𝗗𝗨𝗦𝗞 𝗧𝗜𝗟𝗟 𝗗𝗔𝗪𝗡 || Maze Runner - Newt

𝟬𝟮𝟯. 𝗗𝗼𝗻'𝘁 𝘁𝗮𝗹𝗸 𝘁𝗼 𝗺𝗲

❛❛ The temperature's rising in here
Is this gonna happen? ❜❜

Eu o deixei sozinho depois de simplesmente me abrir, o que isso significa? É difícil entender o que exatamente anda me movendo, mas consigo afirmar com certeza de que é irritante, o que Newt me faz sentir e a forma como ele me faz agir, é extremamente irritante. É como se eu não soubesse exatamente o que dizer ou fazer, como se tudo em volta desaparecesse por completo. Eu sei o que isso deveria significar, mas eu me recuso a crer firmemente de que estou alimentando qualquer tipo de sentimento romântico por ele. Só uma noite. É só esquecer.

No momento em que eu saí da cozinha, não o encontrei em momento algum, muito provavelmente depois da cena constrangedora que causei, ele não queria topar meu caminho, e então jantaria mais tarde, assim que me visse entrando no quarto. Eu só precisava descansar, esfriar a cabeça e esquecer absolutamente o quão longo o dia parece ter sido. O presenteei com um colar, disse coisa que eu jamais admitiria facilmente da boca para fora e fugi. Talvez nos próximos dias eu deva me manter distante o suficiente para que nenhum de nós entenda como o que aconteceu tenha sido mais do que apenas sexo. Não quero aceitar, não posso aceitar. Não agora. Ele é Newt, e eu Moon, pessoas tão distintas poderiam estar destinadas a se apaixonar com seus caminhos trilhados em poucos dias? Parece-me improvável.

Assim que abri lentamente a porta, suspirei pesadamente ao vê-lo descalçando os sapatos, ele realmente não pretendia voltar sabendo que eu estaria lá? Não sei qual de nós é mais confuso, mas é inegável que o que estamos fazendo é no mínimo sem sentido, é só tratá-lo como um dos fedelhos, conversar normalmente, sem comentários sobre qualquer acontecimento passado, e seguir em frente. Não pode ser tão difícil interagir com alguém que você transou recentemente, certo? As pessoas... Fazem isso o tempo todo, eu acho. Quer dizer, não é como se eu lembrasse.

— Não vai jantar? — Perguntei enquanto fechava a porta e me direcionava até a cama. Minha voz esvaíra por um fio, e parecera quase inaudível. Estava me odiando no momento por acreditar ser tão difícil conversar com ele, ainda mais, olhando em seus olhos — Frango grelhado e repolho refogado, diretamente da sua horta, fazendeiro.

— Eu não estou com tanta fome — Newt se virou na minha direção, me encarando por alguns segundos. A expressão dele não denunciava nada, nenhuma emoção sequer, o que era ainda mais confuso. Mas ele abaixou o olhar poucos segundos depois se virando pra frente de novo. — Você é a única pessoa no mundo que consegue fazer os trolhos comerem repolho — Senti um leve tom de brincadeira em sua voz. — Mas hoje eu passo. Estou pensando demais pra conseguir ter fome.

Pensando demais? Isso confirmava todas as minhas dúvidas de que um confundia o outro de alguma maneira. Para ser sincera, eu entendi todos os seus sinais, todas suas provocações, sua evidente crise de ciúmes por causa da aposta, o fato dele ter desejado me beijar espontaneamente, e depois de uma única noite, o que deveria ter sido uma promessa, ele contou a mim algo que não tenho certeza se confidenciaria a muitos outros que não fossem de sua confiança. Eu estou confusa, e talvez, eu seja o único motivo por ele se sentir da mesma forma, mas eu não quero e nem posso fazer nada. Não agora.

Engoli em seco, sentindo as batidas de meu coração acelerarem quando um alto som de trovão estrondou pela clareira, sabia que uma violenta chuva estava por vir, e eu não me lembro exatamente se já tive medo disso antes, mas eu sentia que seria assombrada pelo resto da noite por pesadelos se tivesse os trovões como fundinho musical. Alguns fragmentos de memórias voltam-se para um dia em que chovia muito, eu estava imersa, afogando-me. Não consigo me lembrar do porquê, e nem onde ou com quem eu estava. Só sei que é assustador, e pensar que poderia reviver aquilo agora, faz com que meu corpo todo estremeça.

— Sei que está pensando demais pela forma como eu estou agindo — Não sou burra, e muito menos babaca para não admitir que estava o confundindo até demais da conta —, mas eu não quero discutir isso agora. Apenas me deixe dormir com você essa noite, Newie, por favor.

Newt ficou parado alguns segundos e então se virou em minha direção, suas sobrancelhas estavam levemente franzidas e ele parecia extremamente confuso, como se algo tivesse o perturbado novamente. Outro trovão soou alto do lado de fora e então Newt olhou em volta, sua expressão suavizando, enquanto a minha parecera ainda mais aterrorizada, então apenas respirei fundo. Entenderia se ele não quisesse.

— Vem cá — Ele deu leves batidinhas no espaço da cama ao lado dele, como se me desse permissão pra me deitar. — Newie... Tenho a impressão de que não é a primeira vez que alguém me chama assim — Ele comenta, puxando os lençóis pra que eu pudesse deitar.

Me senti como uma criança mimada, e abri um largo sorriso antes de caminhar na direção da cama, deitando-me rapidamente à cama e imergindo dentre os cobertores, eu tinha uma estranha sensação de que seria uma noite fria, e confesso, essa proximidade era mais que necessária. É preciso o toque humano daqueles que confiam quando se sente na completa escuridão, e então, ele será capaz de trazer a luz consigo, e também, o calor. Quando o vi também se deitar, virei-me em sua direção, apoiando o rosto na mão.

— Não me diga que sou só eu que tem a estranha sensação de já te conhecer — Ponderei, molhando os lábios. O rosto dele, desde o momento em que abri os olhos nesse lugar, parecera familiar, e eu sabia que ao menos uma vez, já o tinha encontrado antes daqui. Assim como Daon tinha uma familiaridade estranha, Newt também tem, então de fato nós possamos ter nos encontrado antes daqui — Você é... Familiar.

— Eu também tenho essa sensação às vezes, acho que por isso reagi daquela forma quando você me entregou o colar, foi uma situação extremamente familiar — Newt respirou fundo e me cobriu com os lençóis, se deitando logo depois. Os olhos dele se mantiveram fixos no teto por um tempo até me encararem novamente. — Eu não tinha tido essa sensação de familiaridade antes. Foi estranho. — Ele ficou me encarando por alguns segundos, sua mão se ergueu levemente para retirar um pouco de cabelo que caia no meu rosto e depois ele afastou a mão novamente, fechando os olhos e soltando um suspiro cansado. — Você também é familiar pra mim.

— Talvez seja por isso que eu não consiga me afastar de você.

Afirmei com uma profunda sinceridade, antes de me virar em sua direção oposta, sentindo que estava cansada demais para prolongar o assunto, ciente de que desde que cheguei, fora quase impossível dormir uma única noite inteira, então eu definitivamente precisava desse descanso, e sentia que se ele estivesse por perto, por algum motivo, estaria segura.