗙𝘂𝘀𝗼 𝗖𝗼𝗻𝗳𝘂𝘀𝗼

1.3K 134 68
                                    

❝ I've been a lot of lonely places
I've never been on the outside

Recomecei minha nova vida colocando-me de pé, envolvida pela escuridão fria e pelo ar poeirento e rançoso

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Recomecei minha nova vida colocando-me de pé, envolvida pela escuridão fria e pelo ar poeirento e rançoso. Um tremor súbito abalou o piso sob meus pés, metal rangendo contra metal. O movimentando inesperado fez com que eu caísse abruptamente, e eu recuei, engatinhando, ofegante. Minhas costas se chocaram contra uma parede rígida metálica, e esgueirei-me, colando-me nela até chegar a um canto do compartimento. Encolhi minhas pernas de encontro ao meu corpo, esperançosa de que meus olhos se acustumariam em breve com a escuridão.

Com mais um solavanco, o compartimento moveu-se bruscamente para cima, como um velho elevador num poço de mina. Sons ásperos de correntes e polias, como ruídos de uma velha usina de aço em funcionamento, ecoaram pelo compartimento, abalando as paredes com um lamento vazio e distante. O elevador sem luz oscilava, me causando náuseas, e um cheiro semelhante ao de óleo queimado invadia-me os sentidos, fazendo-me sentir ainda pior. Eu quis chorar, mas as lágrimas não eram capazes de alcançarem meu rosto, e o que me restava era ficar sentada, sozinha, esperando para que algo acontecesse.

De repente, com um rangido seguido de um novo tranco, o compartimento ascendente estancou, a súbita mudança tirou-me de onde eu estava, e me jogou firmemente sobre o chão duro. Forcei-me à levantar, percebendo que, aos poucos, o tremor diminuía debaixo de meus pés, até que finalmente parou, e tudo simplesmente mergulhou em silêncios. Poucos minutos agonizantes se passaram, assim como toda a vida esquecida em minha memória também, apenas fragmentos de algo que eu não consigo me recordar. Gemi baixo, frustrada e com dor. O eco da minha voz amplificou-se no silêncio, como o lamento fantasmagórico da morte. Os ruídos foram sumindo aos poucos e o silêncio quase perdurou, se não fosse o ranger acima de minha cabeça que sobressaltou-se, abrindo o teto do compartimento. E então a náusea se tornou uma fraqueza, e minhas pernas amoleceram até que eu caísse no chão.

기쁨ㅤ

Um misto de confusão e raiva tomava meu peito. Eu estava correndo contra meus próprios pés, que pareciam cansados de andar, sem ao menos saírem do chão. Eu ouvia aqueles sons assombrosos e os rangidos altos tilintando acima de mim. Minha confiança parecia diminuir a cada suspiro pesado, e imaginei que fosse perder absolutamente todos meus sentidos. Meus olhos percorreram a estrutura daquele corredor, largo e comprido, com luzes fracas piscando e uma sombra se aproximando pelas paredes, tornando-se cada vez maior. A sensação era como a de uma mão apertando meu pescoço, sufocando-me até que o ar desaparecesse por completo, e então apertei meus olhos, crendo veemente que com isso tudo desapareceria.

E desapareceu.

Um suspiro pesado ressoou de meus lábios quando abruptamente me levantei na cama, sentindo meu fôlego retomar aos meus pulmões consecutivamente. Minha mente estava turva de medo e confusão, mas ao olhar em minha volta, notei diversos rostos que pairavam plenamente os olhos sobre mim, curiosos, talvez assustados, todos garotos. Senti meus lábios trêmulos e apertei o cobertor contra mim, um som agudo perseguia-me mentalmente, inibindo qualquer som que viesse da boca deles, estava surda e cega pelo medo. Tateei as mãos pelos lados, procurando por algo firme, uma superfície a qual eu poderia me apoiar. Coloquei as mãos ao encontrar-me tocando em uma pequena mesa de madeira e impulsionei meu corpo para levantá-lo, e como naquelas imagens que invadiam minha cabeça, minhas pernas, ao contrário do que faziam, correram como se minha vida dependesse disso, e de fato, parecia depender.

Saí do lado de fora, ainda ouvindo o som agudo e as batidas aceleradas em meu peito. Parei diante daquele vislumbre, vendo a luz do sol, o gramado, as cabanas, os portões. Portões esses que estavam abertos. Eu não sabia quem eu era, não sabia o que estava fazendo ou onde estava, mas sentia em meu interior que era hábil e rápida, logo não hesitei em correr. Os portões me levariam à saída, certo? Todos os portões levam à alguma, ao menos disso eu sei, ao menos alguma coisa minha mente consegue bobinar. Os gritos atrás de mim pareciam abafados e distantes, e eu parecia querer ignorá-los, por mais que chegasse o momento em que fosse inevitável.

Minhas pernas vacilaram por um momento e tremulei, parando diante dos portões, com o corpo estirado na direção do concreto frio. Um gemido baixo doloroso exprimiu-se de meus lábios, e forcei-me a levantar, batendo as mãos na roupa. Olhei para trás, notando que os mesmos garotos observadores e cautelosos que estavam aos arredores da cama a qual me deitei, corriam em minha direção. Um deles estendia a mão, sinalizando que eu parasse. Seus cabelos reluziam um brilho dourado familiar com a luz do sol, sua expressão ávida para que eu parasse. Pensei em me virar e correr na direção dos portões, mas agora parecia incerto. E foi como se meus sentidos falhassem, de novo.

Ainda que eu não ouvisse a voz de ninguém, somente o estrondo agudo perfurando-me os tímpanos, sabia que não era seguro prosseguir, ainda estava em meu senso, e deixei que se aproximassem. O ar parecia ser retomado aos poucos e o som cada vez menos abafado se fazia presente em meus ouvidos. Procurei suavizar minha expressão, ainda que respirasse profundamente. O mesmo loiro, caminhava em minha direção, sempre com a mão à frente, trazendo-me a sensação de que eu era um animal que precisasse de domesticação. Agachei-me no chão, pegando uma pedra próxima ao meu pé, impedindo-o de dar mais um passo que fosse em uma direção.

Atirei a pedra contra seu rosto, fazendo-o cambalear para trás. Recuei um passo quando os outros tentaram progredir e coloquei as mãos nos ouvidos, somente querendo gritar. Aquele som era insuportável, e ainda que agora eu pudesse ouvir as vozes, um apito agudo zunia de forma alarmante dentro de mim, até eu cair de joelhos, tomada por uma dor incessante e agonizante. Mas não poderia fechar os olhos, não quando poderia estar correndo o risco de me machucarem.

— Faça parar — Murmurei com os lábios trêmulos, apertei minhas mãos contra minha cabeça, sentindo o som cada vez mais alto, e um grito sôfrego escapa de meus pulmões — Alguém faça isso parar!

— Ei, por favor, se acalma. Ninguém aqui vai machucar você. — Ele passou a mão em seu rosto, que tinha um evidente corte na bochecha pela pedra ligeiramente atirada contra ele. Suspirou pesadamente e se aproximou mais, ajoelhando-se diante de mim, com uma expressão indecifrável. Seus olhos foram de encontro aos meus, verdadeiramente olhos familiares, e segurou meus ombros tão rapidamente que não tive tempo de reagir — Não vou deixar ninguém machucar você. Você está segura aqui, trolha.

 Você está segura aqui, trolha

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
𝗗𝗨𝗦𝗞 𝗧𝗜𝗟𝗟 𝗗𝗔𝗪𝗡 || Maze Runner - NewtOnde histórias criam vida. Descubra agora